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Como será a nova sede do Masp, no prédio vizinho, com túnel subterrâneo para o edifício de Lina Bo Bardi

Ao custo de 180 milhões, local de 14 andares terá café, restaurante, laboratório de restauração e exposição de Monet já programada

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h45 - Publicado em 19 ago 2021, 23h16
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  • Não é especulação sobre o além-morte, mas a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) e o empresário e colecionador Pietro Maria Bardi (1900-1999) devem se reencontrar na Avenida Paulista. Isso porque o casal vai dar nome aos edifícios do Masp. Assim no plural mesmo, pois a instituição vai expandir seu espaço com a reforma do prédio vizinho, no número 1510 da mesma via.

    Antes chamado Dumont-Adams, agora ele atenderá por Pietro Maria Bardi, que foi por 45 anos consecutivos diretor da instituição, criada pelo magnata da imprensa Assis Chateaubriand, em 1947. A previsão para inauguração do “novo” museu é janeiro de 2024. Por sua vez, a “antiga” sede, inaugurada em 1968 com a presença da rainha Elizabeth II, de colunas vermelhas a partir de 1989, homenageia quem a projetou, ou seja: Lina Bo Bardi.

    “Às vezes, temos uma exposição no mezanino, bem-feita, mas apertada. Precisamos de mais território”, reconhece o diretor artístico do museu, Adriano Pedrosa, que acredita que a ampliação consolida o trabalho já feito. “Não posso nos comparar com o MoMA (que passou por expansão recente) ou o Louvre, mas também não posso me comparar com outro museu latino-americano ou do Hemisfério Sul. O Masp não é mais ou menos, mas temos uma posição singular, uma voz própria no circuito internacional.”

    A imagem mostra a fachada atual do Masp, e de seu lado, o edifício Dumont-Adams, ainda uma obra incompleta.
    O Masp e o edifício-esqueleto vizinho (Leo Martins/Veja SP)
    A imagem mostra a faixada do Masp com o prédio Dumont-Adams finalizado em uma projeção. Ele é maior, em termos de tamanho, que o Masp e coberto por uma malha metálica.
    Projeção de como será em um futuro próximo: fachada do anexo feita em malha metálica para conter o calor (Metro Arquitetos/Divulgação)

    O anexo terá 7 800 metros quadrados e catorze pisos. Os seis primeiros, mais o pavimento de número nove, se destinam a exposições temporárias. O pé-direito será duplo, com mais de 5 metros de altura, e a planta, livre, o que significa ausência de colunas.

    “Com um sistema de climatização de última geração, vamos receber, em 2024, uma mostra de Francis Bacon (1909-1992) com pinturas a óleo, o que não é possível hoje, devido às limitações do imóvel atual”, adianta Heitor Martins, presidente da instituição, que revela também que para o ano de 2025 está agendada uma mostra com pinturas de Claude Monet (1840-1926).

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    O projeto do novo edifício tem dupla assinatura, de Júlio Neves, antigo diretor do museu, e da Metro Arquitetos, responsável pela adequação dos cavaletes de cristal, criados por Lina e hoje vistos na exposição Acervo em Transformação. “Uma membrana de alumínio perfurado envolverá toda a fachada e fará com que o prédio não esquente tanto”, detalha Martin Corullon, da Metro.

    Seus andares vão receber um laboratório de restauração, um mezanino e um espaço dedicado a cursos. No último subsolo, chamado -3, ficará a reserva técnica ampliada, com cerca de 500 metros quadrados. O que também significa economia, já que atualmente o museu aluga um espaço externo, porque o existente é insuficiente.

    O 2º subsolo servirá para carga e descarga de obras. O 1º subsolo acomodará a bilheteria, que sairá do vão-livre e se comunicará por meio de uma escada com o térreo, onde ficarão um café e o restaurante. “Estamos muito felizes com o A Baianeira”, diz Alfredo Setubal, presidente do conselho deliberativo e um dos principais acionistas da instituição do Banco Itaú, sobre o restaurante da chef Manuelle Ferraz, que deve mudar de endereço, já que o segundo subsolo do Masp original deve ser ocupado pelo acervo permanente. Depois de concluída a reforma, a entrada no museu se dará tanto pela Avenida Paulista quanto pela Alameda Casa Branca.

    “Vamos receber no novo prédio, em 2024, uma exposição de Francis Bacon (1909-1992) com pinturas a óleo”

    A imagem mostra a fachada, evidentemente desgastada, do Dumont-Adams, em uma visão da calçada olhando para cima.
    Entrada do Dumont-Adams em reforma (Leo Martins/Veja SP)
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    A imagem mostra um projeção do térreo do novo Dumont-Adams. O prédio está pronto e há um amplo espaço vazio em frente a ele.
    3D do terraço no térreo: inauguração prometida para 2024 (Metro Arquitetos/Divulgação)
    A imagem mostra um sala grande e vazia, com apenas uma pessoa nela, dando noção do tamanho do ambiente.
    Terceiro andar: espaço sem colunas, destinado a exposições (Metro Arquitetos/Divulgação)

    Júlio Neves, presidente do instituição de 1994 a 2008, período de intensa crise, o que incluiu o corte de energia do museu em 2006, criou a primeira proposta para o “anexo do Masp”. Isso era 2005, o Dumont-Adams tinha sido comprado pelo museu com dinheiro doado pela Vivo.

