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Morre a atriz e produtora cultural Ruth Escobar

Uma das mais figuras mais importantes da teatro brasileiro moderno, ela sofria do mal de Alzheimer desde 2000

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 out 2017, 16h52 - Publicado em 5 out 2017, 15h51
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  • A atriz e produtora cultural Ruth Escobar, 82 anos, uma das mais importantes personalidades da cena brasileira moderna, morreu nesta quinta (4), por volta das 13h30, em São Paulo.

    Ela sofria do mal de Alzheimer desde 2000 e, nos últimos anos, apresentava a memória bastante comprometida. Estava internada no Hospital Nove de Julho, e a causa da morte não foi divulgada pela família.

    O velório será realizado no teatro que leva seu nome, na Bela Vista, construído pela própria artista no início da década de 60. O horário ainda não foi divulgado.

    Maria Ruth dos Santos Escobar nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em 31 de março de 1935 e chegou ao Brasil em 1951. Casada com o dramaturgo Carlos Henrique Escobar, ela se mudou para a França, onde fez alguns cursos de interpretação. De volta ao Brasil, investiu em seu lado empreendedor e montou a própria companhia protagonizando clássicos como Antígona, Mãe Coragem e Seus Filhos e Males da Juventude.

    O lado empreendedor se manifestou a passar por um terreno abandonado, na Rua dos Ingleses, e decidir construir a própria casa de espetáculos. Ruth levantou empréstimos em banco a perder de vista e contou com o incentivo de amigos ligados à sociedade e à política paulistana da época.

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    Ruth reconhecia não ter a sólida formação comum aos seus contemporâneos, como Cacilda Becker, Paulo Autran, Tônia Carrero e Fernanda Montenegro, que passaram pelo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) antes de formar os próprios grupos e eram considerados unanimidade de público e crítica. Também não era integrada à correntes contestatórias do Teatro de Arena ou Teatro Oficina. Buscou seu diferencial ao imprimir um diálogo entre a cena brasileira e a vanguarda internacional.

    Em 1968, deu início a uma profícua parceria com o polêmico diretor argentino radicado na França Victor Garcia. Os dois montam Cemitério de Automóveis, de Fernando Arrabal, que já havia sido apresentada na França.

    A consagração se dá no ano seguinte com a emblemática encenação de O Balcão, de Jean Genet, protagonizada pela produtora, Raul Cortez, Célia Helena e Sérgio Mamberti, além dos novatos Ney Latorraca e Carlos Augusto Strazzer. Ruth trouxe o francês Genet a São Paulo para que o autor acompanhasse os ensaios – e diz a lenda que ele não participou de nenhuma sessão. Mas a maior das ousadias foi praticamente destruir a estrutura do próprio teatro para reconstruir uma estrutura imaginada especialmente à montagem, que ocupava três andares.

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    Na década de 70, Ruth promoveu diversos festivais internacionais, trazendo pela primeira vez ao Brasil o trabalho de diretores que despontavam no mundo. Montagens do americano Bob Wilson, do romeno Andrei Serban e do polonês Jerzy Grotowski causaram polêmica e tiveram que enfrentar a resistência do regime militar.

    Em 1977, a atriz decidiu voltar aos palcos na pele da protagonista de Torre de Babel, e convidou o próprio autor, o espanhol Fernando Arrabal, para dirigi-la. Também são dessa época o projeto Feira Brasileira de Opinião, que reunia os principais dramaturgos nacionais da época e teve problemas com a censura, e A Revista de Henfil e Fábrica de Chocolate, de fortes conotações políticas.

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    Ruth passou boa parte de década de 80 militando em outro palco, desta vez o da política. Ela cumpriu dois mandatos como deputada estadual por São Paulo e se envolveu em muitas polêmicas, inclusive com a própria classe artística. Também foi eleita para a Assembleia Constituinte.

    Em 1989, voltou ao teatro para viver o papel da protagonista do espetáculo Relações Perigosas, dirigido por Gabriel Villela. O último trabalho, como produtora, foi uma polêmica montagem de Os Lusíadas, inspirada no poeta português Luís de Camões, em 2001. Ruth deixou quatro filhos.

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