As confusões em que o cantor canadense Justin Bieber, 19 anos, se mete por aí não combinam muito com a aura de bom-moço instaurada ao seu redor desde o estouro de Baby, seu primeiro sucesso, em 2010. Há quem use isso para justificar a queda de sua popularidade entre os “beliebers”, como são batizados seus fãs (um mash-up do nome do rapaz com a palavra inglesa “believer”, que significa crente, em inglês), mundo afora. Outros acreditam que seus admiradores apenas cresceram e perderam o encanto pelo artista, fenômeno comum na etérea cena pop.
+ Ainda há ingressos para ver Justin Bieber na Arena Anhembi
+ DJ de Justin Bieber toca em festa na Disco
De alguma forma, isso tudo tem se refletido na agenda do moço. De volta ao país, o ídolo teen faz apenas dois shows da turnê Believe, do disco homônimo lançado no ano passado, contra cinco de sua primeira visita por aqui, em 2011. A superprodução (ele deve surgir no palco com asas de anjo, pendurado em cabos, em meio a fogos de artifício) passa pela Arena Anhembi, em São Paulo, no sábado (2), e segue para a Praça da Apoteose, no Rio, no domingo (3).
Porém, tudo isso é só um blábláblá para a legião de fãs apaixonados, histéricos e dedicados, dispostos a tudo em nome da admiração pela “história de vida” e pelo “bom coração” do cantor. Sim, eles ainda existem, e acampam nas filas do show por quantos dias for preciso, tatuam o nome do rapaz pelo corpo, juntam a mesada para acompanhar a turnê do garoto em outro país, deixam os pais de cabelo em pé. Com a ajuda da webdesigner baiana Lucy Santos, 25, criadora do fã-clube brasileiro de Justin Bieber, o Bieber Mania Brasil, a VEJASAOPAULO.COM reuniu algumas das maiores loucuras de beliebers paulistanos. Dá uma olhada:
As primeiras da fila
Paloma do Nascimento Souza e Rafaela Siena, de 15 anos, ocupam há 50 dias a primeira barraca instalada na calçada da Arena Anhembi, na zona norte da capital paulista. O acampamento foi proibido por uma medida do Conselho Tutelar e da Guarda Civil Metropolitana, mas nada fez com que as dezenas de beliebers arredassem o pé dali. Sob sol e chuva, a dupla se reveza. “Eu vou para a escola de manhã e depois minha mãe me deixa aqui”, conta Rafaela. Para “sobreviver”, montaram um kit sob a lona que inclui cobertores, escova de dente e bolachinhas. “Eu faço isso por amor e ao mesmo tempo por desespero de não conseguir vê-lo de perto”, explica Paloma, que abandonou o colégio para acampar.
Experts em acampamentos, elas se conheceram na porta do Estádio do Morumbi, em 2011, na primeira visita do astro canadense ao país. Rafaela, que na época tinha 12 anos, estava no invejável primeiro lugar da fila, três à frente de Paloma. No entanto, quando os portões se abriram e ela finalmente se acomodou na grade à espera do show, começou a passar mal. Foi retirada de maca pelos bombeiros. “Eu estava desidratada, não aguentei. Quando acordei e vi onde estava, me bateu um desespero! Pedi para voltar lá para frente, mas não deixaram. Tentei ver de longe, mas sou muito baixinha, foi um desastre”, lembra.
Apoiadas pelos pais, ambas tatuaram homenagens ao artista: Rafaela escreveu “faith” (fé, em inglês) nas costas, enquanto Paloma grafou “Never Say Never” no braço, “Justin Bieber” abaixo do seio e “Jesus” em hebraico nas costelas. No domingo (3), a dupla parte para o Rio com a missão de conhecer o cantor. Inabaláveis, vão passar o dia atrás dele, sem ao menos ter ideia de onde ele irá se hospedar. Somente à noite vão encarar a fila do espetáculo.
