O despertador toca às 5h30 no apartamento da família Luglio, no Morumbi. Alessandra, a mãe, se levanta, coloca a roupa de ginástica e vai para a cozinha preparar o café da manhã. Quando o marido, Enrico, de 44 anos, e as filhas, Natalia, 16, e Bruna, 13, acordam, uma hora depois, a mesa está posta. Não faltam frutas frescas picadas (no mínimo, cinco variedades), granola, pão integral, queijo branco, além de vitamina feita com ingredientes como leite de amêndoas, cacau em pó, semente de chia e linhaça.
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Seria uma cena de comercial de margarina, não fosse a total ausência da prima da manteiga. “Esse tipo de alimento não entra na nossa casa”, decreta Alessandra. À lista de restrições da prateleira, somam-se ainda qualquer embutido, suco concentrado e refrigerante. A rotina continua com coerência: em algum momento do dia, todos pegarão firme na malhação — e registrarão essa disciplina invejável em suas contas no Instagram, aplicativo no qual se apresentam com uma inevitável hashtag: #fitfamily.
Prestes a completar 40 anos, a matriarca de 1,58 metro de altura, 58 quilos, abdômen rasgado e braços fortes é a principal webcelebridade do clã: contabiliza cerca de 80 000 seguidores na rede social especializada em fotos (@aleluglio). Ela é nutricionista e tem um portfólio de clientes famosos, como a atriz Claudia Raia e a musa fitness Gabriela Pugliesi. As cerca de 2 000 imagens publicadas desde o fim de 2012 mostram seus treinos de segunda a sábado, além de dicas de compras e receitas. “Às vezes, sou parada na rua por gente que me acompanha na internet”, orgulha-se.
A filha mais velha, Natalia (55 quilos em 1,65 metro), é a segunda em popularidade: tem 27 000 fãs sob o nome @natiluglio. Um dos conteúdos de maior sucesso foi uma receita de nhoque de batata-doce com beterraba e espinafre, compartilhada por Gabriela Pugliesi. “Ganhei 3 000 fãs em uma única madrugada”, lembra Natalia, que costuma levar berinjela assada no lanche da escola. “Os colegas acham estranho, mas não estou nem aí.” Outra sensação de suas postagens é o abdômen definido, conquistado com musculação, jiu-jítsu e aulas de circo. “Durante as férias, cheguei a passar seis horas seguidas praticando.”
Enrico (1,86 metro, 82 quilos), executivo de uma empresa do ramo de joias e relógios, e a caçula, Bruna (1,53 metro, 45 quilos), aparecem como coadjuvantes nos perfis das outras duas — eles não promovem as próprias contas, que têm 687 e 462 seguidores, respectivamente. Além de fazer musculação, o pai luta boxe na equipe do ex-pugilista argentino Juan Díaz, em Moema. Bruna gosta de street dance, hipismo e skate. Completa o núcleo o cachorro da casa, o pastor-de-shetland Giggio. Há uma semana o bicho ganhou perfil na rede social (@giggioluglio) e é descrito com a hashtag #fitcão. São comuns as cenas do pet devorando frutinhas ou fazendo exercícios. Chegou a cumprir 10 quilômetros de corrida ao lado dos donos. A história despertou a ira de alguns internautas. “Disseram que ele queimou seus coxins no asfalto quente. Então publiquei fotos mostrando como tratei o Giggio bem na prova, com carinho e pausas para ele tomar água”, defende-se Alessandra. Próximo passo na vida de #fitcão: trocar a ração comum por uma light.
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A visibilidade nas redes sociais trouxe uma série de dividendos. A matriarca foi contratada para assinar uma linha de lancheiras térmicas moderninhas, batizada com seu nome, e presta consultoria para o desenvolvimento de produtos como iogurtes e suplementos. Além disso, tornou- se embaixadora da Puma. Em troca de um guarda-roupa constantemente renovado para a família, ela está proibida de aparecer usando grifes concorrentes da marca esportiva. O impacto mais positivo da empreitada digital, porém, pode ser sentido na clínica na qual atua, no Jardim Paulista. Quem deseja se consultar com ela paga hoje 440 reais por sessão (ante 350 reais cobrados até maio), mas é avisado de que só há horário disponível para 2015. Para suprir a demanda, a profissional contratou desde o início do ano três nutricionistas, que trabalham ao seu lado, sob suas orientações. Outros três atuam da mesma forma, dentro de academias.
Em casa, as lições são levadas a sério. Carne vermelha quase não aparece. Proteína só de peixe, ovo e tofu. Arroz negro entra no lugar do branco, enquanto o açúcar de coco substitui o refinado. Há chocolate eventualmente, com mais de 70% de cacau. Extravagâncias? “Até posso fazer um brownie, mas uso aveia e biomassa de banana”, descreve Natalia. “Muita gente nos acha exagerados”, pondera Enrico. “Mas as pessoas não imaginam que viver desse jeito une muito a família.”
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