Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br

Bienal de São Paulo começa neste sábado com arte de 120 artistas

Maior mostra de arte contemporânea da América Latina terá obras de 50 países, programação gratuita e expectativa de 800 mil visitantes

Por Ana Mércia Brandão, Humberto Abdo
Atualizado em 4 set 2025, 17h30 - Publicado em 4 set 2025, 14h34
A partir da esquerda, os curadores Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung e Anna Goetz. OS quatro encaram a câmera de perto
A partir da esquerda, os curadores Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung e Anna Goetz (Masao Goto Filho/Veja SP)
Continua após publicidade

Percorrer os amplos salões de concreto do prédio projetado por Oscar Niemeyer durante a Bienal de São Paulo é estar em contato com diferentes linguagens e nacionalidades. A 36ª edição da maior exposição de arte do Hemisfério Sul, Nem Todo Viandante Anda Estradas — Da Humanidade como Prática, inaugura neste sábado (6), com obras de 120 artistas, de cerca de cinquenta países.

“Mas não vira uma Babel”, afirma Andrea Pinheiro. “É lindo ver como eles se apoiam e estão interessados nos trabalhos uns dos outros”, completa Maguy Etlin. As duas formam a primeira dupla feminina de presidente e vice, respectivamente, da Fundação Bienal de São Paulo. Andrea é a segunda mulher no cargo — antes dela, Maria Rodrigues Alves assumiu em 1993.

Expectativa de público

36ª Bienal de São Paulo: pintura de Tanka Fonta na
36ª Bienal de São Paulo: pintura de Tanka Fonta na “âncora” do evento (Masao Goto Filho/Veja SP)

Pela primeira vez, a mostra ficará em cartaz por quatro meses, um a mais que o normal. A expectativa é de que o público cresça dos cerca de 660 000, da 35ª edição, para 800 000.

A extensão parte de uma tentativa do evento de atrair os mais jovens, englobando o período de férias escolares.

“Queremos chegar a 100 000 crianças no programa educacional de visitas mediadas neste ano”, diz Andrea. “A meta é acentuar o acesso à cultura e arte”, resume Maguy.

Curadoria

A dupla instituiu um comitê de oito pessoas para a escolha do curador — o camaronês radicado em Berlim Bonaventure Soh Bejeng Ndikung — outra novidade nos trâmites da Fundação.

Continua após a publicidade
A partir da esquerda, os curadores Anna Goetz, Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison e Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, todos de pé em pavilhão
A partir da esquerda, os curadores Anna Goetz, Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison e Bonaventure Soh Bejeng Ndikung (Masao Goto Filho/Veja SP)

Antes, a prerrogativa era apenas do presidente, que recebia aconselhamento de maneira informal. Bonaventure formou a equipe curatorial, composta por Alya Sebti (Casablanca, Marrocos), Anna Goetz (Basileia, Suíça), Thiago de Paula Souza (São Paulo) e Keyna Eleison (Rio de Janeiro), com a proposta de repensar o conceito de humanidade enquanto verbo, inspirado no poema Da Calma e do Silêncio, de Conceição Evaristo.

Processo coletivo

O trabalho dos curadores é resultado de viagens internacionais e encontros semanais feitos religiosamente por mais de um ano. Mas a edição colorida e repleta de elementos digitais, segundo eles, não foi intencional.

“A cor veio junto com a poesia, a música e a discussão arquitetônica, e ela pode gradativamente mostrar que estamos mudando de ambiente e ritmo”, explica Keyna. “Os trabalhos em si já trazem um elemento cromático forte. E você também viu como Bonaventure se veste, né?”, diverte-se Thiago, ao citar o estilo extravagante do camaronês.

Arquitetura

Quadros de Márcia Falcão em parede vermelha
Quadros de Márcia Falcão (Masao Goto Filho/Veja SP)
Continua após a publicidade

O projeto arquitetônico foi assinado por Tiago Guimarães e Gisele de Paula (primeira arquiteta negra a participar da Bienal), e conecta os três andares com o mínimo de salas e paredes fechadas.

Parte das obras explora essa configuração, como A Casa de Vovô Bené, de Ana Raylander Mártis dos Anjos, instalação composta por colunas de madeira e peças de roupas usadas, e as criações de Frank Bowling, que aos 91 anos ganha uma pequena retrospectiva com obras espalhadas por todos os pisos.

Andares em sincronia

Radiolas em instalação de Gê Viana
Radiolas em instalação de Gê Viana (Masao Goto Filho/Veja SP)

No centro da rampa, a “âncora” pintada pelo artista compositor Tanka Fonta é outro exemplo da fusão dos níveis do prédio e também faz referência à metáfora de estuário, pensada para a configuração do pavilhão.

“É o encontro de rios e de várias águas, com densidades diferentes, às vezes em lugares férteis ou muito escuros”, define Thiago.

Continua após a publicidade

Não é regra, mas eles sugerem que a visita comece pelo térreo, que foi pensado quase como uma extesão do parque.

