Vai-Vai celebra Zé Celso e carnavalesco paulistano estreia na Mangueira
Confira os destaques do Carnaval 2025 em São Paulo e no Rio de Janeiro, com Sidnei França homenageando o diretor na escola de samba do Bixiga

É tempo de folia, cada vez maior em São Paulo. Pelo Sambódromo do Anhembi, dezenas de escolas de samba, e, pelas ruas, centenas de blocos desfilarão até o domingo (9).
Entre os tantos acontecimentos dos próximos dias, uma homenagem especialmente paulistana: a Vai-Vai, do Bixiga, celebra a vida de uma grande figura da arte brasileira, o diretor Zé Celso Martinez Corrêa (1937- 2023), fundador do Teatro Oficina, vizinho do bairro.
O carnavalesco por trás da homenagem é Sidnei França, que neste ano foi convidado para idealizar o cortejo de uma das principais representantes do Rio de Janeiro: a Mangueira. São duas grandes escolas em cidades diferentes, ao mesmo tempo — França sabe o exato tamanho do desafio.

“Sou o primeiro carnavalesco de São Paulo, que atuou antes no Carnaval paulistano, a fazer o desfile de uma escola carioca”, diz ele, que é nascido e criado na Casa Verde, e iniciou sua trajetória na Mocidade Alegre. A parceria rendeu quatro títulos (2009, 2012, 2013 e 2014). Em 2020, também saiu campeão do grupo especial com a Águia de Ouro.
Após aceitar os dois convites para 2025, montou uma equipe em cada cidade e se dividiu semanalmente entre São Paulo e Rio. “O Carnaval carioca tem outra temperatura. Lá, o carnavalesco é como o atacante do Flamengo (risos)”, compara.
O contraste também se faz no investimento. “Lá tem três vezes mais grana. Por isso, os desfiles são mais impactantes, tecnológicos e surpreendentes. O Sambódromo é o contrário: o Anhembi é muito mais confortável e estruturado que a Sapucaí”, opina.
A estreia do outro lado da Dutra provocou desconfiança. “O Carnaval do Rio é muito bairrista. No começo foi assustador — ‘que absurdo é esse, contratar um fotos roberto setton paulista?’, eu lia coisas assim nas redes sociais”, diz ele.

O desfile da verde e rosa pela passarela carioca, no domingo (2), trará o enredo À Flor da Terra — No Rio da Negritude entre Dores e Paixões, sobre a presença dos povos bantos — população da região centro-sudoeste da África. Em São Paulo, o enredo O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem encerrará os desfiles do sábado (1o).
O cortejo começa com um grande banquete no qual a escola “devora” Zé Celso. “Não é só uma homenagem ao diretor e ao Teatro Oficina, é uma homenagem também à Bela Vista e ao Bixiga”, diz Fernando Romano, membro da direção de Carnaval da escola.
Todas as fases da carreira do artista serão representadas na avenida, com referências a diversos espetáculos, presença de figurinos originais de peças e homenagem a Cacilda Becker (1921-1969). “O Oficina, na arquitetura, é inspirado em um sambódromo, e sempre foi um desejo grande do Zé ter um enredo sobre a companhia”, diz Camila Mota, atriz e diretora na Companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona.




Há uma década, a Vai-Vai conquistava seu troféu mais recente. De lá para cá, muita coisa mudou. O Carnaval de rua paulistano, por exemplo, tinha outra dimensão — em 2015, desfilaram 300 blocos. Neste ano, são 601 confirmados, e a expectativa do governo municipal é um público estimado de 16 milhões de pessoas e impacto econômico de 3,4 bilhões de reais.
“É o maior evento do país, e um dos maiores do mundo”, afirma Gustavo Pires, presidente da SPTuris. Neste ano, a estrutura de segurança envolve mais de 160 000 policiais militares, com 207 drones e 17 000 câmeras.

Além dos equipamentos fixos, a Secretaria de Segurança Urbana terá à disposição 23 000 câmeras do Smart Sampa, sistema de vigilância da prefeitura. Uma novidade será a presença do Smart Dog, robô com lentes capazes de fazer reconhecimentos faciais em tempo real.
Outra ação inédita será a distribuição de 2,2 milhões de copos d’água nos maiores trajetos. Assim como no ano passado, todos os blocos devem encerrar seus desfiles às 18h, com dispersão até as 19h.

