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OLÁ,

“Eu era a psicóloga do meu marido”

Agora, Tatiana e Daniel se preparam para adotar o filho

Por Tatiana Ferreira Peres, 43, em depoimento a Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h26 - Publicado em 2 abr 2021, 06h00
Daniel na escada olhando para baixo Tatiana segurando o gatinho da família, Max
Daniel e Tatiana com o gatinho da família, Max (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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“Eu e Daniel, 40, estávamos casados havia apenas três meses quando passamos por complicações. Eu tive um AVC e, enquanto o lado esquerdo do meu corpo paralisava, a única coisa que pedia a Deus era mais tempo com meu marido. Após um ano, perdi nosso bebê. Descobri que tenho endometriose, o que torna difícil engravidar de forma natural. Tomar hormônios para fertilização in vitro seria arriscado por causa do derrame.

Um dia, passando em frente ao fórum, decidi pedir informação sobre adoção. Saí de lá com uma voz dentro de mim me dizendo “é isso”. Adoção também fazia sentido para Daniel. Demos entrada no processo em setembro de 2019 e em fevereiro deste ano recebemos uma ligação dizendo que encontraram nosso filho. Quando vimos a foto dele, foi amor à primeira vista. Estamos nas últimas etapas para adotar o João Victor, 6, para completar nossa família.

Eu conheci Daniel há dezesseis anos no consultório. Era sua psicóloga. Ele começou a trabalhar em São Paulo, vindo de Sorocaba, e procurou terapia para se adaptar aqui. Adorava atendê-lo e vibrei com suas conquistas ao longo de quatro anos, até que ele decidiu mudar de vida. Terminou com a namorada na época, marcou um intercâmbio para o Canadá e pediu para encerrar as consultas. Afirmou que eu era peça importante na vida dele e que a partir dali não queria ser mais cliente, mas amigo.

Do consultório fomos a um café, onde compartilhei minha vida. Eu o achava um homem atraente e interessante, mas meu sentimento por ele era quase maternal. Falei da minha filha, Letícia, hoje com 20 anos, do meu casamento rompido e do meu relacionamento, que não ia bem. Com o tempo, ele se viu apaixonado por mim. Pensei que era o que chamamos de ‘amor de transferência’; durante o tratamento é comum o paciente fantasiar sentimentos em relação ao psicólogo, mas, no caso, eu não era mais sua terapeuta.

Daniel, Tatiana e Letícia sorrindo para a foto
Daniel, Tatiana e Letícia (Reprodução/Arquivo Pessoal/Veja SP)
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Em uma ida à sorveteria, Daniel disse que me achava linda naquele vestido amarelo com decote trançado e me beijou. Acabei chorando aquele dia. Sentia culpa por estar ainda comprometida. Decidi resolver minha vida e terminei meu relacionamento. Só depois descobri que meu ex me traía e deixou dívidas no meu nome.

Finalmente solteira, passei um fim de semana com Daniel em Sorocaba. A paixão por ele me dava frio na barriga. Ele me olhava como se pudesse ter minha alma. Um mês depois, entretanto, embarcou para o Canadá. Continuamos conversando a distância e, durante uma videochamada, minha filha, então com 8 anos, disparou: ‘Por que você não namora minha mãe?’. Ele achava justo eu ficar ‘livre’ enquanto estava longe. Daniel conheceu outras pessoas lá, mas não conseguia ficar sem falar comigo.

A viagem deveria durar dez meses, porém ele retornou mais cedo por minha causa. De volta a São Paulo, ainda parecia distante. Dizia que eu era o amor da vida dele, mas não conseguiria ficar comigo. Daniel procurava alguém calmo e não dava conta da minha personalidade intensa. A verdade é que estava deprimido e eu, saudável. Ele se afastou e permanecemos assim por quatro anos. Ao longo do tempo conheci nove pessoas, mas não consegui me relacionar com nenhuma. Comecei a trabalhar em um escritório no Brooklin e, caminhando pela calçada, descobri que Daniel trabalhava na mesma rua.

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Ele veio falar comigo e confessou que ainda pensava em mim. Contou-me que havia superado a depressão e que, se não fosse pela doença, nunca teria me deixado. Eu não queria voltar a namorar, já tínhamos tentado isso. Se eu era a mulher da vida dele como dizia, então que se casasse comigo! Eu fiz o pedido e ele aceitou. Nossa cerimônia foi na umbanda: vestir branco é bem-vindo aos convidados, que nos recepcionaram com folhas de espada-de-são-jorge. Mergulhamos as alianças no mel para trazer doçura ao casamento e entrelaçamos nossas mãos com um laço dourado para eternizar nossa união.”

Daniel e Tatiana entram em sua cerimônia umbandista de casamento sendo recebidos pelos convidados segurando folhas de espada-de-são-jorge
Cerimônia umbandista: convidados seguram folhas de espada-de-são-jorge para receber os noivos (Reprodução/Arquivo Pessoal/Veja SP)

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Publicado em VEJA São Paulo de 07 de abril de 2021, edição nº 2732

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