A chegada do nazismo ao poder na Alemanha foi, sem sombra de dúvida, uma das principais tragédias do século XX. O grave acontecimento resultou na II Guerra Mundial e no Holocausto. Até hoje historiadores discutem se a ascensão política de Adolf Hitler teria sido favorecida pela complacência da população, arrasada pela inflação do período entreguerras e vulnerável a discursos populistas. Nem todos, contudo, abandonaram a resistência naquele momento, como comprova a sarcástica retrospectiva de John Heartfield (1891-1968) em cartaz no Museu Lasar Segall. A mostra reúne cinquenta fotomontagens provenientes do Instituto Valenciano de Arte Moderna e publicadas de 1930 a 1938 na Revista Ilustrada do Trabalhador. A faixa de tempo aborda desde o início da influência do Partido Nacional-Socialista, atravessa a nomeação do Führer como chanceler, em 1933, e vai até pouco antes do desastroso conflito.
Membro do dadaísmo local e amigo do ícone expressionista George Grosz, o irreverente Heartfield chamava-se, na verdade, Helmut Herzfield. O fotógrafo, designer gráfico e cenógrafo (trabalhou inclusive para a companhia Berliner Ensemble, de Brecht) adotou o nome anglicizado em 1916, em protesto contra a xenofobia germânica em relação à Inglaterra.
Nas obras, influenciadas pelo aspecto grotesco de Goya e Daumier, ele não tem pudores para esculhambar o regime de Hitler. O líder aparece vestido de imperador, recebendo propina e em um exame de raio x com uma suástica no lugar do coração. Outra colagem o exibe travestido de Karl Marx. Nada, porém, supera a imagem de dois médicos analisando a coluna de um homem, curvada devido à repetição da saudação hitlerista com o braço levantado.
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