O LinkedIn das drag queens: essa é a ideia de Bruno Fuziwara e David Costa, que se uniram para registrar os nomes e respectivos talentos de artistas do universo drag no Brasil. Com cerca de noventa perfis, o Mapa Drag estreia neste sábado (4) por iniciativa do Coletivo Acuenda, da Zona Leste da capital — justamente a região onde a dupla começou o mapeamento desses profissionais.
“Priorizamos nossa região para trazer visibilidade aos artistas desses bairros e em breve vamos expandir para outras áreas”, explica David. “Assim como o registro usado por atores e artistas, começamos com a vontade de criar um documento de carteira drag, algo que nos ajudasse a contar quantas de nós existem na cidade e no país.”
Para montar os primeiros perfis, o apartamento de Bruno serviu de espaço para um estúdio improvisado onde cada uma das drag queens foi entrevistada e fotografada antes de entrar na plataforma. “Queremos que o mapa seja usado por produtoras e agências interessadas em contratar essas artistas, que normalmente também trabalham com maquiagem e figurino.”
Com exceção daquelas que “se montam” para trabalhar em casas noturnas ao longo do ano, Bruno e David afirmam que a maioria só é lembrada pelas empresas durante o mês de junho, nos eventos do Orgulho LGBTQIA+. “Percebemos como é importante elas terem um lugar para existir como profissionais, e criar esse espaço foi um grande processo de cura”, comemora David.
Hoje a ocupação principal dos fundadores é como drag queens em shows e apresentações. Bruno começou a se montar em um sarau, sem entender muito bem o conceito. “Faço isso desde 2013 e logo criei um cabaré com amigos, todos nós produzidos sem saber o que estávamos fazendo, mas nos divertindo e nos descobrindo”, relembra.
Do Rio Grande do Norte, David começou quase na mesma época. “Eu só me montava para os concursos de Carnaval até ter sido nomeado a ‘quenga de Natal’, que participa dos palcos principais nas festas. Em São Paulo encontrei o Bruno e o coletivo, que me deram a vontade de me montar sempre.”
Além de manter os ensaios gratuitos para cadastrar novos artistas no site, eles pretendem criar uma aba com as histórias de drag queens precursoras dessa arte no Brasil, como Kaká di Polly, ícone da década de 80, que morreu no início deste ano. “E ainda vamos lançar um livro dedicado às pessoas do mapa”, adianta Bruno.
“Os reality shows e competições desse gênero mostram muito a rivalidade entre as drags”, observa David. “Mas essa arte pode ganhar muito mais se todas elas estiverem unidas.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827
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