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    Em contrapartida, haveria no topo um mirante, suspenso em uma estrutura com altura de 70 metros. De lá, segundo Neves, que é arquiteto, formado na mesma turma de Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), daria para ver em dias calmos o mar. A vista idílica não comoveu o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).

    “Barramos a altura da construção, com o belvedere, que interferia na ambiência do próprio Masp, que é tombado nas esferas municipal, estadual e federal”, explica Mônica Junqueira, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, à época conselheira do órgão.

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    A imagem mostra o Prédio do Diários Associados. A foto é antiga, em preto e branco, e é um edifício com muitas janelas e horizontal.
    Prédio do Diários Associados na Rua Sete de Abril, no centro: primeira sede do MASP, inaugurada em 1947 (Juan Esteves/Divulgação)
    A imagem mostra Lina e Pietro, com posturas desleixadas, dentro do Masp, com o olhar perdido em direções diferentes.
    Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi: arquiteta e idealizadora do prédio do museu e diretor da instituição por 45 anos consecutivos (Juan Esteves/Divulgação)

    A celeuma somente iria se resolver em 2010, quando as obras começaram, mediante a aprovação de um projeto menos mirabolante. A história, pasmem, não termina aí, já que os recursos captados pela Lei Rouanet para a reforma foram insuficientes e o prazo para entrega em 2012 foi descumprido.

    A Vivo, que, em 2009, havia acordado essa data com o museu como condição para não pedir a devolução dos cerca de 13 milhões de reais já investidos, voltou à briga e as obras foram paralisadas. Quem diria que o Dumont-Adams, construído pelo engenheiro e fazendeiro Plínio Adams, casado com uma sobrinha de Alberto Santos Dumont (1873- 1932), ele mesmo, renderia uma contenda até 2015.

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    Nesse ano, o Masp conseguiu saldar parte de sua dívida com a empresa de telefonia parcelando o pagamento do montante de 10 milhões de reais, e o restante foi negociado em cotas de patrocínio. A aprovação de um túnel subterrâneo que liga os dois edifícios também saiu do papel, com aprovação, em 2019, na gestão Bruno Covas.

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    “Agora vai. Temos 85% do valor necessário captado”, revela Alfredo Setubal. A soma total da empreitada é de 180 milhões de reais, advinda de doações de pessoas físicas. “Nesse momento, o que posso dizer é que são entre dez e vinte famílias de São Paulo e Rio de Janeiro”, deixa escapar Setubal.

    A imagem mostra uma projeção 3D do café ao lado do Masp. São várias pequenas mesas de madeira e um espaço bem aberto, com uma parede vidro ao lado.
    Proposta: área do café e restaurante do prédio Pietro Maria Bardi (Metro Arquitetos/Divulgação)
    A imagem mostra um canteiro de obras, com dois funcionários trabalhando em meio a terra. Ao fundo, é possível ver uma parte do Masp acima de um tapume do canteiro.
    Início das obras: edifício Dumont-Adams em reforma (Leo Martins/Veja SP)

    Parte dos paulistanos, calejada com esse vai e não vai, vê com bons olhos a resolução do conflito. “Trabalho aqui há vinte anos e esse prédio nunca funcionou. Se estão dizendo que vão abrir, é bom”, diz, um tanto lacônica, uma funcionária da banca Poliana, em frente à construção.

    Mais animada é a coordenadora do Instituto Maurício Nogueira Lima, Stela Politano, que se dedicou em sua dissertação de mestrado a estudar a Exposição Didática, realizada por Pietro no começo do museu. “O Masp tem um acervo incrível (com mais de 15 000 obras), que só foi possível graças às articulações internacionais que ele tinha. É muito justa a homenagem.”

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    Também faz coro o técnico de segurança da construção Marcelo de Souza, que, ao saber que os planos de expansão vão ser divulgados na imprensa nesta sexta (20), diz: “Vamos virar o centro das atenções.”

    A imagem é uma montagem com duas obras. À esquerda, uma pintura com duas moças de vestido em uma canoa. À direita, a obra de Bacon, é um homem careca pintado de forma artística, em um fundo amarelo.
    A Canoa Sobre o Epte (1890), de Monet, do acervo, e Cabeça (1992), de Bacon, exibido no Brasil em 2014: artistas de mostras previstas (João Musa/Elettra Giulia Bastoni/Divulgação)

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    Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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