Enquanto a Polícia Militar cancelou a coletiva de imprensa após quase 2h de atraso, os Racionais começaram a apresentação no Palco Júlio Prestes com 20 minutos de antecedência, para o delírio da multidão, que anteriormente cantou e dançou ao som de Criolo. O rapper Mano Brown condenou os arrastões ocorridos no Centro de São Paulo durante a primeira noite do evento. “A gente fala da polícia, mas ontem estive aqui de madrugada e vi muita covardia nas ruas do centro. Vários malandros ‘ramelando’, se agredindo, se desrespeitando. Vi dez manos roubando o Mizuno do moleque. Aquela porra custa 900 reais. O que vi ontem no Centro esta longe de ser evolução.”
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A PM deixou para o final do dia as explicações sobre os crimes que aconteceram na Virada Cultural, principalmente, durante a madrugada deste domingo (19) . “A organização como um todo vai juntar os dados para poder informar mais tarde a imprensa”, afirmou o coronel Pignatari. Apesar dos rumores, a Prefeitura negou uma crise com a PM. Duas mortes, seis pessoas baleadas, doze arrastões, agressões físicas, furtos e esfaqueamentos. Esse é o balanço até o momento da edição de 2013 do evento. Um homem morreu após levar um tiro na cabeça na Rua Rio Branco, altura do número 300, por volta das 5h, e outro por overdose.
Durante toda a madrugada deste sábado (18) para domingo (19), furtos e arrastões assustaram os frequentadores dos palcos mais concorridos: São João, Arouche e Largo de São Francisco. No Arouche, eram muitos os batedores de carteira. Um policial que não quis se identificar afirmou que o uso de drogas era alto no palco do Largo de São Francisco, onde se apresentaram artistas de música eletrônica. “É uma rave”, comparou. A violência virou até piada no Palco Stand-Up, um dos campeões de popularidade na Virada. “Quem já foi assaltado hoje?”, perguntou o humorista Luiz França, por volta das 2h30.
As ruas pouco iluminadas entre a Sé e o Vale do Anhangabaú fizeram com que muitos preferissem usar o metrô para se deslocar entre os palcos. De acordo com um agente da delegacia do Bom Retiro, onde foram registradas as ocorrências policiais da Virada, foram muitos os arrastões e os furtos de celulares, carteiras, bolsas e bonés. Ao menos onze pessoas foram presas por suspeitas de envolvimento nos roubos. Um balanço ainda será divulgado. Há uma informação de que um homem foi baleado na Avenida Ipiranga, perto do cinema Marabá, por volta das 22h30. Mas a polícia não detalhou o caso.
Uma das primeiras vítimas -anunciadas – da malandragem no centro foi o senador Eduardo Suplicy, ainda no início da noite de sábado. Durante o show de Daniela Mercury, ele teve celular e carteira furtados. Mais de dez minutos depois da apresentação ter se encerrado, Daniela e Suplicy subiram juntos ao palco para fazer um apelo ao bandido. Quinze minutos depois, ele voltou ao palco e disse ter recuperado os documentos, dizendo: “Se puder devolver também o celular, agradeço. Poupou um extraordinário trabalho ter devolvido os documentos”.
Em outros pontos do Centro, como a Praça da Sé e a 25 de Março, o clima era de mais de tranquilidade, com policiamento reforçado e poucas brigas. A Polícia Militar deteve, entretanto, seis suspeitos de participarem de um arrastão que envolveu cerca de 30 bandidos durante o show da banda Graveola e o Lixo Polifônico, no palco Cásper Líbero.
Além dos furtos, quem circulou pela madrugada também presenciou muitas confusões envolvendo pessoas alcoolizadas. As brigas, por vezes, levaram a atrasos no início das apresentações. Foi assim no Palco República. O rapper Rappin Hood até estendeu seu show por pouco mais de 40 minutos, antecedendo a apresentação do cantor americano Lonnie Liston Smith, marcada para 0h.
Neste domingo (19), Wanderléa deu início ao segundo dia de shows. A cantora subiu ao palco do Teatro Municipal pontualmente às 9h, aos gritos e aplausos do público. Apesar de ter sobrado ingressos na bilheteria, a apresentação seguiu com muita animação. Barracas com comidinhas como pastel foram montadas logo cedo na Rua 25 de Março enquanto Mombojó se apresentava tranquilamente.
Na hora do almoço, o movimento no Mercadão começou a crescer, também para ver o show do Choro da Contemporânea. Direto de Salvador, o Grupo Carnavalesco Ilê Aiyê já estremecia o Palco Arouche.
Exatamente ao meio-dia, uma multidão recebeu Criolo de braços abertos no Palco Júlio Prestes. O públicou cantou junto com o artista a música Não Existe Amor em SP. E, no Teatro Municipal, Jorge Mautner entrou com empolgação no mesmo horário.
