A palavra “reforma” pode remeter a um processo complicado, caro e estressante para algumas pessoas. Porém, em períodos pandêmicos, que obrigaram todos a passar mais tempo em casa, a atenção do público nas redes sociais se voltou para perfis cujo conteúdo tem como proposta desfazer essa ideia com um diferencial: derrubar paredes ou fazer muita sujeira não precisa estar incluído no pacote. Na verdade, o significado de fazer uma reforma se transformou. Ela pode começar a partir do ato de organizar pequenos espaços em um cômodo ou até mesmo objetos de decoração para, a partir daí, variar de acordo com a vontade de botar a mão na massa.
Matheus Ilt, apresentador do programa Arrasta Móveis, no canal GNT, se tornou uma sensação no Instagram de forma progressiva, com o intuito de descomplicar o procedimento de renovação. Filho de um pai cujo conhecimento se estende a alvenaria, pintura, marcenaria e elétrica, o produtor de conteúdo cresceu com esse universo ao redor. “Meu pai construiu a casa da minha mãe, fez os móveis… Sempre vi que era possível fazer as coisas por conta própria. Demorei a entender que isso talvez fosse um conteúdo na internet, porque para mim é algo natural”, diz.
Matheus fez a primeira reforma em 2017, na cozinha de sua casa em Curitiba. “Fiz um balcão, troquei a iluminação, e isso deu um estalo no meu namorado. Pensamos em criar algo para as redes sociais, mas, como só tinha feito isso uma vez, não sabia se daria certo sempre. Depois, participei de um programa do GNT. Era para restaurar uma cozinha e eu ganhei o episódio. Esse foi o segundo momento que me mostrou o grande potencial dessa ideia.” Após modificar outros cômodos do apartamento no sul, como seu quarto e a lavanderia em 2018 (veja fotos abaixo), passou a ver o número de seguidores crescer e encontrou oportunidades comerciais em São Paulo.
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Lojas como Leroy Merlin se interessaram em fazer parcerias nas redes sociais, e esse foi um dos motivos para que ele e Célio, seu namorado, se mudassem de vez para a capital paulista. Na data, em 2020, a quarentena já era uma realidade e isso fez com que o alcance do conteúdo do apresentador se espalhasse de forma rápida. Dois cômodos já reformados em seu novo lar colecionam mais de 100 000 likes no Instagram e são a prova de que a transformação pode ser minuciosa. “Tenho três pilares: pintura, iluminação e plantas. Desde o nível inicial ao mais complexo, eles já mudam o ambiente e não necessitam de uma supermão de obra. Pode ser uma cor mais viva em metade de uma parede, pinturas de teto, total ou geométricas”, explica.
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Ele ainda destaca que não é proibido pintar uma casa ou apartamento mesmo morando de aluguel. “Não precisa ter medo de inovar. Dá para negociar com o proprietário pequenas mudanças. Além disso, quando você devolve o local, ele tem de estar pintado de branco. Por que viver refém de um espaço sem vida sendo que você vai ter de devolver como ele estava inicialmente?”
Como a prática do “faça você mesmo” possui diferentes níveis de complexidade, ele aponta que é preciso começar aos poucos e medir habilidades. “Eu nunca aconselho a ir direto construir um móvel, mas, sim, a começar com a reparação de algo usado. Cansou de lixar? Não gostou? Não faça. O processo é desafiador, mas não pode ser frustrante. Ver vídeos de tutoriais na internet também ajuda. E aí, quando você tiver segurança e pegar o gosto, o pensamento já vai para comprar lixadeira, parafusadeira elétrica etc. Pequenos passos fazem você enxergar para onde quer ir; ou se prefere dar atenção exclusivamente à pintura de mobílias e paredes.”
Seguindo esse mesmo conceito, a artista e produtora de conteúdo Maddu Magalhães iniciou seu trabalho nas redes sociais com pequenos objetos e quadros de temática geek. Quando se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo e montou sua nova casa, seus seguidores passaram a pedir dicas de como renovar os ambientes. Ela também observa que o “faça você mesmo” cresceu durante a pandemia e, com isso, aconselha as pessoas a pensar em um cômodo de forma detalhada, não nele como um todo. “Em um quarto você tem catorze móveis. Se você fizer um por semana, em dois meses terá um ambiente completamente novo. Gosto desse processo semanal, de criar uma meta que é possível.”
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Maddu indica a adesivagem para repaginar cabeceiras e bancos. “Hoje dá para transformar um objeto por completo sem fazer sujeira ou ter de lixá-lo. Mudar um puxador é algo simples, mas que faz diferença. Há papéis de parede que são adesivos, feitos de plástico. A resistência deles é maior e ainda são laváveis. Eles podem ser usados em um frigobar e até em uma mesinha de canto.” Outra dica de ouro da artista é um produto chamado “batida de pedra”. “Usam isso debaixo de carros, onde as pedras costumam bater e riscar. Ele tem uma consistência em gel e isso cria uma camada de aderência para passar no móvel antes de aplicar a tinta. Não precisa nem lixar: a tinta seca e não sai mais. Já reformei até materiais feitos de fórmica com isso”, conta.
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Maddu, que foi convidada a reformar um apartamento em um projeto idealizado pela Loft, indica o aplicativo Pinterest para obter inspirações diversificadas, mas faz uma ponderação: “É preciso entender o que monta aquela linda imagem que você gosta de olhar. Decupar o que lhe agrada ajuda a entender o que quer para o seu lar. A composição faz a diferença. Sem ela, você pode comprar algo isolado que não tem nada a ver com o seu estilo.”
Rafa Oliveira, criadora do canal Organize sem Frescuras, trabalha desde 2012 como personal organizer e observa que as lojas de reforma e construção passaram a criar produtos organizadores de acordo com o aumento da procura na otimização dos espaços em casa — especialmente quando o home office disparou com a pandemia. Ela também é apreciadora do Pinterest e ressalta que a mudança está nos detalhes. “A sala é o seu cartão de visita. Nela, dá para pintar uma única parede, trocar um quadro, colocar capas de almofada novas etc. Isso serve para todos os ambientes e sai mais barato. Organizadores móveis são boas opções. A decoração hoje pode ser versátil. Se enjoar, dá para adaptar.”
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Rafa explica que a arrumação pode ser estabelecida já na triagem de itens que não são mais utilizados. “O desapego é primordial. Isso serve para roupas, utensílios e até mantimentos. Depois vem a separação em categorias: salgado com salgado, louça com louça, prato com prato, camisas de manga longa, camisetas curtas e por aí vai. O passo seguinte é escolher caixas, prateleiras, nichos e cestas — mas, antes de gastar dinheiro, é válido anotar as categorias que vão mudar em sua residência e, aí sim, ir às lojas. Dessa forma, tudo fica mais assertivo.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758