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OLÁ,

Felipe Simas, o empresário que despontou no mercado da música

Responsável por organizar a carreira de Tiago Iorc e lançar o duo pop Anavitória, ele cresceu no meio com estratégia muito particular

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 out 2018, 06h00 - Publicado em 5 out 2018, 06h00
No escritório: dois prêmios Grammy Latino (Marcelo Justo/Veja SP)
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Parece o enredo de um conto de fadas moderno: duas amigas do interior são descobertas, chegam à cidade grande e viram estrelas. No roteiro do filme Ana e Vitória, a dupla de pop romântico Anavitória (na grafia oficial) mostra como, de fato, saiu de Araguaína, no Tocantins, para conquistar o país com a ajuda de uma espécie de “fada padrinho”, Felipe Simas. O empresário das meninas, de 43 anos, é também o mentor do longa. “Eu sempre disse que a trajetória delas rendia um filme”, afirma Simas.

Escrita e dirigida por Matheus Souza, a produção surgiu de um bate-papo de seis horas. Em cima da história real profissional, Souza criou uma cativante ficção romântica. Um dos feitos de Simas foi pôr o projeto de pé em oito meses e sem recorrer a incentivos públicos, com um orçamento de 1,5 milhão de reais. “Tudo era custo. Precisávamos de uma equipe muito coesa e sem atrasos”, lembra.

Só foi possível fechar a conta porque as cenas foram gravadas em duas locações, em apenas três semanas, durante doze horas por dia. O produto para as telonas tinha ainda o objetivo de antecipar o lançamento das músicas do novo disco delas, O Tempo É Agora. “Eu fiz o Felipe me prometer que, se o filme destruísse o que a gente fez, ele me sustentaria pelo resto da vida”, brinca Ana Caetano, que compartilhou a insegurança via mensagem no celular. Não foi preciso: o filme estreou em agosto em mais de 200 salas e entra no catálogo da Netflix nesta semana como um grande sucesso com o público jovem.

anavitória
Ao lado de Ana e Vitória: o conto de fadas moderno e musical virou filme (Divulgação/Veja SP)

O tino para a produção veio de pequeno. Nascido no Rio, ele costumava brincar de fazer shows com os amigos do prédio e indicar qual instrumento (de mentirinha) cada um deveria tocar. Durante a faculdade de publicidade, cursada em Curitiba, no Paraná, começou a organizar eventos. Apostou, na época, em um show dos Engenheiros do Hawaii, grupo que adorava. Na primeira sessão, calculou que precisaria de 1 000 pagantes para sair no zero a zero, no mínimo. Apareceram 700 pessoas, e seus sócios pularam fora para evitar mais prejuízos.

Sozinho, fez jogadas ainda mais arriscadas. Descolou o patrocínio de uma funerária (você leu certo) para uma festa de Halloween e vendeu mais de 2 000 ingressos. O histórico de investidas pessoais lhe garantiu um cargo de promotor de eventos na rede Fnac, em 2005. O próximo passo gigante veio com a contratação dos cariocas dos Los Hermanos, em turnê com Bloco do Eu Sozinho. O sucesso foi tanto que ele não parou mais de produzir shows na capital paranaense.

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De mudança para São Paulo, em 2010, Simas deu de cara com sua maior guinada, Tiago Iorc. O cantor já tinha seu primeiro disco e fazia um pequeno circuito de performances. Era preciso ampliá-lo. “Estava cansado de bater à porta dos espaços”, lembra. Em vez de “vender” o talento do seu pupilo e tentar garimpar algum bom cachê, decidiu alugar teatros e ficar com a arrecadação da bilheteria. “Saímos por conta própria porque sabíamos que ele tinha público.” Na estrada, passaram a viajar apenas os dois. Com estilo mão na massa, eles assumiram funções técnicas, como som e iluminação. A primeira apresentação com essa fórmula, em Brasília, deu lucro: 95 centavos. A curva ascendente ultrapassou os 100 000 reais por noite em São Paulo e no Rio de Janeiro no ano passado.

