A Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, será novamente ocupada por uma seleção de craques — das letras. A Feira do Livro, um evento gratuito que teve a primeira edição no ano passado, está de volta com 94 tendas (trinta a mais que na estreia), mais de sessenta autores, como Itamar Vieira Junior, Geovani Martins e Jericho Brown (poeta americano vencedor do Pulitzer) e atrações musicais com nomes da envergadura de Hermínio Bello de Carvalho e Arthur Nestrovski.
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“Tudo caminha para sermos incluídos no calendário oficial da cidade”, diz o editor Paulo Werneck, organizador do encontro, que vai de 7 a 11 de junho. A programação caprichada é um reflexo do otimismo — e dos bons lucros recentes — do setor com esse tipo de passeio cultural em São Paulo. Uma pesquisa da Nielsen recém-divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores Livreiros mostra que no ano passado, pela primeira vez, as feiras foram um dos cinco principais canais de vendas de livro no país na categoria obras gerais, que exclui os didáticos e religiosos.
Ainda são peixe pequeno: representaram 1,6% dos exemplares vendidos, enquanto 43,7% vieram dos comércios eletrônicos — que, pela primeira vez, desbancaram as livrarias de tijolo e concreto no ranking. Mas o crescimento desses festivais tem relevância além das cifras. “Nos e-commerces, a lista de mais vendidos se renova pouco. Normalmente é baseada em autores de domínio público. As editoras dependem das feiras para arejar o rol de escritores, principalmente depois da crise das grandes livrarias (como as redes Saraiva e Cultura)”, diz Diego Drumond, vice-presidente da CBL.
As feiras semelhantes do calendário paulistano também registram alta no movimento. A Festa do Livro da USP, sempre em novembro, teve 20 000 visitantes por dia na edição passada, contra 15 000 na última pré-pandêmica, em 2019. Na versão da USP Leste, feita em maio, o crescimento foi de 27%.
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“Além dos descontos (a feira é conhecida pelos títulos com 50% de abatimento), nosso plano é começar a ter programação cultural”, diz Márcio Pelozio, organizador da Festa. A Unesp criou um evento similar em abril de 2018, no câmpus da Barra Funda. “Em 2023, tivemos 130 editoras e um público recorde, com lotação no fim de semana”, afirma José Emilio Eloys, gerente comercial da editora da universidade.
Em 2022, a 26ª Bienal do Livro de São Paulo atraiu um recorde de 660 000 pessoas. Cada uma, em média, comprou sete livros e gastou neles 203 reais. “Tivemos um público tão grande que optamos por limitar a venda de ingresso nos últimos dias”, diz Drumond, da CBL, também organizador do evento. “As feiras e bienais reúnem uma quantidade de livros que nenhuma livraria tem, por isso são tão atrativas. Os visitantes vão abertos às descobertas, sem livro definido para comprar”, ele diz.
Nessa agenda anual da cidade, a Feira do Livro, no Pacaembu, é vista pelo mercado como uma celebração ao estilo da Flip, em Paraty (RJ) — cujo foco não é o volume de livros vendidos, mas a importância na divulgação literária.
A programação terá debates imperdíveis, como a conversa sobre Fernando Pessoa entre o biógrafo Lira Neto e o escritor e tradutor americano Richard Zenith, especializado no poeta português (sábado, 10, às 15h). “A Ruth Rocha (autora de livros infantis, de 92 anos) terá um estande próprio e deve passar pelo evento”, diz Werneck. As editoras farão ainda programações paralelas — a Companhia das Letras terá mais de quinze autores em uma tenda de 125 metros quadrados, com sessões de autógrafos de sucessos como Marçal Aquino, Aline Bei e Andréa Del Fuego.
Publicado em VEJA São Paulo de 7 de junho de 2023, edição nº 2844