O empresário Alexander de Almeida, de 39 anos, não faz parte do time das celebridades da capital. No universo das melhores casas noturnas daqui, porém, ele recebe tratamento digno de estrela. É conhecido como um dos paulistanos que mais esbanjam dinheiro nesse circuito boêmio. Costuma chegar a endereços como a boate Pink Elephant, no Itaim, acelerando sua Ferrari avaliada em 1,2 milhão de reais. Do carro de trás, um Porsche Cayenne, saem três seguranças particulares. Na volta para casa, um dos profissionais assume o volante da Ferrari. Todos eles entram sem passar por revista e se dirigem diretamente para o principal camarote,com capacidade para vinte pessoas.
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Em uma balada recente por lá, o relógio marcava 0h30 e a pista ainda estava começando a encher quando a turma apareceu. “Hoje você vai ver o que é uma festa de verdade”, anunciou Almeida, enquanto mostrava no aplicativo Instagram algumas fotos de seu universo particular: casa de praia no Guarujá (“A Sabrina Sato gravou por lá para o programa Pânico na TV ”), viagem ao Rio em avião fretado (“Mais conforto, esquema top e sem fila”) e imagens em outras noitadas, muitas noitadas.
Ele abre os trabalhos, digamos assim, pedindo cinco garrafas de champanhe Veuve Clicquot e duas de vodca Cîroc, além de latinhas de energético. Aos poucos, algumas meninas começam a rondar. Vão se acomodando na mesa e, as mais espertas, cumprimentam o dono do pedaço como se fossem velhas amigas, mesmo sem conhecê-lo. Um promoter chega ainda com mais moças. Como em um passe de mágica, Almeida, que tem mais pinta de personagem de comédia adolescente americanana linha American Pie do que de Cauã Reymond, parece virar um galã global, tamanho o assédio ao seu redor. “Não vou ser hipócrita, gasto dinheiro para chamar a atenção das gatas”, assume. “E tem uma coisa: eu gosto de vodca, mas elas ficam impressionadas mesmo é com champanhe.”
Para comprovar sua tese, ele estala os dedos, chama a garçonete e encomenda de uma tacada só outras quinze garrafas de Veuve Clicquot e duas de Cristal. Todas chegam à mesa com velas acesas irradiando fogos, como ocorre sempre que alguém faz um pedido extravagante como esse na Pink Elephant. “A coisa vai ficar quente”, exultava o rapaz, distribuindo brindes e olhares. “Uma vez, transei dentro da boate”, contou. No fim daquela noite, pagou uma conta de 25 000 reais, que passou no cartão de débito. Duas semanas depois, voltou ao mesmo lugar e bateu seu recorde pessoal, desembolsando o dobro desse valor.
Morador de um apartamento no Jardim Anália Franco, na Zona Leste, decorado com mármore no chão e cristais Swarovski nos banheiros, ele é proprietário de uma empresa despachante que presta serviços a instituições financeiras ligados à recuperação de carros de clientes inadimplentes, entre eles a atualização dos documentos e o transporte dos veículos até os locais de leilão. “Bancos como Votorantim, Pan e Itaú estão entre os meus clientes”, afirma. No circuito de baladas, ao lado da Pink Elephant, a Royal, também localizada no Itaim, é uma de suas prediletas. Em setembro, durante um show dos Racionais MC’s por lá, pediu 100 garrafas de champanhe. “Chego a gastar entre 200 000 e 300 000 reais por mês em baladas”, orgulha-se. Para efeito de comparação, ele torra cinco carros Eco Sport zero-quilômetro na boemia. “Casei cedo e não podia sair. Agora que estou solteiro curto a vida”, justifica.
