Mick Hucknall, do Simply Red: “O que fazer quando meus cabelos ficarem brancos?”

Líder da banda britânica, que apresenta turnê de quarenta anos de carreira no Brasil, o cantor e compositor fala sobre soul, vinho e Brasil

Por Tomás Novaes
Atualizado em 14 mar 2025, 11h20 - Publicado em 14 mar 2025, 06h00
Mick Hucknall Simply Red
Mick Hucknall no Brasil: quarenta anos de Simply Red (Dean Chalkley/Divulgação)
Continua após publicidade

Inconfundível, da voz à cabeleira. Este é Mick Hucknall, 64, vocalista e compositor da banda britânica Simply Red.

O cantor inglês de pegada soul e fios ruivos na cabeça embala gerações desde 1985, com hits como Stars, Holding Back the Years e o célebre cover If You Don’t Know Me By Now.

E, para celebrar essa carreira que completa quarenta anos, o artista está no Brasil com seu grupo — na quarta-feira (12), fez show no Rio de Janeiro e, neste sábado (15), se apresenta em São Paulo, no Allianz Parque.

O líder do grupo falou à Vejinha por telefone sobre sua relação com o Brasil, seu primeiro hit e seu amor por vinhos. Confira.

Qual é a expectativa para voltar ao Brasil?

Posso dizer que estou muito feliz. Amo meu trabalho. Sou um cantor, compositor e líder de banda, e admiro pessoas que fazem seus trabalhos bem, porque é isso que tento fazer.

Mick, você tem algum artista brasileiro favorito?

Não tenho muito conhecimento sobre a música brasileira, é difícil dizer. Meus interesses musicais passam muito pela cultura afro-americana, o jazz e o R&B. E, no meu país natal, claro, os Beatles e os Rolling Stones. Eu nasci em 1960, então fui muito sortudo de ter crescido em meio à era Beatles. Artistas como Led Zeppelin, Jimi Hendrix… Me sinto muito sortudo de ter vivido aquele tempo. O Simply Red está completando quarenta anos.

Continua após a publicidade

Quero voltar para 1985, com o hit Holding Back the Years — o que o inspirou a escrever aqueles versos?

Foi a segunda música que eu escrevi na vida. Eu a fiz em meu quarto, na casa de meu pai. Eu tinha economizado para comprar um violão, e acho que eu só sabia dois acordes. Mas só fiz o refrão (I’ll keep holding on) anos depois. Ali, com 16 ou 17 anos, eu só tinha os versos. Todas as sextas-feiras eu costumava me encontrar com meu melhor amigo, para mostrarmos músicas novas um para o outro. Depois íamos ao pub conversar sobre os Beatles.

Quero perguntar sobre sua relação com o soul. Como esse gênero musical apareceu em sua vida?

O interessante sobre isso é que tem uma conexão com Liverpool, que era um grande porto internacional no final dos anos 40. Tinham muitos marinheiros na época, que às vezes se envolviam com mulheres e tinham filhos lá, e eles costumavam levar os discos que eles tocavam nos barcos. E Manchester era uma cidade mercantil, então essas músicas chegaram à minha cidade nos anos 50 e 60 — me lembro de ver Muddy Waters e Sonny Boy Williamson na televisão. Isso fez parte de minha juventude, e o mesmo aconteceu com os Beatles, em um momento um pouco diferente, mas com o rock and roll. Para nós, as influências eram mais Motown (gravadora importante da soul music americana) e Marvin Gaye.

“Os algoritmos são muito interessantes. Muitos jovens descobrem o Simply Red pelo TikTok. Isso é quase democrático, não?”

Existe alguma separação entre Mick Hucknall e Simply Red?

Não existe exatamente uma separação, porque Simply Red significa os dois. O nome da banda é o meu nome, eu sou o “cara ruivo”, sabe? (risos) Outra razão é que nenhum outro integrante compôs os hits, fui o único a escrever faixas que se tornaram realmente sucessos.

Continua após a publicidade

Fiz essa pergunta porque você já lançou trabalhos solo. Tem planos de retomar esse lado?

Pensando bem, quando olho para trás, penso que foi um erro meu dizer que era uma carreira solo. A tradição britânica, desde os anos 60, é muito baseada nessa obsessão com bandas. No meu caso, é quase ridículo porque, no Simply Red, são as minhas músicas. Sobre projetos futuros, o que podemos esperar do Simply Red? Espero ter uma pequena surpresa para os fãs no final do ano. Mas a verdade é que estou me concentrando agora em como representar uma carreira de quarenta anos no palco. O que as pessoas vão ver quando vierem ao show é toda a história do Simply Red, do começo até agora. É isso que estamos apresentando nesta turnê.

Qual é sua visão sobre o momento atual da música, com as novas plataformas?

Houve uma mudança grande, ao longo de minha carreira, no modo como as pessoas ouvem e compram música. É muito diferente. Mas você tem que realmente aceitar a mudança. Estou muito confortável com a maneira como as pessoas ouvem música agora, é só diferente. As pessoas estão usando streaming, criando suas playlists. Os algoritmos são muito interessantes. Muitos jovens descobrem Simply Red pelo TikTok. Isso é quase democrático, não? É empolgante.

Por muitos anos você teve uma vinícola na Itália. Qual é sua relação hoje com os vinhos?

Nós tivemos quatro colheitas na Sicília, no Monte Etna, foi uma experiência ótima. O que aconteceu foi que a minha esposa ficou grávida, e queríamos criar a nossa filha no Reino Unido. Era impossível continuar com o negócio à distância, então eu vendi. Vinho é um dos meus maiores hobbies — eu não bebo muito, mas bebo vinhos muito bons, de todo o mundo. Não conheço muito de vinho brasileiro, preciso saber mais.

Você tem alguma memória especial em São Paulo, algum show marcante ou um restaurante que visitou?

Toda vez que vou a São Paulo, como em um desses restaurantes ótimos, “churrascarias” é o nome? Eu amo. Quanto aos shows, o povo brasileiro ama música boa. Acredito que seja por isso que mantivemos um sucesso consistente no Brasil. Acho que as pessoas sentem essa atmosfera, porque, para mim, a música está sempre em primeiro lugar.

Continua após a publicidade

Mick, seu cabelo é um traço marcante de sua identidade. O que ele simboliza para você, pessoalmente?

É a minha carreira. Quero dizer, é “simplesmente vermelho”, o nome da banda. O que fazer quando meus cabelos ficarem brancos? Devo mudar o nome para “simplesmente prateado”? (risos) Então é importante manter o vermelho, e fico feliz com isso. Um fato curioso é que minha mãe e meu pai eram ruivos, e minha filha também é.

Publicado em VEJA São Paulo de 14 de março de 2025, edição nº 2935

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 29,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.