Parceiros na vida e no trabalho, os cineastas Juliano Salgado e Ivi Roberg preparam um longa-metragem dedicado a mulheres indígenas influentes no Brasil. “Começou como algo pequeno, quando passei a seguir a então candidata a deputada Sonia Guajajara em campanha em Brasília”, conta Ivi. “Mas em volta dela surgiam diversas mulheres igualmente incríveis, e quanto mais as seguíamos, mais personagens apareciam para nos maravilhar.”
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“Foi um choque positivo descobrir esse grupo tão atuante no movimento indígena”, complementa Juliano, que se reveza com a esposa nas filmagens que exigem viagens fora de São Paulo, onde vivem hoje. “Tivemos a sorte de ter uma filha, nascida em dezembro de 2017, e precisávamos escolher qual seria sua nacionalidade. Não tivemos dúvidas: ela seria paulistana.”
Filho do fotógrafo Sebastião Salgado, Juliano nasceu e passou a juventude em Paris até se mudar para Berlim, onde conheceu Ivi durante as gravações do documentário O Sal da Terra (2014). “Tudo graças ao diretor Wim Wenders, que entrou em uma guerra de ego comigo por razões que não sei explicar”, revela. “Ele fez de tudo para eu ir embora da cidade e deixá-lo acabar tudo sozinho. Uma das táticas foi transformar o orçamento do filme e, quando o dinheiro acabou, precisei procurar outro quarto para morar. Assim conheci Ivi, a pessoa que estava alugando o apartamento… E foi amor à primeira vista.”
O novo longa-metragem, previsto para 2024, é o primeiro grande projeto do casal, embora os dois tenham colaborado em suas respectivas produções desde o início da relação. Juliano também está à frente do Instituto Terra, projeto feito para reverter as décadas de degradação ambiental no planeta — tema comum em sua trajetória no cinema. “Aprendi muito cedo a enquadrar porque Sebastião me ofereceu uma máquina quando criança e comentava minhas fotos”, relembra ao citar a influência criativa do pai. “Ele sempre viajava muito e nos afastamos por um tempo, mas na adolescência me levou para acompanhar reportagens em países como Inglaterra e Índia. Dessa forma comecei a entender o olhar das pessoas e aprendi o sentido da imagem, a forma de me locomover no mundo.”
Mesmo assim, a fama do fotógrafo fez com que o filho usasse outro sobrenome por muitos anos. “Eu gostava que meus professores achassem incríveis os lugares onde ele estava, mas quando começaram a ‘pagar muito pau’ para suas fotos, tudo isso passou a ter um peso. Hoje já parei de me comparar a ele e só consigo ter orgulho.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 26 de outubro de 2022, edição nº 2812