Orçada em 26 milhões de reais e com previsão de receber 1 mi lhão de pessoas durante três meses, a 33ª Bienal de São Paulo será aberta nesta sexta (7), feriado da Independência, com o conceito de um arquipélago. Das dezenove ilhas, doze funcionam como mostras individuais, escolhidas pelo curador- chefe, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro. As demais são exposições coletivas construídas por sete artistas, que ocupam o papel de curadores-assistentes do evento.
Em defesa de uma pluralidade, não há tema, somente um título: Afinidades Afetivas. Trata-se de uma combinação entre o nome do romance Afinidades Eletivas (1809), do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, e o da tese de doutorado “Da natureza afetiva da forma na obra de arte” (1949), do crítico brasileiro Mário Pedrosa. “Os visitantes terão de construir seu significado”, afirma Pérez-Barreiro. A expografia é assinada pelo arquiteto Álvaro Razuk. Nas próximas páginas, confira detalhes das exposições e uma linha do tempo.
Tunga. Esculturas do pernambucano, morto em 2016, como a obra da série From “Va Voie Humide” (2014), integram a mostra de Sofia Borges. A paulista guiou-se por alquimia e mitologia em sua curadoria.
Cogumelos colaborativos. No térreo do pavilhão está a exposição do espanhol Antonio Ballester Moreno, que conta com cerca de 2 000 obras de barro cozido produzidas por estudantes e funcionários da Fundação Bienal.
Para reinventar Andy Warhol. A americana Elaine Sturtevant, morta em 2014, reinterpreta as serigrafias com vacas do pai da pop art. A obra colorida é parte do núcleo do uruguaio Alejandro Cesarco.
Efeito paralelo. O circuito cultural se aquece com a realização da Bienal. Em agosto, mais de trinta exposições em galerias e instituições culturais foram abertas. Até sexta (7), mais dez serão inauguradas. Em uma conta rápida, nasce em média uma mostra por dia em SP.
Pedras no pavilhão. Nesta edição, o prédio é ocupado de forma diferente. Portal Solar 5.12 (2018), de Alessandra Meili, Rebecca Sharp & Sofia Borges, por exemplo, está perto das rampas. Há espaços vazios também, que servem para refletir sobre as mostras.
Seleção sueca. No núcleo da curadora sueca Mamma Andersson, autora de Dog Days (acima; 2011), há obras de mais de dez artistas, entre eles seus conterrâneos Ernst Josephson (1851-1906) e Bruno Knutman (1930-2017).
LINHA DO TEMPO
Alguns momentos marcantes da Bienal de Artes de São Paulo, criada há quase setenta anos em um prédio na Avenida Paulista e considerada uma das mais importantes do mundo
1951. A mais importante mostra do país nasceu em 1951. Foi organizada pelo Museu de Arte Moderna (MAM), que era presidido pelo industrial Ciccillo Matarazzo (1898- 1977). Os arquitetos Luís Saia (1911-1975) e Eduardo Kneese de Mello (1906-1994) foram responsáveis pelo prédio (à dir.), na Avenida Paulista, que recebeu 1 854 obras, de 21 países, como França e Alemanha. Entre os artistas brasileiros estavam Di Cavalcanti e Maria Martins.
1953. Em sua segunda edição, a Bienal trocou a Paulista pelo Parque Ibirapuera, onde ocupou dois prédios. A sensação da mostra foi Guernica (1937), de Pablo Picasso. Até Juscelino Kubitschek (o segundo, da dir. para a esq.) quis admirá-la.
1961. Ao completar seis edições, a exposição apresentou 4 990 obras, o maior número visto em sua história. Na seleção estavam esculturas da série Bichos, de Lygia Clark (1920- 1988), e pinturas do alemão Kurt Schwitters (1887-1948), que participou do dadaísmo.
1975. Nesse ano, a Bienal exibiu TV Garden (1974), do sul-coreano Nam June Paik (1932-2006), em que monitores de vídeo e plantas apareceram juntos. Siron Franco, que volta para a atual edição, esteve presente com a série Fábulas de Horror.
1981. A mostra passou a ser organizada por um curador-geral, o que se mantém até hoje. O historiador Walter Zanini, que dirigiu o MAC-USP por quinze anos, foi o primeiro a ocupar o posto.
1996. A 23ª edição contou com 75 países, o maior número já visto no evento. Na mostra estavam gravuras do espanhol Francisco de Goya e pinturas do americano Jean-Michel Basquiat.
2008. Em meio a crises, de formato e econômica, a Bienal foi surpreendida por pichadores que deixaram suas marcas no prédio. Nessa edição, o 2º andar estava vazio e o tema era Em Vivo Contato.
2010. Entre as 850 obras da exposição, duas tiveram maior repercussão. Uma foi Inimigos (abaixo; 2005), série em que o pernambucano Gil Vicente se autorretrata matando figuras, como George W. Bush. Na segunda, Bandeira Branca, o paulistano Nuno Ramos colocou três urubus no vão do prédio.