Rio2C destaca tendências e bastidores da indústria criativa com convidados internacionais
Evento na capital carioca reuniu mais de 2 mil palestrantes, incluindo produtora de Pedro Almodóvar e roteirista de 'Cem Anos de Solidão'; leia entrevistas

Os olhares da indústria criativa voltaram-se para o Rio de Janeiro na semana passada. De terça (27) a domingo (1°), a capital fluminense recebeu o Rio2C (Rio Creative Conference), na Cidade das Artes. A programação contou com mais de 2 000 palestrantes e players, incluindo 130 internacionais, de 39 países, em 21 palcos simultâneos.
Os representantes compartilharam conhecimentos sobre tendências e bastidores de áreas como cinema, música, moda, literatura, games, meio ambiente, educação e tecnologia. Mais de 55 000 pessoas circularam pelo complexo arquitetônico projetado pelo arquiteto francês Christian de Portzamparc.
Com o tema “No Limiar da Perfeição”, a ideia era abordar o contraste entre tecnologia e humano. “É uma provocação sobre a promessa de perfeição digital versus a imperfeição humana”, comenta Rafael Lazarini, CEO do Rio2C. “Falamos sobre questões em voga, como inteligência artificial, dos seus impactos na produção criativa até aspectos éticos de regulamentação.”
Grandes nomes da televisão passaram pelos palcos, com anúncios inéditos. Boninho protagonizou uma palestra ao lado do pai, Boni, comentou sobre sua nova casa, o SBT, e revelou “namoros” com Disney e Amazon Prime Video, após saída da TV Globo. Em painel da HBO Max, Adriane Galisteu anunciou série documental sobre “seu lado da história” com Ayrton Senna. Em apresentação da Globo, Deborah Secco revelou que lançará o programa Terceira Metade na emissora, sobre não monogamia.
Um destaque internacional foi Esther García, executiva da El Deseo, produtora do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. O filme mais recente do diretor foi O Quarto ao Lado (2024), seu primeiro longa totalmente em inglês. Em entrevista à Vejinha, Esther conta que, na verdade, os mais difíceis foram os primeiros. “Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos a paixão, a juventude e o desejo de contar histórias.”

Para ela, o mais complicado foi A Lei do Desejo (1987), “um filme muito arriscado para uma Espanha tão retrógrada como a daquela época”. “Às vezes é difícil criar diálogos de forma intelectualizada. O cinema faz um trabalho, quase político, de mobilização”, acrescenta.
“Sinto que, como produtores e criadores, temos a obrigação de apresentar uma postura política. Viver é político.”
Esther García, da El Deseo
A questão sociopolítica também pautou as falas do produtor-executivo Diego Ramírez e da roteirista Camila Brugés, da série Cem Anos de Solidão (2024), da Netflix. “Se somos colombianos e estamos fazendo o projeto colombiano mais icônico que existe, também temos a responsabilidade de promover o talento colombiano”, diz Ramírez.
Para ele, o sucesso da produção é “uma confirmação de que na América Latina é possível fazer conteúdo com qualidade à altura de Estados Unidos e Europa”.

Sobre a segunda temporada, a roteirista dá uma prévia: “A família se renova. Há muitos personagens novos, o foco muda para os descendentes. Com a maldição, a geração seguinte cai nas mesmas armadilhas, na mesma violência, na mesma incapacidade de amar até o fim”.
Questionado sobre a percepção do Brasil no país, Ramírez aclama a produção nacional: “O cinema brasileiro sempre foi uma referência não só na região, mas globalmente. Vejo isso não só com diretores, mas com músicos também. É um país com uma riqueza criativa gigantesca”.
A próxima edição do Rio2C já tem data: 26 a 31 de maio de 2026.
Publicado em VEJA São Paulo de 6 de junho de 2025, edição nº 2947