Como será a nova sede do Masp, no prédio vizinho, com túnel subterrâneo para o edifício de Lina Bo Bardi
Ao custo de 180 milhões, local de 14 andares terá café, restaurante, laboratório de restauração e exposição de Monet já programada
Não é especulação sobre o além-morte, mas a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) e o empresário e colecionador Pietro Maria Bardi (1900-1999) devem se reencontrar na Avenida Paulista. Isso porque o casal vai dar nome aos edifícios do Masp. Assim no plural mesmo, pois a instituição vai expandir seu espaço com a reforma do prédio vizinho, no número 1510 da mesma via.
Antes chamado Dumont-Adams, agora ele atenderá por Pietro Maria Bardi, que foi por 45 anos consecutivos diretor da instituição, criada pelo magnata da imprensa Assis Chateaubriand, em 1947. A previsão para inauguração do “novo” museu é janeiro de 2024. Por sua vez, a “antiga” sede, inaugurada em 1968 com a presença da rainha Elizabeth II, de colunas vermelhas a partir de 1989, homenageia quem a projetou, ou seja: Lina Bo Bardi.
“Às vezes, temos uma exposição no mezanino, bem-feita, mas apertada. Precisamos de mais território”, reconhece o diretor artístico do museu, Adriano Pedrosa, que acredita que a ampliação consolida o trabalho já feito. “Não posso nos comparar com o MoMA (que passou por expansão recente) ou o Louvre, mas também não posso me comparar com outro museu latino-americano ou do Hemisfério Sul. O Masp não é mais ou menos, mas temos uma posição singular, uma voz própria no circuito internacional.”
O anexo terá 7 800 metros quadrados e catorze pisos. Os seis primeiros, mais o pavimento de número nove, se destinam a exposições temporárias. O pé-direito será duplo, com mais de 5 metros de altura, e a planta, livre, o que significa ausência de colunas.
“Com um sistema de climatização de última geração, vamos receber, em 2024, uma mostra de Francis Bacon (1909-1992) com pinturas a óleo, o que não é possível hoje, devido às limitações do imóvel atual”, adianta Heitor Martins, presidente da instituição, que revela também que para o ano de 2025 está agendada uma mostra com pinturas de Claude Monet (1840-1926).
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O projeto do novo edifício tem dupla assinatura, de Júlio Neves, antigo diretor do museu, e da Metro Arquitetos, responsável pela adequação dos cavaletes de cristal, criados por Lina e hoje vistos na exposição Acervo em Transformação. “Uma membrana de alumínio perfurado envolverá toda a fachada e fará com que o prédio não esquente tanto”, detalha Martin Corullon, da Metro.
Seus andares vão receber um laboratório de restauração, um mezanino e um espaço dedicado a cursos. No último subsolo, chamado -3, ficará a reserva técnica ampliada, com cerca de 500 metros quadrados. O que também significa economia, já que atualmente o museu aluga um espaço externo, porque o existente é insuficiente.
O 2º subsolo servirá para carga e descarga de obras. O 1º subsolo acomodará a bilheteria, que sairá do vão-livre e se comunicará por meio de uma escada com o térreo, onde ficarão um café e o restaurante. “Estamos muito felizes com o A Baianeira”, diz Alfredo Setubal, presidente do conselho deliberativo e um dos principais acionistas da instituição do Banco Itaú, sobre o restaurante da chef Manuelle Ferraz, que deve mudar de endereço, já que o segundo subsolo do Masp original deve ser ocupado pelo acervo permanente. Depois de concluída a reforma, a entrada no museu se dará tanto pela Avenida Paulista quanto pela Alameda Casa Branca.
“Vamos receber no novo prédio, em 2024, uma exposição de Francis Bacon (1909-1992) com pinturas a óleo”
Júlio Neves, presidente do instituição de 1994 a 2008, período de intensa crise, o que incluiu o corte de energia do museu em 2006, criou a primeira proposta para o “anexo do Masp”. Isso era 2005, o Dumont-Adams tinha sido comprado pelo museu com dinheiro doado pela Vivo.
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Em contrapartida, haveria no topo um mirante, suspenso em uma estrutura com altura de 70 metros. De lá, segundo Neves, que é arquiteto, formado na mesma turma de Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), daria para ver em dias calmos o mar. A vista idílica não comoveu o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
“Barramos a altura da construção, com o belvedere, que interferia na ambiência do próprio Masp, que é tombado nas esferas municipal, estadual e federal”, explica Mônica Junqueira, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, à época conselheira do órgão.
A celeuma somente iria se resolver em 2010, quando as obras começaram, mediante a aprovação de um projeto menos mirabolante. A história, pasmem, não termina aí, já que os recursos captados pela Lei Rouanet para a reforma foram insuficientes e o prazo para entrega em 2012 foi descumprido.
A Vivo, que, em 2009, havia acordado essa data com o museu como condição para não pedir a devolução dos cerca de 13 milhões de reais já investidos, voltou à briga e as obras foram paralisadas. Quem diria que o Dumont-Adams, construído pelo engenheiro e fazendeiro Plínio Adams, casado com uma sobrinha de Alberto Santos Dumont (1873- 1932), ele mesmo, renderia uma contenda até 2015.
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Nesse ano, o Masp conseguiu saldar parte de sua dívida com a empresa de telefonia parcelando o pagamento do montante de 10 milhões de reais, e o restante foi negociado em cotas de patrocínio. A aprovação de um túnel subterrâneo que liga os dois edifícios também saiu do papel, com aprovação, em 2019, na gestão Bruno Covas.
“Agora vai. Temos 85% do valor necessário captado”, revela Alfredo Setubal. A soma total da empreitada é de 180 milhões de reais, advinda de doações de pessoas físicas. “Nesse momento, o que posso dizer é que são entre dez e vinte famílias de São Paulo e Rio de Janeiro”, deixa escapar Setubal.
Parte dos paulistanos, calejada com esse vai e não vai, vê com bons olhos a resolução do conflito. “Trabalho aqui há vinte anos e esse prédio nunca funcionou. Se estão dizendo que vão abrir, é bom”, diz, um tanto lacônica, uma funcionária da banca Poliana, em frente à construção.
Mais animada é a coordenadora do Instituto Maurício Nogueira Lima, Stela Politano, que se dedicou em sua dissertação de mestrado a estudar a Exposição Didática, realizada por Pietro no começo do museu. “O Masp tem um acervo incrível (com mais de 15 000 obras), que só foi possível graças às articulações internacionais que ele tinha. É muito justa a homenagem.”
Também faz coro o técnico de segurança da construção Marcelo de Souza, que, ao saber que os planos de expansão vão ser divulgados na imprensa nesta sexta (20), diz: “Vamos virar o centro das atenções.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752
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