O ator paulistano Norival Rizzo, de 62 anos, define a sua trajetória como uma tragicomédia. Em quatro décadas, ele construiu uma carreira respeitável no teatro, mas foi por meio da experiência pessoal que descobriu o tom para caminhar pelo mundo. Desde o dia 29 de abril, o protagonista de 32 espetáculos amplia sua plateia.
Na novela Sangue Bom, lançada no horário das 7 e a primeira da qual participa efetivamente, Rizzo representa o humilde Silvério, que criou com sacrifício a filha (papel de Isabelle Drummond) e, depois de se aposentar, almeja ser advogado. A escalação foi um pedido da autora Maria Adelaide Amaral para a direção da Rede Globo. “Ele é um excelente ator”, afirma a dramaturga. “Depois de vê-lo em Doze Homens e Uma Sentença e Adultérios, quis chamá-lo e me sinto honrada em tê-lo conosco.”
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Sem nunca abandonar o palco, Rizzo acumulou por 35 anos a função de funcioná-rio público do Detran, do qual se aposentou em 2011. “Minha mãe fez a inscrição no concurso e, como o salário permitia que eu sustentasse a família, fui”, lembra. Naquela época, ele ainda lamentava a perda do pai, um pintor de parede, que, aos 42 anos, morreu após complicações com a bebida.
Apesar das dificuldades, nutria o sonho de ser ator. Fez cursos esporádicos e, depois de desistir de dois testes, ingressou em 1976 na Escola de Arte Dramática (EAD) da USP. Formou-se em 1978, casou no ano seguinte e logo teve Carolina, a primeira filha, hoje com 33 anos, portadora da síndrome de Down. “No início, fiquei desnorteado, não sabia como lidar com essa situação irremediável, mas minha filha foi agregadora e detonou um novo mundo para mim”, conta. Rizzo ainda é pai do editor de vídeo Alex, 32, que em julho vai lhe dar o primeiro neto. Desde 2000, vive o segundo casamento, com a diretora de escola Fátima Teixeira.
“Eu nunca vi um pai tão dedicado”, diz o ator Fábio Assunção, que trabalhou a seu lado por dois anos na comédia Adultérios. “Um dia, a Carolina estava com uma dor no joelho, e o Nori atravessou a cidade para se certificar de que ela estava bem. Depois de enfrentar o trânsito, voltou para o teatro com o maior sorriso no rosto.”
Norival Aparecido Rizzo nasceu, cresceu e ainda mora na Zona Leste, no bairro de Vila Formosa. Na década de 90, até se mudou para a Vila Mariana, na Zona Sul, mas não aguentou nem um ano, porque estava longe dos amigos e do resto da família. “Sempre procurei me adequar ao mundo e nunca quis modificá-lo, o que não quer dizer que não procuro evoluir e me modificar”, explica.
Na atual investida televisiva, o ator quer aprender a exercitar seu ofício em outro meio e ampliar as possibilidades para, quem sabe, fazer cinema. “Norival tem uma sensibilidade aguda, e é essa percepção que trabalhou durante a vida, nos diferentes ambientes em que perambulou, o que lhe dá uma riqueza de repertório invejável.
No palco, Nori desabafa e se recria”, afirma a atriz Denise Weinberg, com quem ele contracenou na peça Oração para um Pé-de-Chinelo, que lhe valeu o cobiçado Prêmio Shell em 2006. Ao lembrar de Denise, Norival conta que, ao contrário de muitos colegas, não chega ao teatro duas ou três horas antes da sessão para se concentrar, alongar o corpo ou repassar o texto.
Estaciona o carro faltando quinze minutos para o terceiro sinal, veste o figurino e entra no palco, confiante e com o personagem na cabeça. “Como sou muito dispersivo, se chegar cedo vou conversar com o porteiro ou dar uma volta e perco a concentração”, justifica.
Como sempre precisou rir das dificuldades e se reinventar diante do imponderável, Norival Rizzo sabe que é assim, no fio da navalha, que estará mais afiado para superar os desafios que ainda vão aparecer.