Marcado para começar às 15h, o show dos Racionais teve início 20 minutos antes. Fãs garantiram lugar até mesmo em árvores. Por 1h, o grupo agitou o público. Logo no início da apresentação, seguranças tiveram que controlar uma confusão na área VIP. Tudo começou quando um rapaz tentou entrar correndo no espaço reservado. Ao ser barrado, ele aproveitou para jogar um cachimbo de crack e um isqueiro no palco. A Guarda Municipal reforçou a segurança durante a apresentação, que terminou com a música Vida Loka.
Leia abaixo o resumo do evento neste domingo:
TEATRO MUNICIPAL
O movimento estava tranquilo no entorno do Teatro Municipal por volta das 12h, com banheiros sem filas e barracas de pastel e caldo de cana vazias. A organização foi boa, com distribuição de ingressos sempre 2h antes de cada show, entrada tranquila e apresentações pontuais.
GASTRONOMIA
O Chefs na Rua também surpreendeu: muita variedade, preços razoáveis e, apesar do movimento intenso, filas fluindo bem. O ponto alto foi mesmo o porco servido pelo Jefferson Rueda, que montou uma estrutura impressionante, com nove churrasqueiras. Ambulantes vendiam as fichas em diversos pontos, situação que melhorava o fluxo de pessoas nas barracas.
PRAÇA JOSÉ GASPAR
Por volta das 13h, um pequeno público ocupava todas as cadeiras para ver as apresentações de pianistas, enquanto muitos comiam os quitutes da feirinha Chefs na Rua.
REPÚBLICA
As apresentações no local começaram atrasados. Amil Guineto, por exemplo, estava previsto para cantar às 14h, mas só deu início ao show às 15h30 com um público não muito numeroso, mas que acompanhava o sambista em coro.
AROUCHE
Felipe Cordeiro começou a apresentação 15 minutos antes do horário previsto, às 14h45. Cerca de 100 pessoas viam o músico paraense. Fafá de Belém também antecipou seu show. O público era mais velho e bastante numeroso. Alguns choraram quando ela cantou Nossa Senhora.
PRAÇA ROOSEVELT
Todas as cadeiras de plástico espalhadas pelo local para as peças de teatro estavam ocupadas durante Chorinho, com Denise Fraga e Claudia Mello. Skatistas dividiam o espaço com os espectadores, sem problemas.
JÚLIO PRESTES
O palco principal da Virada Cultural, montado na porta da Sala São Paulo, estava mais tranquilo do que se imaginava neste domingo (19). Os arrastões que assustaram o público em algumas regiões do centro não passaram pelo local, de acordo com policiais e frequentadores abordados pela reportagem. Furtos isolados, porém, não deixaram de acontecer. Apesar da anunciada fiscalização, ambulantes continuaram a vender vinho químico. Usuários de crack circularam por entre as rodinhas de amigos na praça.
Ao meio-dia, Criolo deu início ao clima de celebração pela forte presença do rap no evento, que começou com o duo Black Star e culminou com a esperada volta dos Racionais MC’s anos depois do trágico quebra-quebra entre público e polícia. O grupo de Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay entrou no palco vinte minutos antes do combinado (para poder assistir ao jogo Corinthians x Santos) acompanhado, como de praxe, de toda a sua banca.
Depois de Vida Loka, que encerrou a apresentação, o povo dispersou rapidamente e o pessoal da limpeza pode dar um talento no asfalto, que estava forrado de garrafas de plástico. Enquanto isso, o músico uruguaio Jorge Drexler aproveitou para fazer um ensaio com jeito de show. Simpático, voltou poucos minutos depois das 18h. Aos gritos de “lindo” da mulherada na plateia, interagiu em português e fez uma versão de Sampa. Romance no encerramento da Virada.
PONTOS ALTOS
– Banheiros: eram muitos, bem localizados e, na maior parte dos casos, sem filas
– Palcos da Praça da Sé: um dos pontos mais tranquilos da Virada, com muitos policiais e boa iluminação
– Metrô: apesar da lotação (no caso da estação República, principalmente), mostrou-se uma ótima opção para quem queria assistir a espetáculos em vários palcos sem se aventurar nas ruelas escuras do Centro
– Palco da 25 de Março: tal como na Praça da Sé, havia um grande número de policiais para garantir a segurança do público
PONTOS BAIXOS
– Violência: na região da República e do Arouche, o contingente de policiais não foi suficiente para impedir furtos e arrastões
– Iluminação precária: o Vale do Anhangabaú, um dos pontos principais da Virada, estava um breu. Algumas ruelas do Centro também assustaram muita gente
– Atrasos: no Palco 25 de Março, o show de Lirinha demorou 45 minutos para começar. Não foi exceção
– Falhas no som: tanto no Palco Stand-Up quanto no da 25 de Março, os ruídos prejudicaram os artistas e irritaram o público