Seleção artística

À direita, a artista Precious Okoyomon criou literalmente um jardim, com pedras, plantas, árvores, musgos e até uma pequena lagoa com peixes. “Se um dia você precisar de alguém para construir um lago artificial, o Thiago hoje sabe tudo”, brinca Keyna.

obra de Nádia Taquary exibe silhuetas, duas, de rosto abaixado, em frente a grande árvore de tecido amarelo
Obra de Nádia Taquary: destaque brasileiro (Masao Goto Filho/Veja SP)

Otobong Nkanga, da Nigéria, vai abrir os dois pisos superiores do Pavilhão com suas tapeçarias.

Fotos analógicas e em polaroid compõem o espaço expositivo de Manauara Clandestina, que une audiovisual, dança, música e moda em sua trajetória artística. Uma base triangular prateada mantém a série fotográfica, rodeada de instalações em tecido. “Minha Belas Artes foi a Assembleia de Deus”, diz ela, em referência às práticas de canto e coreografia na igreja quando era criança.

Continua após a publicidade
Pnoê /Respirar (2025), de Berenice Olmedo
Pnoê /Respirar (2025), de Berenice Olmedo (Masao Goto Filho/Veja SP)

Radiolas que remetem às festividades maranhenses e ao subgênero reggae roots fazem parte da instalação de Gê Viana, com uma estrutura que envolve colagens e uma escultura, criando uma espécie de mangue. O sistema de som vai funcionar de verdade, emitindo barulho de tambor e da mata.

“Definitivamente não somos uma Bienal muda, as ondas sonoras vão estar presentes de várias formas”, diz Keyna.

No terceiro piso, um conjunto de onze esculturas representa os caminhos da planta paxiúba, fruto de observações da soteropolitana Rebeca Carapiá, que descobriu a espécie de palmeira em Inhotim. “Alguns biólogos dizem ser mito, mas a história é que ela caminha 20 metros por ano”, diz. “Enxergo esse movimento e o aplico na perspectiva da minha existência como mulher sapatão e nascida na periferia.”

After the Appeal Will Come The Next / Após o apelo virá a próxima entrega (2025), por Christopher Cozier
After the Appeal Will Come The Next / Após o apelo virá a próxima entrega (2025), por Christopher Cozier (Masao Goto Filho/Veja SP)
Continua após a publicidade

A paranaense Lidia Lisbôa, radicada em São Paulo, revela peças em crochê da série Tetas que Deram de Mamar ao Mundo, inspirada em sua própria vivência como mãe. “Aprendi a fazer crochê aos 5 anos, antes mesmo de ler”, conta.

Portals to Submerged Worlds / Portais para mundos submersos, de Moffat Takadiwa
Portals to Submerged Worlds / Portais para mundos submersos, de Moffat Takadiwa (Masao Goto Filho/Veja SP)

Maxwell Alexandre adianta: “Não é o que esperam encontrar de mim.” O carioca, que venceu o APCA de melhor exposição de 2024, apresenta uma obra nova da série Cubo Branco, se afastando da figuração para construir uma instalação arquitetônica no espaço, que receberá obras de outros artistas.

“Enxerguei a Bienal como uma chance de explorar a coletividade no meu trabalho, que costuma ser bem individual”, explica.

A seleção tem ainda novas obras de outros nomes quentes da cena contemporânea brasileira, como Sallisa Rosa, Márcia Falcão e Nádia Taquary, ao lado de peças de artistas já falecidos, como Heitor dos Prazeres e Zózimo Bulbul.

Obra de Rebeca Carapiá
Obra de Rebeca Carapiá (Masao Goto Filho/Veja SP)

Programação

Além da exposição no Pavilhão, a Bienal se desdobra em um ciclo de performances (também gratuitas), na Casa do Povo, no Bom Retiro, de cinco artistas: Alexandre Paulikevitch, Boxe Autônomo, Dorothée Munyaneza, Marcelo Evelin e o grupo de teatro Mexa.

E uma adição de última hora: as imagens analógicas que Akinbode Akinbiyi fotografou no espaço durante sua residência artística em São Paulo, em março e abril deste ano, comissionada pela Bienal. Ele gostou tanto da Casa do Povo que pediu para expor lá, somando-se às 24 obras do ensaio que estão no Pavilhão.

O britânico de 79 anos de origem nigeriana criou uma conexão com São Paulo: “Visitei a República, o Brás, a Sé… É uma cidade muito dinâmica”. Outros destaques internacionais são a francesa Laure Prouvost e o colombiano Oscar Murillo, compondo a jornada humana.

Parque Ibirapuera, Portão 3. Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Acessível a cadeirantes. 10h/19h. De 6/9 a 11/1/2026. Grátis. 36.bienal.org.br

Andrea Pinheiro e Maguy Etlin, à frente da Fundação Bienal
Andrea Pinheiro e Maguy Etlin, à frente da Fundação Bienal (Masao Goto Filho/Veja SP)
Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

A partir de 35,90/mês