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A metrópole tem mais de 180 baladas, mas menos de dez delas oferecem ao público muito rico o que eles querem: exibir-se para as mulheres e os amigos. As principais se concentram entre Itaim e Vila Olímpia, como Disco, Provocateur, Villa Mix (um freguês famoso do local é o craque Neymar, que comemorou por lá seu último aniversário). “Quem compra camarote vê chover mulher do seu lado”, conta Wellington Dissei, 26 anos, que vai pelo menos duas vezes por semana à Wood’s, na Vila Olímpia, especializada em música sertaneja. Wellington sempre fica no camarote, ao preço de 2 500 reais por noite, com seu primo Renato. Os dois são herdeiros de uma construtora. Numa recente noite de sexta-feira, em menos de meia hora após terem chegado, os rapazes passaram a ser rodeados por meninas jovens de não mais que 25 anos. Elas pediram para beber champanhe rosé e passaram a chamar Wellington carinhosamente de “Well”. “Esta é a primeira vez que vejo esta menina na vida”, dizia ele, todo sorrisos. Renato, seu primo, também tirava onda de sultão. “Adoro a música daqui”, contava, com uma garota pendurada em seu cangote. Nenhum dos primos tem o padrão de beleza mister Universo. As garotas que frequentam esses ambientes, no entanto, não parecem tão preocupadas com isso. “Os caras chegam colocando pulseira na gente, convidando para ir para o camarote”, afirma a estudante Elisa Fuks, de 19 anos, uma bela morena de lábios carnudos e corpo mignon. “Tem cara feio com um bom papo, então não vou apenas aos espaços reservados dos bonitos.”
O padrão atual de gastança impressiona até quem já viveu dos negócios da boemia, como é o caso do empresário José Victor Oliva, que comandou entre os anos 80 e 90 a boate mais sofisticada da cidade, o Gallery, nos Jardins. “Existem as pessoas que sabem das coisas e as cafonas. Gastar 25 000 reais em uma balada é fora de moda”, diz ele. Os funcionários das casas noturnas da atualidade não parecem se incomodar com as extravagâncias desse tipo de gente. “Uma vez, vi caras pedirem Veuve Clicquot para jogar no chão, de farra, como se fosse sapólio para limpar o piso”, conta Débora Souza, hostess de camarote da Pink Elephant. A tolerância tem uma explicação. Os reis dos camarotes ajudam a engordar — e muito — os lucros. “Mais de 50% do nosso faturamento vem desses espaços vips”, diz Vivian Alves, gerente da Provocateur. Ela anda com um rádio e dois celulares pela balada.
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Há algumas semanas, em uma quinta, o equipamento dela tocou no início da noite. Era Stephano Costa, 29 anos, herdeiro da Uniesp, rede com mais de 100 faculdades no país, quem chamava. “Vivian, a balada está vazia. Vai continuar assim?”, questionou. Entre uma taça e outra de Dom Perignon Luminous (1 800 a garrafa), ele informa, esforçando-se para soar natural: “A minha camiseta é da marca Givenchy”. Stephano curtia a onda ao lado do amigo Hagop Guerekmezian Filho, 27 anos, vice-presidente da empresa de plásticos do pai, “que emprega 20 000 pessoas”. A estratégia é nunca ficar nos lugares até depois das 3 da manhã. “Os caras ficam bêbados provocando quem está no camarote”, explicou Guerekmezian Filho. Do alto de sua experiência na área de diversões, aproveitou para criticar a oferta da capital. “De zero a 10, dou nota 5 para a noite de São Paulo”, disse. “Nem sempre há DJs bons, a estrutura de som deixa a desejar e aqui só tem a nata de São Paulo, enquanto Ibiza atrai gente importante do mundo todo.” Guerekmezian Filho tem uma agenda internacional. “Em maio, vou para Cannes durante o festival de cinema, no fim de julho fico em Saint-Tropez e, no começo de agosto, passo uma semana na Espanha.” Ainda tem mais. “No Halloween, em outubro, gosto das festas de Nova York.” Ele de-tes-ta falar em valores gastos em baladas, mas a diversão sempre começa a partir dos 3 000 reais. “Na semana passada, gastei 10 000 dólares em uma boate de Las Vegas.”
Algumas festas itinerantes de música eletrônica também investem nos espaços vips, caso da Deep e da The 400 Club. “Sem esse serviço, os melhores clientes nem aparecem”, diz Rubens Nigro, sócio da The 400 Club, cujos camarotes custam de 4 000 a 8 000 reais. A última edição de seu evento ocorreu no Espaço Metropolitan, no Brooklin, em setembro. Mesmo com boa infraestrutura, os amigos de Rodrigo Pina, Ronald Campos Jr. e Henrique Merlin levaram um segurança particular. Esse personagem tem determinadas funções. Uma delas é servir de pombo-correio ao chamar meninas da pista de dança para o camarote, além de barrar engraçadinhos que usam a namorada para abastecer seu copo. Na festa da The 400 Club, o segurança particular teve outra atribuição: interveio quando um funcionário da balada quis tomar o vidro de lança-perfume de um conhecido deles que dava umas baforadas. Tal funcionário não apenas desistiu do confisco como aceitou um agrado: uma nota de 100 dólares.
