Em 1873, um grupo de aristocratas da elite cafeeira paulista se juntou com o objetivo de formar mão de obra especializada para a indústria. Liderados pelo advogado Carlos Leôncio da Silva Carvalho, eles fundaram a Sociedade Propagadora da Instrução Popular, que ministrava “gratuitamente ao povo os conhecimentos necessários às artes e ofícios”.
Nove anos depois, a organização passou por uma reforma curricular, adquiriu o perfil de escola profissionalizante e adotou um novo nome — como a conhecemos até hoje: Liceu de Artes e Ofícios. Em 2023, a instituição celebra 150 anos de história com a façanha de ter formado grandes nomes da arte brasileira.
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Para a ocasião, organizou uma exposição com um de seus ex-alunos ilustres, Victor Brecheret. Gratuita, a mostra Victor Brecheret: o Mestre das Formas, realizada em parceria com o instituto que leva o nome do escultor, abre no sábado (20) e fica em cartaz até 12 de agosto no primeiro pavimento do Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (de terça a sábado, das 12h às 17h).
A curadoria é de Fernanda Carvalho, com colaboração de Ana Paula Brecheret, neta do artista. A exposição reúne catorze obras de coleção particular datadas entre os anos 1910 e 1950. Em um percurso com seis núcleos, de diferentes perspectivas de seu trabalho, o objetivo é discutir a escala de suas obras, que transitam das menores às maiores proporções.
“Ele era um trabalhador incansável, conseguia passar dias e dias trabalhando em granito, mas também fazia peças pequenas, com delicadeza”, comenta Fernanda.
Segundo a curadora, um dos espaços foi reservado para criar um “caleidoscópio urbano” e mapear onde estão as obras de Brecheret e o Liceu em São Paulo. “A cidade absorve os dois, embora eles sejam às vezes invisíveis. Tem obras lá no Largo do Arouche, como a do Brecheret, que ninguém mais comenta, mas eram o orgulho da cidade nos anos 40 e 50. Hoje em dia é depredado.”
Nascido na Itália, Victor Brecheret veio com 10 anos de idade para São Paulo morar com a tia. Passou alguns anos trabalhando com conserto de sapatos.
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Percebeu que queria trabalhar com arte aos 15 anos, após ver em um jornal a foto de uma escultura do francês Auguste Rodin. Foi levado pela tia até o Liceu, que logo notou seu potencial. “Os professores do Liceu incentivaram a tia dele a enviá-lo para a Europa, pois ele tinha mais a aprender”, conta sua neta Ana Paula. “Se não fossem esses professores, ele não teria ido.”
Responsável por desenvolver projetos para manter a memória do avô viva, ela explica que o Instituto Victor Brecheret tem o plano de tornar o escultor ítalo-brasileiro conhecido em outros lugares do Brasil, para além de São Paulo. Por isso, vão realizar uma exposição em Belo Horizonte nos próximos meses e em Belém e São Luís no ano que vem.
Enquanto isso, o Liceu “busca seguir atuando na construção contínua da dignidade dos cidadãos e da identidade nacional, por meio da educação e da cultura”, como afirma a diretora institucional Patrícia Loureiro Marques Macedo. Para o segundo semestre, a instituição está trabalhando em uma nova exposição, com curadoria de Guilherme Wisnik, em continuidade ao programa comemorativo.
Atualmente, o Liceu tem cerca de 450 alunos, no ensino médio e técnico (automação industrial e multimídia).
Publicado em VEJA São Paulo de 24 de maio de 2023, edição nº 2842