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Debret, que pintou a colonização, é revisto por artistas contemporâneos no Museu do Ipiranga

"Debret toma os livros didáticos do Brasil, mas com uma interpretação torta", diz o sociólogo francês Jacques Leenhardt, curador da exposição

Por Ana Mércia Brandão
22 nov 2025, 08h00
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'Sapataria', de Debret: parte do livro 'Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil' (Acervo Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin/Divulgação)
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Na ocasião do bicentenário da Independência do Brasil, em 2022, o sociólogo francês Jacques Leenhardt, pesquisador da produção artística brasileira há quatro décadas, percebeu um movimento: o de retomada do imaginário do período colonial por artistas da nova geração. “Houve várias exposições em que eu reconheci a imagem do Debret trabalhada por esses novos nomes”, explica. Essa percepção do especialista em Jean-Baptiste Debret (1768-1848) deu origem ao seu livro Rever Debret (Editora 34, 2023), que se desdobra agora em uma nova exposição no Museu do Ipiranga, Debret em Questão — Olhares Contemporâneos.

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‘Espera da Reza pro Bater do Tambor’ (2024), da série ‘Radiola de Promessa’, de Gê Viana: releitura contemporânea (Acervo da artista/Cortesia Lima Galeria/Divulgação)

Com curadoria de Jacques, ao lado de Gabriela Longman, a mostra, que integra a Temporada França-Brasil 2025, inaugura na terça (25) e traz releituras críticas de vinte artistas contemporâneos das obras do pintor francês que integrou a corte de Dom João VI no Brasil. Em diálogo, são exibidas 35 pranchas litográficas provenientes da obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, impressa em Paris entre 1834 e 1839, que, explica Jacques, revela o Debret “da rua”, em oposição ao artista contratado para pintar a corte brasileira na Missão Artística Francesa. “Ele sentava na calçada e fazia desenhos do povo que circulava nas ruas do Rio de Janeiro. O livro é rejeitado pela corte e pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o que mostra como estava em contradição com o sistema escravagista do século XIX. É só no século XX que ele reaparece e toma os livros didáticos do Brasil, mas sem as explicações que o pintor dava no original. Então, a interpretação ficou, em boa parte, torta”, diz o sociólogo, que foi responsável pelas novas edições francesa e brasileira do texto, em 2014 e 2016, respectivamente.

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O curador Jacques Leenhardt (Victoria Louise/Conteúdo Comunicação/Divulgação)

“O importante da exposição é abrir uma leitura nova desse imaginário e mostrar como os artistas contemporâneos se colocam e abrem novos caminhos, porque a questão não é voltar ao passado, mas sim sair dessa violência da escravidão”, resume. Para isso, Debret em Questão conta com obras inéditas dos paulistanos Rosana Paulino e Jaime Lauriano. Paulino revisita a concepção histórica do Brasil como um paraíso idílico para revelar um território marcado pelo extrativismo. No painel triplo Paraíso Tropical, ela se aproveita de motivos emprestados de Debret, aos quais associa palavras carregadas do imaginário exótico. Lauriano apresenta a instalação Brasil através do Espelho, que aborda temas como etnocídio, apropriação cultural e democracia racial. Justiça e Barbárie, sua série de oito fotografias de violência encontradas nos meios de comunicação, também fica em exibição. Uma sala é dedicada a um desfile sobre Debret concebido pela Acadêmicos do Salgueiro para o Carnaval de 1959, registrado pelo fotógrafo Marcel Gautherot (1910-1996).

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Gê Viana, Denilson Baniwa, Dalton Paula e Tiago Sant’Ana são alguns dos outros artistas em exibição, em suportes como pintura, fotografia, vídeo, instalação e colagens digitais. A maioria é da nova geração, muitos de ascendência africana e indígena. A exceção é a veterana Anna Bella Geiger, 92. Jacques explica: “Me pareceu importante ter um ponto entre o passado e o presente que trate da tomada de consciência sobre como nosso olhar contemporâneo sobre as culturas indígenas é muito complicado. Por isso, peguei essa obra de 1975 onde você vê uma figura branca bem europeia com postais em frente aos olhos. É a dificuldade de ter um olhar que não seja o dos estereótipos”. ■

Museu do Ipiranga. Rua dos Patriotas, 100, Ipiranga. → Ter. a dom., 10h/17h (entrada até 16h). Grátis (somente essa exposição). Até 17/5/2026.

Publicado em VEJA São Paulo de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971.

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