O empresário Renato Ratier, dono do D-Edge, na Barra Funda, avalia que esse exagero de gastança foi inspirado no comportamento dos notívagos de Nova York. “A onda começou por lá com homens ricos querendo mostrar poder e com mulheres interessadas em conquistar esse tipo de cara.” Marcus Buaiz, sócio da Royal e da Provocateur, vê a privacidade e o conforto como os melhores benefícios dos camarotes. Daí ter criado na Royal um com entrada privativa. O espaço também tem banheiro e cabine para DJ. “Lá eu recebo amigos como Ronaldo e Anderson Silva”, informa. Ainda que a conta seja salgada no fim da noite, a estratégia de impressionar funciona. “Isso é coisa de homem solteiro”, define Alexander de Almeida. “Ninguém quer ir para casa sozinho depois de torrar tanto dinheiro.”
Os dez mandamentos da área vip
A cartilha para chamar atenção nos lugares mais caros
1 – Ser solteiro. O principal objetivo de quem compra camarote é atrair mulheres e, no fim da noite, eleger uma delas para levar para casa.
2 – Beber champanhe como se fosse água. Para chamar a atenção das meninas, eles pedem várias garrafas de uma só vez. Vodca e uísque são coadjuvantes.
3 – Ser competitivo. Se o vizinho de camarote pediu três garrafas de champanhe, ele manda vir cinco. Se o pedido for de dez, aumenta para quinze. Essa disputa é estimulada pelas atendentes, de olho na gorjeta.
4 – Ter carrão. Ferrari, Lamborghini, Defender e BMW X 6 ajudam a fazer uma chegada triunfal na porta da balada, ainda mais se o possante estiver sendo pilotado pelo motorista particular.
5 – Andar escoltado por seguranças. Há quem chegue às casas noturnas com três deles. Os armários ajudam a controlar o entra e sai do espaço vip.
6 – Esbanjar. Mostrar pelo Instagram fotos de sua casa de praia e da última viagem a Saint-Tropez, na França, faz parte do xaveco típico de um sultão de camarote.
7 – Ser generoso. Eles servem bebidas caras a moças que acabam de conhecer. Algumas, aliás, aproximam-se apenas para pegar um drinque e depois voltar para a pista de dança.
8 – Ser amigo dos promoters. São eles que recheiam os camarotes de meninas lindas e solteiras. Muitas delas travam uma disputa para ver quem beija o mais bonito e rico da noite.
9 – Não precisar bater cartão. Seja jogador de futebol, seja empresário, seja filhinho de papai, é fundamental poder acordar, após a balada, depois do meio-dia.
10 – Ter amigas “famosas”. Eles a-do-ram falar das “celebridades” que são suas amigas. A apresentadora, modelo e atriz Helen Ganzarolli é um nome que aparece com frequência.
A conta vai até 25 000 reais
Os preços e as características dos serviços das maiores casas da cidade
Quantos camarotes: 19
Preço: de 2 000 reais (destes, 1 700 reais consumíveis) a 6 000 reais (5 500 consumíveis)
Público: há jovens de sobrenomes poderosos. As meninas têm o mesmo tom do cabelo da Lalá Rudge
Quantos camarotes: 11
Preço: de 4 000 a 25 000 reais (tudo consumível)
Público: playboys que curtem foguinho no champanhe e escutam de Naldo a David Guetta
Quantos camarotes: 11
Preço: de 4 000 a 10 000 reais (consumíveis 3 000 e 7 000 reais, respectivamente)
Público: interessados em música eletrônica, sobretudo house
Quantos camarotes: 6
Preço: 2 500 reais (1 700 consumíveis) , 3 500 reais (2 700 consumíveis) e 6 000 (4 000 consumíveis)
Público: jovens de até 25 anos que usam roupas justas para exibir os músculos
Quantos camarotes: 11
Preço: a partir de 2 500 reais(1 900 consumíveis)
Público: jogadores de futebol, atores, sertanejos e periguetes em geral
THE 400 Club (festa itinerante)
Quantos camarotes: 12
Preço: de 4 000 a 8 000 reais, com metade do valor consumível
Público: eclético, que usa de All Star a Christian Louboutin