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Luiz Braga exibe 190 fotos inéditas do cotidiano paraense no IMS Paulista

São cliques feitos desde a década de 70 até 2024 e muitos deles, até então, só existiam em negativo; fotógrafo preserva arquivo com mais de 500 mil obras

Por Ana Mércia Brandão
11 abr 2025, 06h00
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'Cachorro-Quente' (1985): uma das inéditas em cartaz (Luiz Braga/Divulgação)
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Luiz Braga nasceu em Belém (PA), em 1956, e lá vive até hoje. A devoção do fotógrafo à terra natal rendeu meio século de fotografias sobre o dia a dia da população da região — e a alcunha de “fotógrafo amazônico”, que rejeita. “É acachapar um artista como se ele fosse uma coisa regional”, justifica. Arquipélago Imaginário, que abre neste sábado (12) no Instituto Moreira Salles, traz 190 obras inéditas — de um total de 258 em cartaz — que mostram novas facetas de sua produção humanista.

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Luiz no cenário da exposição (Vinicius Rigoletto/Divulgação)

São cliques feitos desde a década de 70 até 2024, e muitos deles, até então, só existiam em negativo. Uma mostra tão representativa só foi possível graças à determinação do fotógrafo em manter um arquivo com todas as fotos feitas, mais de 500 000. “Tenho esse procedimento de sempre voltar nelas porque permite que eu amadureça.” O período de dez dias em que ficou de repouso por causa de uma cirurgia permitiu o mergulho inicial no acervo, que resultaria na seleção de obras apresentadas no IMS, um processo que durou um ano e meio. “Essa exposição difere de tudo que fiz por ser uma construção coletiva. O curador e o João Fernandes, diretor artístico do IMS, foram até Belém e a Ilha de Marajó e passaram uma semana comigo, imersos, para poder perceber do que se tratava”, conta.

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Vendem-se Lembranças (1977): de seus primeiros anos de carreira (Luiz Braga/Divulgação)
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‘Banho Marajoara’ (2013): fotógrafo voltou sua produção para a ilha em 2006 (Luiz Braga/Divulgação)
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Fotos em preto e branco e coloridas, pelas quais ficou conhecido, dividem as paredes do instituto. Um núcleo é dedicado aos retratos, colocados em diálogo com o que a curadoria chamou de “Antirretrato”, com fotos de pessoas de costas. Outro traz a série Nightvision − Mapa do Éden, iniciada em 2006, durante a transição da técnica analógica para a digital, com imagens em tons prata-esverdeados. Há ainda sua produção recente, voltada para a Ilha de Marajó, local que passou a visitar regularmente nos últimos vinte anos.

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‘Netuno II’ (2020): inédita da série ‘Nightvision’ (Luiz Braga/Divulgação)

“Geralmente, os fotógrafos trazem a Amazônia numa dimensão muito grande. Mas o que interessa ao Luiz é justamente a cultura ribeirinha, o contato com o outro e trazer coisas que podem até ser entendidas como ordinárias, mas que, a partir da perspectiva dele, criam outras naturezas”, define o curador Bitu Cassundé. A curadora assistente Maria Luiza Meneses completa: “A riqueza desse projeto é lidar com um artista vivo, participativo nos processos e aberto a compartilhar, se rememorar e se questionar”.

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‘Interior Casa Gerlane, Movimento II’ (2024, inédita): intimidade (Luiz Braga/Divulgação)

Uma área é dedicada a contar a biografia de Luiz, que ganhou sua primeira câmera aos 11 anos, com a qual fotografava as atividades que o pai, médico, promovia com seus pacientes de um hospital psiquiátrico de Belém, seguindo o método de Nise da Silveira (1905-1999), como jogos de futebol, encenações e artesanatos. Aos 17 anos, montou um pequeno estúdio e começou a trabalhar profissionalmente. Desde então, nunca pensou em parar, apesar de ter se formado em arquitetura na Universidade Federal do Pará (UFPA). Não é à toa que a arquitetura das comunidades paraenses ganha vida nas lentes do fotógrafo. O faro de arquiteto também é visto na expografia da mostra, feita pelo escritório Vão, que utiliza cores — escolhidas por Luiz — comuns ao imaginário construído nas fotografias e explora o ambiente através de janelas instaladas nas galerias.

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‘Lona Azul’ (1991): a arquitetura fala (Luiz Braga/Divulgação)
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Luiz só sai de casa com a câmera quando planeja fotografar — “mas estou sempre olhando”, ressalta — e não acredita na noção de “instante decisivo”, cunhada por Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e seguida por muitos fotógrafos. “Para a maioria das pessoas, a data da foto é o momento que eu apertei o botão. Hoje, não vejo mais assim. A data é tudo o que envolveu até ela estar aqui na parede”, resume. Conta tanto como a foto foi revelada quanto a preparação para o clique, que inclui visitar os locais fotografados diversas vezes e nunca fazer alterações no ambiente. “Não tenho desejo de conquistar o mundo. O verdadeiro mergulho você faz para dentro do seu próprio lugar”, diz.

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‘Colegiais no Asfalto’ (2004): mais uma inédita (Luiz Braga/Divulgação)

Como projeto futuro, quer começar a escrever as histórias que cruzaram seu caminho. Junto com os curadores, ele realiza, neste sábado (12) e domingo (13), respectivamente, um bate-papo e uma visita guiada, ambos às 11h (com retirada de senhas uma hora antes). Uma boa oportunidade para conhecer o artista por trás da obra.

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IMS Paulista. Avenida Paulista, 2424, ☎ 2842-9120. → Ter. a dom., 10h/20h. Grátis. Até 31/8.

Publicado em VEJA São Paulo de 11 de abril de 2025, edição nº 2939.

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