As tintas fortes da crise econômica respingam também no mercado de arte, e para algumas galerias paulistanas o alívio de caixa pode estar em outras paisagens. No ano passado, em meio à desvalorização do real, o setor bateu recorde de exportações: foram 67 milhões de dólares, ante 34 milhões em 2014, nos cálculos da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), entidade que representa esse segmento.
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Esse embalo tem motivado um movimento inédito na área: ao menos quatro grandes espaços daqui estão chegando aos Estados Unidos e à Europa. “Nosso objetivo é aproximar os artistas de colecionadores, curadores e instituições americanas”, conta Daniel Roesler, diretor da Nara Roesler, situada no Jardim Europa. No endereço, cerca de 25% das vendas são feitas para estrangeiros.
Há quatro meses, o local puxou a fila imigratória ao desembarcar no Flower District, em Manhattan, munido de exemplares de artistas como Vik Muniz e Cao Guimarães. Com a expansão, Roesler espera diminuir os custos relacionados a transporte e seguro no vaivém de peças para feiras internacionais, sempre mais altos quando o ponto de partida é o Brasil.
A próxima a experimentar outro sotaque é a Emma Thomas. Essa galeria abre, ainda neste mês, um projeto pop-up em um prédio que abriga diversas iniciativas do tipo no Lower East Side, em Nova York. A temporada de seis meses é um teste de sobrevivência na maior metrópole americana. “Em vez de reclamar da recessão, estamos pensando em novas possibilidades”, diz a diretora Juliana Freire, que está transferindo sua sede dos Jardins para Campos Elíseos.
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Outro nome do mercado, a Mendes Wood DM (da qual 70% das vendas são feitas a acervos estrangeiros), localizada na Rua da Consolação, faz sua estreia mundial em duas frentes. Em setembro, no Upper East Side, ao lado do Central Park, em Nova York. No próximo ano, em abril, inicia a unidade de Bruxelas, que vai receber também residências artísticas.
Em 2018, será a vez da Galeria Marcelo Guarnieri. Com unidades no Jardim Paulista, em Ribeirão Preto e no Rio de Janeiro, ela aposta em Lisboa. “Já faz vinte anos que vejo galerias de polos artísticos se expandirem para outros países, e me dá satisfação ver São Paulo começar esse movimento”, diz Matthew Wood, do espaço que leva seu sobrenome.
O fluxo inédito está ligado à boa fase da arte nacional lá fora. Um dos indicativos é a profusão de grandiosas exposições com digital brasileira em centros de renome. O paisagista Roberto Burle Marx, por exemplo, tem retrospectiva em cartaz no Jewish Museum, de Nova York, até setembro. Lygia Pape e Tarsila do Amaral ganham, nos próximos dois anos, homenagens no Metropolitan e no MoMA, em Manhattan. Como os museus e as bienais daqui têm poucos recursos para promover os nomes locais, o que é comum em outras nações, esse papel está sendo assumido pelas galerias. “Estamos tentando absorver essa demanda”, afirma Marcelo Guarnieri.