Presente quase todas as sextas-feiras desde 2009 na altura do número 500 da Rua Treze de Maio, no Bixiga, a roda de samba que reunia experientes músicos do grupo Madeira de Lei está calada desde o mês de março deste ano.
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Alegando diversas queixas de vizinhos devido a desrespeitos da lei do silêncio e de fechamento de vias, a Subprefeitura da Sé determinou que as apresentações não podem mais ser feitas em via pública. “Sempre tivemos autorização e os vizinhos nunca reclamaram”, afirma Carla Borges, 47 anos, produtora do grupo.
Ela conta que os problemas começaram em 2018, com a chegada do padre Antonio Bogaz para comandar a igreja Nossa Senhora Achiropita, também na Treze de Maio. Ele seria o pivô de uma reunião que contou com a presença de alguns integrantes do então conselho de segurança e uma associação do bairro.
“Engraçado é que a turma nasceu na igreja, da reunião de um grupo de jovens, e já chegamos a tocar no altar”, lembra Namur Scaldaferri, 63 anos, um dos fundadores do Madeira de Lei e também da ala de compositores da Vai-Vai. Ele disse que o samba só começava após a realização das missas.
Procurado para comentar o assunto, o padre Bogaz afirmou não ter nenhuma relação com o que aconteceu com o grupo. “Não sou um dos lados dessa história”, disse. Por ser feita numa calçada em frente a um bar, a roda de samba raiz do grupo Madeira de Lei, conhecida como Samba da Treze, não cobrava pelas apresentações. Elas ficaram suspensas durante a pandemia.
Com o atual veto, o grupo passou a se apresentar em outros endereços, só que cobrando ingressos e dentro dos estabelecimentos, a fim de evitar problemas. Um abaixo-assinado para a volta da roda ao local original já conta com 2 000 assinaturas. Carla diz que tentou marcar reuniões com o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, coronel da reserva da PM, para discutir a questão, inclusive com a intermediação do vereador Toninho Vespoli (PSOL).
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A proposta é atender a todas as obrigações necessárias e fazer ao menos dez apresentações anuais no antigo endereço na Treze de Maio, o que também foi rejeitado. Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, Salles alega que as queixas recebidas se referem a bloqueios nas calçadas, interrupção do tráfego e barulho excessivo.
Pelos dados apresentados pela subprefeitura, a quantidade de protocolos abertos no 156 (o telefone de serviços da prefeitura) contra a roda de samba passou de 34 em 2019 para 48 em 2020. Só neste ano já são 38.
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Publicado em VEJA São Paulo de 27 de abril de 2022, edição nº 2786