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A mente inquieta por trás de “O Guia dos Curiosos”, que completa trinta anos

Marcelo Duarte conta de onde vem a inspiração para as curiosidades e fala do novo livro, ainda sem nome, a ser lançado pela editora que criou, a Panda Books

Por Laura Pereira Lima
21 ago 2025, 11h56
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Duarte: autor produziu dez volumes do sucesso editorial (Leo Martins/Veja SP)
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Você já se perguntou quantas velas seriam necessárias para reproduzir a claridade do sol? Ou quantas letras compõem o alfabeto do Camboja? Provavelmente não, mas, se a dúvida surgiu agora, aqui vão as respostas: são 4 octilhões de velas e 72 letras. Perguntas improváveis como essas instigaram, e ainda instigam, Marcelo Duarte, que as reuniu em “O Guia dos Curiosos,” uma espécie de bíblia dos “fatos inúteis” lançada há trinta anos.

“Colecionador de números curiosos”, nas palavras do próprio, Marcelo começou sua empreitada na Vejinha, enquanto trabalhava como editor da revista. O pontapé inicial foi uma matéria de capa de 1992 sobre a demora no atendimento nos bancos, que contava o drama de uma fonoaudióloga que ficou duas horas e dez minutos em uma fila de 70 metros. A reportagem arrematava o primeiro parágrafo com o seguinte dado: “Para percorrer essa distância, uma tartaruga daquelas gigantes demoraria dezesseis minutos. Uma lesma, 87”. A brincadeira fez sucesso na redação e o inspirou a começar sua coleção de recortes de jornais e revistas com dados interessantes. A gaveta da redação, onde ficavam armazenados, era acionada em casos de emergência — como consultar a altura da Torre de Pisa para calcular o equivalente em pizzas da Pizza Hut empilhadas, para uma matéria sobre a chegada da franquia à cidade.

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(Reprodução/Reprodução)
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Nas páginas da Vejinha, em capa sobre fila nos bancos: pílulas curiosas divertiam os leitores da revista (Reprodução/Reprodução)

Até que, em 1994, Marcelo decidiu compartilhar suas descobertas com um público maior e enviou uma carta a Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras. Apostando na curiosidade do editor, instigou-o com três perguntas: “Qual é o tamanho do pescoço de uma girafa?”, “Quantos degraus tinha a forca de Tiradentes?” e “Qual é a velocidade do espirro?” — respectivamente: 3 metros, 21 degraus e 160 km/h. Foi bola dentro. No ano seguinte, poucos meses após o contato, chegava às vitrines das livrarias do país “O Guia dos Curiosos”. A primeira tiragem, de 5 000 exemplares, esgotou logo no primeiro fim de semana. O almanaque ficou ainda na lista dos livros mais vendidos da Folha de S.Paulo durante quarenta semanas, dezesseis delas em primeiro lugar.

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Edição atual do almanaque: tiragem inicial esgotou no primeiro fim de semana (Panda Books/Divulgação)

As informações, que hoje parecem estar a poucos cliques de distância, na era pré-internet envolviam uma saga complexa. O Google de Marcelo eram os retalhos guardados em sua gaveta da redação da VEJA SÃO PAULO e o arquivo da Editora Abril. Enquanto escrevia o guia, chegava mais cedo no trabalho e aproveitava o tempo para mergulhar na enciclopédia particular da editora. “Todo mundo lá me ajudava. Eu chegava e pedia informações sobre o homem na Lua, por exemplo, aí me entregavam pastas enormes, cheias de recortes de jornais e revistas”, lembra. Em outros casos, a pesquisa de campo era mais lúdica — como quando passou dois fins de semana assistindo a todos os filmes do Arnold Schwarzenegger para contabilizar o número de pessoas que o ator já havia matado em cena (na época, impressionantes 387 pessoas — e um jacaré).

A parceria com a Companhia das Letras se estendeu por muitos anos. Pela editora, Marcelo publicou outras nove edições temáticas do guia (Esportes, Invenções, Brasil, Sexo, Língua Portuguesa, Jogos Olímpicos, Copas), além do Guia das Curiosas e da edição Fora de Série. Até que ele teve uma outra ideia. Inspirado em uma matéria de capa que escreveu para a Vejinha em 1992 sob o título “Onde encontrar o que é difícil”, Marcelo pensou em um novo livro, de endereços curiosos de São Paulo, com lugares que vendiam objetos inusitados como anões de jardim ou camisas de força. Apresentou seu novo projeto a Luiz Schwarcz, mas, desta vez, não teve sucesso. O editor só estava interessado em publicar novos exemplares da coleção “O Guia dos Curiosos”.

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Obstinado, ele decidiu tomar as rédeas, criou a própria editora e publicou a ideia. O livro rejeitado por Schwarcz bombou pela Panda, que completa 26 anos em setembro. Por uma questão de numerologia, o nome foi alterado logo depois para Panda Books, como a editora é conhecida até hoje. A empresa publica atualmente entre quinze e vinte livros por ano e tem 350 obras no catálogo, dos quais dez são edições de “O Guia dos Curiosos”, transferido da Companhia das Letras.

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Acumulador de curiosidades: páginas que Marcelo ainda consulta (Leo Martins/Veja SP)

Na pandemia, incentivado pelos filhos, Marcelo começou a produzir pequenos vídeos contando curiosidades em seu perfil do Instagram, hoje com mais de 300 000 seguidores. Por lá, compartilha a origem de expressões do português, história de logos e marcas, fatos e qualquer outra dúvida que lhe vier à cabeça. A inspiração para as pílulas curiosas vem do dia a dia — o supermercado é o playground de Marcelo. “Sempre brinco com minha esposa quando vamos fazer compras: ‘Você cuida da casa e eu cuido das minhas loucuras’.” Um passeio pelo corredor de produtos de limpeza é suficiente para inspirar um mergulho no passado do inseticida SBP, por exemplo — que recebeu o nome em homenagem ao químico alemão inventor do produto, Sydnor Barksdale Penick, e não a Sistema Brasileiro de Proteção, como lhe informou a própria empresa.

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“Nesses trinta anos, O Guia dos Curiosos foi pegando públicos de todas as faixas etárias. Começou com os jovens da época, hoje com 40, 50 anos, e agora os filhos deles, a nova geração, do TikTok e do Instagram”, conta o autor, que prepara um novo livro, sobre coisas que deixaram de existir, como o chiclete Ping Pong ou o doce Dan­Top.

Publicado em VEJA São Paulo de 22 de agosto de 2025, edição nº2958.

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