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OLÁ,

Casa de Hilda Hilst é aberta para visitas

Quase dez anos depois da morte da autora, imóvel permanece intocável

Por Juliene Moretti
Atualizado em 1 jun 2017, 17h47 - Publicado em 22 mar 2013, 18h49
Hilda Hilst - escritório
Hilda Hilst - escritório (RICARDO D`ANGELO/)
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Foi em busca de silêncio para preparar sua extensa obra (cerca de cinquenta livros) que a escritora Hilda Hilst trocou a vida de socialite em São Paulo pela fazenda da família, em Campinas. Ali, ela construiu a Casa do Sol, inaugurada em 1966, onde morou até a sua morte, em 2004.

+ Veja fotos da casa de Hilda Hilst

Quase dez anos depois, tem-se a impressão de que a residência está praticamente intocada. Localizada no condomínio Parque Xangrilá, é sede do Instituto Hilda Hilst e começou desde o ano passado a ser aberta com regularidade para visitas diurnas breves ou pernoites. A ideia veio anos atrás, de um de seus herdeiros, o escritor Mora Fuentes, ex-namorado de Hilda, que viveu no endereço mesmo quando ambos, já separados, tinham relacionamentos com outras pessoas.

Com a morte da autora, Fuentes, que havia se mudado de lá no início dos anos 90, na companhiada mulher, Olga Bilenky, entrou com o processo de tombamento do local, repassado aos dois em testamento. Para tanto, foi preciso regularizar uma dívida de IPTU que se estendia por dez anos. “Os atrasos somavam 3 milhões de reais”, relembra Daniel Fuentes, filho de Fuentes e de Olga, que deu continuidade ao projeto após o falecimentodo pai, em 2009.

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Com o objetivo de quitar o débito, parte do terreno fora dos muros da casa acabou vendida a uma empreiteira. O imóvel de seis quartos tem dois moradores fixos, Olga e o escritor Jurandy Valença, que se tornou amigo de Hilda por ser seu fã. Hoje, ele é diretor de projetos do instituto. Para cobrir os custos mensaisde 3.500 reais, o casal decidiu cobrar de visitantes. Entrar por algumas horas custa 25 reais, enquanto ficar no fim de semana sai por 200 reais e a estadia deum mês, por 3.000 reais. Nos dois últimos casos, é preciso ajudar nas compras de supermercado. “Recebemos apenas de duas a três pessoas por vez”, conta Valença. Existe ainda a exigência de que os frequentadores tenham um projeto para desenvolver, mesmo que não seja relacionado à literatura. “Não queremos ninguém de bobeira”, diz Daniel Fuentes. “Aqui é um lugar para se inspirar.”

Hilda Hilst - Maira e Tatiana
Hilda Hilst – Maira e Tatiana ()

Entre os hóspedes há desde pesquisadores literários até estilistas. Maíra Matos, roteirista, e Tatiana Muniz, atriz, alugaram recentemente um dos quartos. As duas participam de um curta de Maíra sobre a vida da escritora antes de chegar à cidade. Tatiana interpreta Hilda. Para incorporar a personagem, ela fez cenas pelo jardim vestindo túnicas e consumiu a marca de cigarros predileta da autora. “Eu não fumo, mas tento entender como ela se comportava.”

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Entre as mais de trinta pessoas que dormiram na Casa do Sol desde junho de 2012, quando o local passou a receber hóspedes, está a atriz Tainá Müller. Ela também produz uma ficção baseada em Hilda, em longa-metragem. Outro filme, em fase de captação de recursos, é o documentário Contato, de Gabriela Greeb, com cenas gravadas dentro do imóvel.  “A proposta é fazer um retrato da época e de como ela trabalhava, intercalando cenas reais, arquivadas em super-8”, relata Greeb. Quem chega deve se preparar para uma imersão no universo da escritora, que tinha a morte como tema recorrente de seus textos e afirmava se comunicar como além.

No último sábado (16), os moradores atravessaram a madrugada relatando experiências surreais ambientadas ali, como o episódio em que Fuentes foi correndo atender o telefone e contou ter esbarrado em uma asa “grande e pesada”, segundo ele aparentemente de um anjo. A iluminação baixa, composta totalmente de abajures, e os uivos dos doze cachorros que moram na propriedade completavam o clima soturno.

Hilda Hilst
Hilda Hilst ()
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Uma vistosa figueira no quintal da casa ajuda a engordar o folclore místico. O visitante que tocar a árvore e fizer um pedido, diz a lenda, será atendido. Essa tradição começou quando o escritor Caio Fernando Abreu disse a Hilda que gostaria de ter voz grossa. A anfitriã, então, sugeriu que ele transmitisse seu desejo para a figueira. Ele aproveitou e disse que desejava vencer também o Prêmio Fernando Chinaglia, do qual era finalista. Nos dois casos, teria tido êxito.

A partir de abril, a Casa do Sol será aberta, pela primeira vez, para uma peça de teatro — Jozú, o Encantadorde Ratos, monólogo interpretado por Carla Tausz. Daniel Fuentes organizou, pelo Facebook, uma campanha de arrecadação para custear o espetáculo. Em dois meses, conseguiu os 15.000 reais necessários.

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