Na casa da chef Mayra Abbondanza Abucham, mãe de quatro crianças, as refeições em família envolvem um ritual: desde a elaboração do cardápio da semana até a produção das receitas, Pedro, 9 anos, Julia, 7, e Francisco, 2, participam ativamente do processo. O caçula, Felipe, de 4 meses, fica de fora, mas só por enquanto. A estratégia surgiu para tentar resolver o drama de fazer a turma se alimentar direito, sem cara feia. E surtiu efeito. Depois que Mayra passou a levar a prole para a cozinha, quase por encanto a garotada começou a limpar o prato. Hoje, todos encaram na boa até as saladas. Segundo Mayra, as dificuldades nessa área acabaram a partir do momento em que ela deixou de tratar a questão como um problema. “Uma vez que incluem a sua escolha no menu, eles tomam conhecimento dos nutrientes e do modo de preparo, ficam curiosos e mais dispostos a experimentar”, explica. “A relação da criança com a comida tem de ser assim: educativa e lúdica.”
Essa bagagem doméstica, somada ao trabalho de cinco anos na cozinha da Dedo de Moça, uma assessoria gastronômica com pegada saudável, serviu de inspiração para que, em maio deste ano, Mayra lançasse o livro O que Fazer para Meu Filho Comer Bem? (128 páginas, 65 reais, Editora DBA), no qual ela compartilha com as leitoras suas experiências. A repercussão do trabalho rendeu dois frutos: um quadro no programa Bem Estar, da Globo, e a Dedinho de Moça, versão da consultoria voltada para as crianças, inaugurada em setembro. Com isso, a chef virou uma espécie de “supernanny da papinha”.
Entre os serviços que oferece na nova empresa, a elaboração de cardápio personalizado com livrinho de receitas (1 250 reais) é um dos mais requisitados pelas mães. A partir de uma entrevista, a chef cria um menu equilibrado e de acordo com o gosto da família, mais uma cartilha com sugestões de pratos cujo tempo de preparo caiba na rotina do cozinheiro da casa. Ela também oferece outros tipos de pacote, como acompanhar a cliente na feira e convidá-la para um almoço com outras mães que têm problemas semelhantes, para uma troca de experiências (1 827 reais).
O assunto vem ganhando cada vez mais relevância devido ao maior grau de conscientização sobre uma questão séria: atualmente, 26% das crianças com idade entre 2 e 9 anos em São Paulo sofrem de obesidade, segundo pesquisa do Instituto do Coração (Incor) feita em parceria com a editora LatinMed. Criado em 2009, o portal Comer para Crescer virou uma referência por aqui nas questões que envolvem alimentação para crianças. O site conta hoje com uma audiência de 105 000 visitantes únicos por mês. Na capital, outra profissional que atua como consultora na área é a nutricionista Camila Podete Luiz, da empesa Nutri Materno. “Gosto de marcar as entrevistas perto da hora do jantar para observar o comportamento da família como um todo durante as refeições”, diz ela, que cobra 350 reais por um pacote de serviços que inclui dicas de reeducação alimentar, elaboração de cardápio e sugestão de receitas.
Uma de suas clientes mais antigas, apesar da pouca idade, é Isabela Araújo Schimidt, de 2 anos e 9 meses. A mãe contratou a especialista depois de matricular a criança na escola, no fim de sua licença-maternidade. Na ocasião, Isabela tinha apenas 4 meses. “O acompanhamento me ensinou como apresentar a comida a ela, a melhor maneira de servir e o jeito certo de cozinhar”, conta Maíra Schimidt. Quem mais sofreu com a mudança de cardápio foi o casal. “Às vezes somos nós que comemos certos alimentos à força, mas é proibido fazer cara feia na frente da Isabela”, brinca.