Às vésperas de completar 80 anos, no próximo dia 19, a produtora de moda Costanza Pascolato lança o livro A Elegância do Agora. A obra traz conselhos de como fazer selfie, se vestir bem e dialogar em tempos de opiniões extremas. Ela divide ainda histórias sobre sua vida que renderiam um filme: saiu da Itália ainda pequena durante a II Guerra, sofreu anorexia e bulimia, terminou um casamento para ficar com um grande amor e com quem viveu durante 21 anos, perdeu a guarda das filhas, foi deserdada, passou por uma depressão e pensou em desistir de tudo.
A seguir, ela nos conta um pouco mais sobre sua trajetória e o que pensa sobre o mundo atual:
Teve alguma história que achou difícil relatar no livro? Aos 80 anos, você já desapega mais. Mesmo as coisas mais dolorosas da minha trajetória toda, eu enxergo como uma experiência superada. Trabalhei muito para isso. Minha vida foi bastante interessante, movimentada e nem sempre fácil. Teve a questão da separação, sofri uma série de coisas, muito bullying na questão profissional. Mas sempre fui achando um caminho. Sempre tive a sorte de trabalhar.
Como foi esse momento de ter sido deserdada e ficado longe das suas filhas? Não me arrependi de ter vivido aquilo, mas tem uma frase no livro que diz como foi uma das coisas mais duras que precisei enfrentar. Minhas filhas escreveram um livro, que deve ser lançado agora em novembro, e tem todos os detalhes dessa história.
O que as novas gerações têm a aprender com seus 80 anos de experiência? A disciplina não precisa ser rígida, mas precisa existir. Se você não coloca limite para criança, ela vai ser infeliz para sempre. E é o que está acontecendo no mundo contemporâneo: a liberdade absoluta, essa coisa de ficar mimando demais. É difícil criar um filho. Viraram sem limites e estão ficando cada vez mais perdidinhos. Cada vez mais jovens bebem, se drogam e não sabem o que é bom para eles. Não sabem que daqui alguns anos vão sofrer o revés de toda essa liberdade, essa “libertinagem”.
Você diz no livro que é melhor ter uma bolsa incrível que duas ou três medianas. Que dica você daria para uma pessoa que não tem condições de comprar itens caros ou de grife, mas gostaria de ficar elegante? Acho que, no caso de roupa, dá para comprar coisas boas em brechós, lojas on-line e tem até isso de alugar o guarda-roupa – sobretudo para quem é mais jovem. O futuro é ter menos roupas, até porque existirá menos espaço. Quando começou a questão do fast fashion, escolhia uma peça mais barata e outra cara. Hoje, fico escandalizada com a quantidade de peças que é lançada no mundo todo. As novas gerações estão começando a entender que não é bem assim que se tem que fazer.
Quais as diferenças mais drásticas entre a geração atual e a sua. O que te impressiona mais? Etiqueta foi meu pai que ensinou. Primeiro respeitar o espaço do outro. Você não fica invadindo. Isso não é só questão de etiqueta, são regras básicas que fazem com que você conviva melhor com os outros. Viver no coletivo e com qualquer classe social. Se caísse uma nuvem de entendimento no mundo, você ia ver como ia funcionar melhor o trânsito, as relações de trabalho. Por que não olhar para as pessoas no olho? Cumprimentar todo mundo?
Quem você considera uma pessoa elegante? Quem é a sua referência? Eu sempre achei a Fernandona [Fernanda Montenegro] o máximo. É o auge do chique. Ageless. Eu escrevi uma coluna falando da elegância e do glamour da mulher do George Clooney, sabe? Amal Clooney. Porque, além de tudo, ela tem conteúdo e obviamente usa isso a seu favor.
No livro você diz que fez trabalhos que considerava humilhante. Você pode falar mais sobre isso? Olha, para começar a minha carreira e crescer, eu fazia muito trabalho extra. E fui tratada muito mal. Não ligava porque sabia que quem trata mal desse jeito é porque não entendeu o que está fazendo e porque é um coitado. Tinha educação o suficiente para entender que era uma fragilidade deles. Eu fazia tudo, tudo.
Como você conseguiu se manter atemporal? Qual é o segredo? Curiosidade absoluta. Eu pareço uma criança. Eu pergunto mas por que? Por que? Por que? Me explicam uma coisa e eu continuo perguntando “por que?” Eu não consigo ficar sem saber mais.
Quais são os seus projetos atuais e próximos planos? Resistir. A Resistência. Eu estou numa loja francesa, então vou falar em francês: La Résistance!