Na mesma calçada está Jaqueline Letícia de Lima Costa, 15 anos, mais conhecida como a sortuda que subiu ao palco no show de 2011, no Morumbi. Naquele ano, ela dormiu apenas um dia na fila, mas conseguiu colar na grade. “Eu estava distraída, pensando nele, quando uma mulher da produção passou por mim e segurou no meu braço. Ela perguntou se eu queria subir no palco durante o show”, lembra. “No backstage, ela me orientou a não agarrá-lo, senão eu seria expulsa dalí.” Comportada, entrou em cena no fim da canção One Less Lonely Girl para receber flores, abraços e mimos do ídolo. “É a minha preferida, foi a música que realizou meu sonho, vai ficar marcada para sempre.” Os pais de Jaqueline assistiram a tudo da plateia. “Minha mãe me apoia muito, ela até já acampou comigo.”
À flor da pele
“Eu fiquei sabendo pelo Facebook!” Aos risos, a enfermeira Angela Andrade de Souza, 33 anos, lembra do dia em que a filha Juliana, 16, tatuou o nome do artista no braço. Escondida da mãe, a adolescente fez a cabeça do pai para acompanha-la até o estúdio. “Essa menina me deixa louca com essa história de Justin Bieber! Eu já tinha explicado para ela que marcar a pele é para a vida toda, mas não adiantou”. “As pessoas sempre me falavam que era só uma fase, que ia passar. Mas fui vendo a cada dia que eu gostava mais e mais dele”, explica Juliana. “Ele é uma inspiração para mim, ele me ajudou a ter fé nas coisas.” Segundo ela, foi por causa dessa fé que ela conseguiu um ingresso para o show do rapaz em 2011. “A gente não tinha dinheiro, mas não desisti. Participei de uma promoção de uma revista e ganhei.”
Viajo porque preciso…
Giovanna Talassi, de 16 anos, não quis esperar a turnê Believe chegar a São Paulo. Depois de um ano guardando o dinheiro da mesada (e com um empurrãozinho financeiro dos pais, é verdade), a estudante pagou ingresso, passagem e hospedagem para vê-lo no Staples Center, em Los Angeles, em junho deste ano. Acompanhada de uma amiga e sem conhecer nada do lugar, chegou bem cedo na arena, na expectativa de ver Bieber e sua equipe chegando ao local. Eufórica, avistou o ônibus do artista e, enrolada na bandeira do Brasil, começou a pular e a gritar. “Vi toda a equipe descer, e bem na hora em que o Justin estava saindo do ônibus, três seguranças enormes me tiraram da grade. Eles acharam que eu ia invadir o espaço e agarrá-lo. Eu fiquei desesperada, porque meu ele estava ali tão perto de mim. Então comecei a me debater no colo dos seguranças.” E a história só melhora. “Sem querer dei um soco no rosto de um deles. Ele ficou muito bravo, me levaram dali e fui parar na sala de segurança da arena. Tive que explicar tudo para o chefe deles e ainda recebi uma notificação por agressão.”
Passados alguns dias, Giovanna foi ao lançamento do perfume do cantor. “Levantei às 5h40 da manhã para pegar o primeiro ônibus e conseguir chegar ao local antes de a loja abrir. No total peguei três. Justo no último ponto, em um bairro perigoso, fui assaltada! Queriam levar meu dinheiro contadinho para comprar o perfume. Mantive a calma e expliquei ao assaltante que ele poderia levar qualquer outra coisa, menos o dinheiro. Graças a Deus ele me entendeu, e eu, finalmente consegui o meu The Key!”.
Um pouco mais velha do que a média das “beliebers”, a estudante de publicidade Bianca Sacks, 19 anos, também juntou dinheiro para tentar conhecer o astro. Depois de trabalhar todo o verão na loja da tia no Rio de Janeiro, a jovem foi com a avó até Las Vegas, também em junho deste ano. Hospedada no mesmo hotel do ídolo, encontrou uma amiga brasileira por lá. “Ficávamos o dia todo rodando pelo hotel. Graças a isso conhecemos o fotógrafo dele, que nos deu a pulseirinha do ‘Meet and Greet’ [encontro do artista com fãs] para conhecê-lo”, conta. “Ele abriu os braços e disse ‘Come here, sweetie’. Eu o abracei muito forte e fiquei repetindo ‘I love you so much’ até ele responder o que eu queria ouvir: ‘I love you too’”.
+ Saiba mais sobre Justin Bieber