Desde os primórdios da dramaturgia, já foram criadas diferentes formas de perpetuar as histórias de amor. Dos finais convencionais até os mais infelizes, os autores esforçam-se para reinventar a fantasia tentando manter o pé na realidade. Escrito pelo paulistano Franz Keppler, o monólogo dramático Córtex encaixa-se na linha trágica. Aborda as situações no limite entre a razão e a emoção e como um relacionamento pode se manter vivo apesar de imprevistos aterradores.
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Otávio Martins interpreta um sujeito recém-casado que leva uma rasteira do destino. Sua mulher, de 30 anos, sofreu um AVC e passou a vegetar sobre uma cama. Entre a abnegação e o inconformismo, ele se dedica à amada sem deixar de pensar na impossibilidade de ser feliz. O misterioso desaparecimento dela aumenta o clima de perplexidade. E pior: depois de prestar queixa em uma delegacia, o marido se envolve em contradições que o apontam como suspeito.
Diretor ávido por soluções distantes do óbvio, Nelson Baskerville assina uma encenação de personalidade tão marcante quanto a presença de Otávio Martins no palco. Uma parte complementar da história é projetada em vídeo e atravessa a montagem. Algumas vezes o recurso aparece fundido com legendas e fragmentos de textos junto com as falas do protagonista. Em um esforço louvável (e talvez intuitivo), Martins alia a técnica a uma carga orgânica para se sobrepor aos excessivos efeitos cênicos. Essa angústia o aproxima do personagem e o faz abraçar energicamente o desconforto em nome de um resultado incomum. Keppler, Baskerville e Martins desviam-se dos clichês na ânsia de surpreender e, passada a sensação incômoda, levam o espectador a entender suas escolhas.
AVALIAÇÃO ✪✪✪