Segundo Pires, as restrições de horários se dexvem à limpeza, à liberação das vias para os carros e à segurança. “Desde que o horário passou para as 18h, os números de furto, assédio e estupro diminuíram drasticamente”, diz.
Confira um roteiro do melhor do Carnaval de rua paulistano e também a programação de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. E, a seguir, destaques do pré-Carnaval na cidade, da festa carioca e do Sambódromo do Anhembi. (Colaboraram Sérgio Quintella e Ana Mércia Brandão)
ACADÊMICOS DO BAIXO AUGUSTA
O pré-Carnaval aconteceu no último fim de semana, com destaque para a saída de um dos blocos mais tradicionais da cidade, no domingo (23): o Acadêmicos do Baixo Augusta, fundado em 2009.

“Foi um dos nossos desfiles mais lindos”, diz o cofundador Alê Youssef, ex-secretário Municipal de Cultura de São Paulo. O cortejo levou à Consolação artistas como Tulipa Ruiz, Yago Oproprio, Otto e Tássia Reis, com homenagens ao sambista Jorge Aragão e ao porta-estandarte Marcelo Rubens Paiva.
“O samba e o Carnaval de São Paulo são constantemente diminuídos, mas a gente tem uma tradição que remete ao começo do século passado. Temos uma história riquíssima, por isso falamos de retomada do Carnaval de rua”, explica Youssef.
Sobre o atual modelo de gestão do evento, ele critica a restrição de horários. “É preciso achar uma estratégia para que exista Carnaval de rua noturno em São Paulo. Existe em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, e já houve aqui — não dá para aceitar, em um grande centro, isso de acabar às 18h”, afirma.
DESTAQUES DO CARNAVAL NO RIO DE JANEIRO
Camarote Folia Tropical
Compromisso social e entretenimento de primeira se encontram no Folia Tropical, camarote criado por Newton Mendonça e Agnes Nilsson, ao lado do filho Mickael Noah.

Com três pavimentos e seis ambientes no Setor 8 Especial, a experiência all-inclusive conta com cardápio assinado pela chef Andressa Cabral e shows de Criolo, Leci Brandão, Titãs, Os Garotin e Olodum.
Com treze anos de trajetória, foi o primeiro supercamarote da Sapucaí a vender ingressos além de receber convidados VIP. “Atuamos como operadores de Carnaval há bastante tempo, e somos uma empresa familiar”, define Mendonça.
Acessibilidade, incluindo intérpretes de libras, festa com temática LGBT e iniciativas sociais fazem parte do projeto. “Sou irmão de um rapaz com deficiência, que ama Carnaval. Por isso criamos o projeto Folia dos Amigos do Ton, em que levamos crianças em vulnerabilidade social para o sambódromo”, conta Noah.
Os ingressos custam a partir de R$ 1 990,00, no site da Ticketmaster Brasil.
Baile do Fairmont Rio
O Baile de Máscaras do Fairmont Rio acontece na sexta-feira (7) que antecede o desfile das campeãs, com o tema Jardim Tropical: entre Flores e Fantasias, o Paraíso É Real.

A festa contará com apresentações da cantora Iza e da escola Grande Rio, e a musa será a ex-BBB Alane Dias. A gastronomia será assinada pelo chef Jérôme Dardillac.
“Nos anos 2000, realizávamos o icônico Bal Masqué, que se tornou referência de glamour. Em pleno 2025, trazemos de volta essa tradição”, diz Netto Moreira, gerentegeral do hotel.
O evento, feito em parceria com o Camarote Arpoador, tem ingressos a partir de R$ 3 000,00 à venda no site da Ticketmaster Brasil.
DESTAQUES DO SAMBÓDROMO DO ANHEMBI
Camarote Bar Brahma
No ano em que completa 25 anos, o CBB terá shows de Alexandre Pires, Iza e Ferrugem, na sexta-feira (28); Jorge Aragão, Mumuzinho e Xande de Pilares, no sábado (1o); Diogo Nogueira e Raça Negra, no domingo (2); e Carlinhos Brown e Léo Santana, no desfile das campeãs (8).

A área vip inclui comes e bebes do Riviera Bar e do restaurante Notiê. Os ingressos custam a partir de R$ 1 990,00, com vendas pela Total Acesso.
Camarote Amstel Essepê
O espaço terá shows de Thiaguinho e Jeito Moleque, na sexta (28); Péricles e Turma do Pagode, no sábado (1o); Sorriso Maroto e Jonas Medeiros, no domingo (2); e Belo e Pixote, no desfile das campeãs (8).
Restaurantes como Pita Kebab e Sassá Sushi estão no cardápio e os ingressos custam a partir de R$ 1 007,40, no site da Ticket360.
Publicado em VEJA São Paulo de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933