Livro homenageia mulheres que deixaram legados importantes para SP
Entre os 18 perfis, há nomes como Anália Franco e Lina Bo Bardi; parte da renda é revertida para ONGs que atendem vítimas de violência doméstica
Apenas 7,8% das 50.647 ruas, avenidas, praças e viadutos da capital homenageiam mulheres, segundo pesquisa da proScore de 2015. Foi esse dado que motivou a pedagoga Alana Carvalho a criar, em 2018, a #sériemulheresdesp no Instagram (@vivacultura_sp). A ideia era dar visibilidade à importância dessas personalidades, muitas vezes desconhecidas do público. Os posts acabaram virando o #MulheresdeSP, livro lançado em maio (R$ 50,00; vivacultura. lojavirtualnuvem.com.br). A obra reúne 18 perfis. “Notamos que algumas histórias são muito conhecidas por suas tragédias, como a de Dona Yayá {perdeu a família e viveu sozinha em um casarão da infância até morrer}. Nosso foco não é esse. Queremos mostrar o legado dessas mulheres para a cidade.” O lançamento quase foi adiado pela pandemia, mas os dados crescentes de violência doméstica fizeram a autora mudar de ideia. Resolveu que parte da renda seria revertida para ONGs que atendem vítimas. Alana planeja iniciar outra temporada da série no Instagram, com nomes como Tarsila e Adma Jafet, que podem virar livro em 2021.
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Maria Auxiliadora (1935-1974)
Maria nasceu em Campo Belo, Minas Gerais, mas veio para São Paulo aos três anos de idade e morou aqui durante a maior parte de sua vida. Negra e neta de uma escrava, foi uma artista autodidata e dona de uma técnica incomum. Seus quadros, ricos em detalhes e cores, retratam cenas cotidianas da cidade, festas populares e cultos religiosos de matriz africana. Para dar relevo às produções, ela utilizava uma mistura de tinta a óleo, massa plástica e tufos do próprio cabelo. Sua produção chegou a ser considerada por alguns críticos como “imperfeita” e “primitiva”.
Dona Veridiana (1825-1910)
Veridiana Valéria da Silva Prado é mais conhecida pelos paulistanos como Dona Veridiana por conta da rua que leva o seu nome em Higienópolis. Nascida no palacete da família, entre as ruas Direita e São Bento, foi obrigada a se casar aos 13 anos com o tio Martinho Prado, 14 anos mais velho. Teve oito filhos, mas duas meninas faleceram. Quando eles já estavam crescidos, separou-se do marido e comprou um terreno em seu nome, onde construiu o famoso palacete da Avenida Higienópolis – o que foi um escândalo para a época. Em 1892, tornou-se a primeira mulher do país a dirigir um jornal, ao assumir o comando do título O Comércio de São Paulo.
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Anália Franco (1853-1919)
Anália nasceu em Resende, no Rio de Janeiro, e veio para São Paulo aos oito anos. Por aqui, a educadora comprou briga com coronéis e fazendeiros, em defesa do ensino conjunto para crianças brancas e negras. Em 1898, fundou a revista Álbum das Meninas, que discutia o espaço da mulher na sociedade. Ao longo de sua vida, ela fundou 71 escolas, 23 asilos para crianças órfãs e dois albergues, entre outras instituições. O bairro Jardim Anália Franco surgiu do loteamento de terrenos de sua antiga chácara e da Associação Feminina Beneficente Instrutiva, fundada por ela em 1901.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 1º de julho de 2020, edição nº 2693.