Conheça os cirquemaníacos, os fanáticos pelo Cirque du Soleil
Eucimara trabalhou nos shows que vieram ao Brasil; Ricardo construiu maquetes das tendas; Fred tatuou símbolos da trupe; Silvana fez viagens internacionais só para vê-los

A beleza dos figurinos e dos cenários, o rigor e a técnica apurada, os números grandiosos e a sensação de deixar a rotina de lado e entrar num mundo encantado e aparentemente perfeito, por pelo menos duas horas, são apenas alguns dos motivos que levam dezenas de fãs de todo o mundo a idolatrarem o Cirque du Soleil.
+ Veja mais informações sobre o novo espetáculo Corteo, atualmente em cartaz na cidade
E não foi diferente com os brasileiros. Desde que a trupe desembarcou no país pela primeira vez, em 2006, com o espetáculo Saltimbanco, ela coleciona uma série de cirquemaníacos: fãs que não medem esforços para estar pertinho dos artistas e de todo o universo mágico que os rodeia.
A forma que Eucimara Linda, de 27 anos, encontrou para que o seu sonho se realizasse foi se candidatar a uma das vagas temporárias abertas pela trupe canadense a cada vez que aportam por aqui. Ela trabalhou nos quatro últimos espetáculos que passaram pelo Brasil e afirma que viveu os melhores momentos de sua vida junto ao grupo. “Minha função sempre foi de ‘usher’, uma espécie de recepcionista dos shows”, conta. “Acho que é a melhor delas, porque tive a oportunidade de atuar tanto dentro quanto fora da tenda e assistia aos espetáculos todos os dias!”.
Ela fazia de tudo um pouco, inclusive varrer a tenda após os shows, todas as noites. “Minha mãe nunca conseguiu entender o tamanho da minha paixão, que me fazia esquecer do tempo e passar horas com o circo”, lembra Eucimara, formada em artes cênicas e jornalismo. O trabalho durava, no mínimo, três meses, e o salário mensal foi de R$ 1 000,00 em média. Isso quando não decidia ser uma “follower”, o que significa viajar com a trupe para as outras capitais brasileiras previstas na turnê. E… pagar por todas as despesas. “Foi o tempo que tive menos dinheiro, mas fui mais feliz.”
Inevitavelmente, alguns amores surgiram em meio às turnês. Mais detalhes sobre o que rolou nos bastidores, Eucimara promete contar no livro que está preparando, ainda sem editora, chamado O Diário de uma Usher.
Foi por meio de Eucimara que Ricardo Marins, de 21 anos, de Ituverava, interior de São Paulo, teve a oportunidade de conhecer o Cirque du Soleil de pertinho e apresentar um trabalho autoral muito peculiar: a produção de maquetes dos espetáculos itinerantes que desembarcam no Brasil. Até o momento, ele se dedicou a quatro delas – para o Saltimbanco, em 2006, Alegría, em 2008, Quidam, em 2010, Varekai, em 2011 – e está em fase de finalização da de Corteo, em cartaz no Parque Villa-Lobos. “Marquei de entregar para eles no dia 18 de maio, às 14h”, conta. “Depois disso, o diretor-geral do espetáculo prometeu uma visita aos bastidores.”
Formado em Letras e atualmente desempregado, Ricardo faz tudo isso por hobby – e paixão pelo circo, é claro. A maquete de Saltimbanco, a maior de todas, levou um ano e um mês para ficar pronta. “Já construía maquetes de prédios e casas, porém nenhuma em escala real. Foi depois de assistir Saltimbanco que fiquei fascinado com a estrutura e decidi tentar construir uma”, relembra. E assim foi e continua sendo. A trupe ficou encantada com a destreza do garoto. E agora ele é convidado de honra a cada vez que eles trazem um novo espetáculo ao Brasil.
A paixão da secretária administrativa Silvana Monteiro pelo Cirque a levou mais longe: ela e o marido, Marcos Silveira, já fizeram diversas viagens internacionais só para assistir aos espetáculos do grupo espalhados pelo mundo. Tudo começou em uma viagem à Califórnia, em 2003, quando esticaram a estadia para conseguir conferir Mystère. “Me encantei, me apaixonei!”. No ano passado, ela ganhou uma viagem dele para Las Vegas: em nove dias de viagem, eles assistiram a cinco espetáculos. “Foi emoção desde quando fechamos a viagem, a cada ingresso comprado. Parecia um sonho… Até hoje não acredito e me emociono quando falo sobre isso.”

O show que ela mais gostou até hoje foi O, fixo em Las Vegas, encenado dentro da água. “É mágico, é encantador, é diferente, inusitado, indescritível, fantástico, perfeito!”, descreve, sem economizar nos adjetivos elogiosos, como uma boa cirquemaníaca.
O produtor Fred Itioka decidiu tatuar na pele o seu amor pelo Cirque. Ele tem duas tatuagens, uma no pulso, outra no antebraço: uma delas é o logo estilizado da companhia, um sol. “A simbologia do sol me agrada: tem a expansão, o calor, a energia, a metáfora da positividade. Exatamente o que o Cirque me passa”, afirma. “Fiz nos anos 90, me pareceu uma loucura de início, mas depois virou uma espécie de marca pessoal.”

Muitas das características que admira na companhia, Fred leva como mantra pessoal para sua vida. “O Cirque exerce um grande fascínio por sua qualidade. É resultado de muitos anos de pesquisa, de ensaio, de uma integração entre força e lirismo”, diz. “O Cirque tem uma mistura que salta aos olhos: é canadense, chinês, russo, brasileiro, americano, italiano. É como o mundo deveria ser: sem barreiras, egos ou disputas. Cada qual está lá para fazer o seu melhor.”