Gerald Thomas revê a história da humanidade em ‘Sabius, os Moleques’
Espetáculo inédito estreia na quarta (26) no Sesc 14 Bis
Gerald Thomas, 71, terminou o texto de Sabius, os Moleques menos de duas semanas antes da estreia. “No fim sempre dá tudo certo. Pelo menos no meu caso. Passo noites em claro olhando para a tela do computador, mas de repente alguma coisa acontece e rola”, conta o diretor.
A peça inédita, que chega ao Teatro Raul Cortez, no Sesc 14 Bis, na próxima quarta (26), começou a ser concebida há dois anos, com o nome de Século 21, em referência ao nome de uma loja de departamentos que foi destruída no ataque terrorista às Torres Gêmeas. “Achei o título muito cafona e troquei”, conta o dramaturgo, que assistiu à queda das torres em 2001 da janela de seu escritório, quando morava em Nova York.
O colapso — não especificamente das torres, mas da humanidade como um todo — é o ponto de partida do espetáculo. A cenografia já dá o tom catastrófico: a Terra está enterrada em uma cratera dentro de um outro planeta. Os únicos sobreviventes são cinco sábios, enlouquecidos, que discutem o passado da civilização. Em cena, fazem um panorama da história da humanidade que vai desde os primórdios da civilização, como o Egito Antigo e a cultura Erligang, do Vale do Rio Amarelo, na China, passando pelo Holocausto e pela revolução iraniana até chegar à política de Donald Trump. Além de olhar para a história mundial, a peça também traz referências da música e da literatura, como os personagens Romeu e Julieta — que, enfim, ganham uma cerimônia de casamento.
Tudo isso mesclado a muita sátira, músicas de Tom Zé e figurinos de João Pimenta — trajes “retrofuturistas”, que o diretor descreve como “astronauta com roupa de caverna”.
Isso é tudo que Gerald revela da nova peça. “Não lido com trama. Eu sou pós tudo isso aí. Iconoclasta, pós-moderno, destruidor, chame do que quiser. Quem sabe quem é Thomas vem para ver uma peça de Thomas.”
Sabius, os Moleques traz a proposta de olhar para o passado longínquo, hoje muito ignorado, segundo o autor. “Acho que o teatro faz um bom serviço lembrando um pouco historicamente quem nós somos, do que nós somos feitos e de onde viemos”, defende. Ele também bate de frente com uma epidemia de saudosismo: “A gente sonha dizendo que o passado era bom, mas era péssimo. Hoje, podemos dizer, no mínimo, que não tem guerra mundial. A luz está acesa, tem água corrente, tem restaurante aberto. Então a gente já está melhor do que a gente já esteve”.
A montagem será encenada pela Companhia de Ópera Seca, criada por Thomas em 1985 e responsável pelo elenco de clássicos da dramaturgia brasileira como Eletra com Creta (1986) e Trilogia Kafka — peça que foi capa do caderno de cultura do jornal The New York Times em 1988. Em Sabius, a companhia chega com um elenco novo — à exceção de Fabi Gugli, atriz do grupo desde 1999 e com quem Thomas foi casado por seis anos. Além dela, o espetáculo conta com Jefferson Schroeder, Apollo Faria, Nilson Muniz e Pedro Inoue, completando o coro de sábios.
As referências filosóficas e históricas abundantes são fruto da formação de Gerald Thomas, graduado em filosofia e história pelo Museu Britânico, e de um contexto multicultural. Nascido em Nova York, nos Estados Unidos, o diretor viveu parte da infância e adolescência no Brasil, mas nunca abandonou a origem anglófona: até hoje ele escreve suas peças em inglês. “Coloco no Google para traduzir, mas ele traduz de uma forma tão estranha… Aí vou consertando, mas já é uma ajuda.”
Sabius é um entre uma gama de projetos que o dramaturgo encabeça atualmente. Ele acaba de voltar de uma temporada no Rio, onde fez sessões de Traidor, monólogo com Marco Nanini, e estreou o solo Choque: Procurando Sinais de Vida Inteligente, com Danielle Winits, que faz temporada no Teatro Faap a partir de 30 de janeiro. No momento, Gerald ainda prepara o solo Fogo Alto, interpretado por Ana Cecília Costa, segundo ele a melhor peça que já escreveu. Trata-se de um debate entre um presidiário louco e uma psicanalista, que deve estrear em São Paulo em 2026.
Sabius, os Moleques. (90min). 16 anos. Sesc 14 Bis. Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista, 3016-770. → Qua. (26), 20h. Qui. a sáb., 20h. Dom., 18h. Sessões extras nos dias 5, 12 e 19/12, 15h. Até 21/12. R$ 70,00 sescsp.org.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 21 de novembro de 2025, edição nº2971.
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