Na primeira olhada, parece um produto editorial bem-acabado: um caderno de folhas pautadas, sem nenhum texto nem rabisco, mas com imagens de céu azul em algumaspáginas. Anotações, do uruguaio Luis Camnitzer, foi concebido, porém, como obra de arte. Simboliza, no conceito do autor, a infinitude alcançada pelo conhecimento. Trata-se de exemplar de um gênero em alta em galerias e coleções de museu: o chamado “livro de artista”. A exemplo de esculturas e pinturas, eles são suportes para a expressão de criadores.
A peça de Camnitzer será apresentada na Feira Plana, que acontece entre os dias 15 e 17 de janeiro, no Museu da Imagem e do Som (MIS), com centenas de produtos da mesma natureza.O evento cresce em sua quarta edição: passa de 110 para 140 expositores e tem um dia a mais que em 2015 – quando o público,de 2 000 pessoas na estreia, chegou a 12 000. Os visitantesencontrarão trabalhos que não pertencem à literatura, nem são compêndios de imagens ou catálogos. “Para nós, é uma tela em branco, um espaço para produzir um trabalho autoral, explica Bia Bittencourt, organizadora da feira.
A multiplicação de artigos do segmento e também do formato zine – irmão despretensioso do livro de artista, que tem em sua natureza a produção experimental – resultou em um calendário nacional de eventos que inclui Rio de Janeiro e Porto Alegre. O gênero existe desde a década de 60 e, há cerca de cinco anos, ressurgiu em circuito alternativo. Hoje, obras nesse formato publicadas por editoras paulistanas são vendidas em locais como à banca Tijuana, localizada no pátio da tradicional Galeria Vermelho, na Consolação. O projeto Tijuana abarca, também, uma editora própria de livros de artista e a primeira feira dedicada ao ramo da cidade, inaugurada em 2009. As últimas edições do evento aconteceram na Casa do Povo.
Ali, há séries limitadas de dez a 1 000exemplares, por valores que vão dos 20 aos 10 000 reais. Algumas livrarias, como a Martins Fontes, dedicam pequenos espaços para esses produtos. Fundada há um ano, a Banca Tatuí,que se tornou símbolo da transformação moderninha do bairro de Santa Cecília, é outra referência na área, com foco em zines.
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Em meio ao aquecimento do gênero na cidade, criações locais começam a ultrapassar fronteiras. No ano passado, um exemplar assinado pela artista plástica Sandra Cinto, de Santo André, entrou para o acervo do MoMA, em Nova York. Foi lançado pela paulistana Ikrek, dos irmãos Pedro e Luiz Vieira. Com pouco mais de um ano no mercado, a editora já é uma dasprincipais do ramo. “Adoramos livros e arte, então foi natural unir as duas coisas”, explica Pedro.