Tiago Iorc
Iorc: aposta do empresário (Divulgação/Veja SP)

O jeito de trabalhar chamou a atenção de outros empresários, entre eles André Bourgeois, da Urban Jungle, responsável por Céu e Chico César. “Simas entendeu o momento do mercado com talento”, diz. “Conseguiu colocar seus cantores no mainstream, preservando suas características autorais”, completa. “A verdade vende”, afirma Simas, que abraça feliz o papel de referência para os colegas e traçou alguns “mantras” para quem sonha empreender no mercado. Com Tiago Iorc, por exemplo, ele entendeu que a relação direta com o público pelas redes sociais era fundamental para convocar a plateia. Em 2016, conseguiu esgotar todas as entradas do grandioso Credicard Hall em uma semana.

Foi por meio da internet, inclusive, que Simas conheceu Ana Caetano e Vitória Falcão, as mocinhas da fábula de sucesso do início da reportagem. Elas enviaram para o empresário um vídeo de um cover da faixa Um Dia após o Outro, de Iorc. Impressionado com a exibição, Simas convocou-as para São Paulo. “Tínhamos espaço para elas”, afirma.

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Por se tratar de artistas muito jovens, então de 21 e 20 anos, respectivamente, e que iriam começar uma carreira do zero, estabeleceu algumas regras. Primeiro, “férias escolares”, ou seja, folgas em julho e janeiro, para que elas acompanhassem os amigos. Com uma sequência de shows com ingressos esgotados, as duas, Iorc e Simas levaram para casa, somados, dois prêmios Grammy Latino em 2017. “Foi uma realização, elas nunca tinham nem saído do país”, rememora.

Manu Gavassi com Simas
Manu Gavassi com Simas (Divulgação/Veja SP)

Para as garotas, o sentimento é só de gratidão. “Ele enxergou um caminho que a gente não tinha ideia que podia tomar, e essa aposta foi fundamental para a nossa vida”, explica Ana. Em menos de três anos de carreira, ficou para trás qualquer aperto. A equipe da turnê pulou de oito para 22 pessoas. O cachê de 40 000 reais agora é negociado em média por 125 000 reais, mas Simas não descarta as apresentações bancadas por ele com receita exclusiva da bilheteria.

O empresário não pensa em parar por aqui. Centralizador, faltam-lhe braços para abrigar mais artistas — além da carreira de Tiago Iorc e Anavitória, ele cuida da de Manu Gavassi. Mas a cabeça fervilhante planeja ainda um documentário, um livro e uma palestra sobre seu modo de trabalho, que devem sair do papel em dezembro. “Muita gente me pergunta sobre isso; queria uma oportunidade de compartilhar esse conhecimento”, diz.

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Avesso a formalidades de escritórios grandes, com crachás e segurança, Simas montou um espaço menor perto de sua casa, no centro. “Tem até uma cozinha pronta, onde várias reuniões são feitas.” Sem muitas horas vagas, ele aproveita as turnês para escapar para conhecer pontos turísticos e jogar tênis, esporte que cabe na rotina nômade. “Preciso me equilibrar para pôr em prática todas as ideias que me vêm.”

5 lições para o sucesso

O empresário dá dicas para empreender na música hoje

Voar com os pés no chão. Manter o contato com a realidade. “O viajante que escolhe rodar o mundo sempre volta para casa para viver as pequenas coisas que o fazem relembrar quem ele é.”

A verdade vende. Não forjar nem maquiar um talento. “Um artista se faz com a conjunção de dom, canção, voz, imagem. O ingrediente único e explosivo é a autenticidade.”

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CARTAZ Anavitória
O cartaz do filme da dupla (Divulgação/Veja SP)

Ser livre de amarras. Seguir receitas prontas é fracasso certo. “O receio de julgamento gera o péssimo hábito de podar a voz interior. O artista precisa se livrar dessas amarras para poder criar livremente.”

Viver a vida. Incentivar os artistas a se desligar do papel de “estrelas” é função do bom empresário. “A maior matériaprima do artista é criar sensações, e para isso é preciso vivenciar, desconectar-se, desligar o piloto automático e aproveitar o ócio.”

Tornar-se inevitável. Rever as estratégias comerciais do passado e investir no contato direto com o público. “Em vez de sair com o projeto debaixo do braço, trabalhe silenciosamente para que ele seja procurado. Atualmente, com a democratização dos processos de produção e distribuição na cadeia criativa, isso ficou possível. Vídeos na internet e viagens para se apresentar em espaços alternativos ajudam a divulgar o trabalho.”

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