Fazia quatro anos que o Cirque du Soleil, trupe baseada no Canadá, não desembarcava em São Paulo. Antes mesmo da estreia de Amaluna, prometida para a última quinta (5), cerca de 100 000 fãs já haviam comprado seus ingressos para acompanhar o espetáculo de números tecnicamente impecáveis, sempre embalados por uma trilha sonora grandiosa.
No palco da tenda principal, montada no Parque Villa-Lobos (o equipamento transportado em noventa caminhões levou cinco dias para ficar pronto), a novidade é uma história sobre mulheres, contada por um elenco 65% feminino e uma banda formada só por elas.
A trama se passa numa ilha misteriosa, governada por deusas, onde Miranda, filha da rainha Prospera, se apaixona pelo jovem marinheiro Romeo. É longe dos holofotes, na parte de trás do picadeiro, porém, que a faceta mais surpreendente do grupo se revela.
Os 46 artistas da trupe chegam a se exercitar duas horas por dia, entre preparativos e aquecimento. Eles também são responsáveis pela montagem da área de treinos, desde a hora de desempacotar os materiais. Como protagonizam números de alto risco e complexidade, os profissionais precisam pôr a mão na massa para checar pessoalmente detalhes como o posicionamento dos holofotes.
A proibição do uso de flashes durante as apresentações tem a finalidade de não desconcentrar os integrantes para não pôr em risco a segurança deles. Durante os ensaios, extremamente silenciosos, é possível ver no mesmo espaço grupos repassando coreografias, fazendo alongamento, treinando saltos e equilibrismo de ponta cabeça numa mão só (em cima de uma estaca minúscula, para dificultar, é claro).
Os membros da trupe ficam instalados em diversos hotéis e podem viajar acompanhados de seus parceiros. “Nós moramos sozinhos, então temos liberdade para sair, conhecer lugares, aproveitar a cidade”, explica o acrobata mineiro Gabriel Christo, 30 anos, um dos dois brasileiros no time de 22 nacionalidades.
Integrante do Cirque desde 2008, ele foi escalado em abril deste ano para interpretar um dos marinheiros do enredo. De terça a domingo, quando há performances, chega para a concentração na hora do almoço. No restaurante, montado dentro de um contâiner, mais de 200 refeições são servidas diariamente. O menu variado pode incluir de comida tailandesa a itens sem lactose. “Tentamos criar uma atmosfera de casa, mesmo estando muito longe da nossa”, afirma a canadense Amelie Lavoie, gerente da companhia.
Completam a rotina dos artistas avaliações feitas por um fisioterapeuta, que roda o mundo junto com a turnê, e muitas horas no espelho para se maquiarem. A santista Gabriella Argento, 42, demora uma hora para terminar sua caracterização de palhaça. Ela está na companhia desde 2004, mas só neste ano entra em cartaz no Brasil. “É muito emocionante e preciosa esta oportunidade, porque agora tenho pessoas conhecidas na plateia”, comenta.
Como não realiza movimentos acrobáticos, sua rotina de exercícios visa a manter o condicionamento físico para aguentar a sequência de apresentações e o peso do figurino — um vestido bufante de 4 quilos. Ao fim de cada espetáculo (de quinta a domingo são dois horários por dia), o traje é levado para uma das máquinas de lavar, em funcionamento quase ininterrupto por ali. Há sempre um figurino reserva já pronto para a próxima sessão. Até 17 de dezembro, quando a temporada paulistana se encerra e a trupe segue para o Rio de Janeiro, o show não pode parar.
CIRCO DE PESO
Os números de Amaluna
4 milhões de pessoas já assistiram à turnê desde 2012
2 000 toneladas é o peso dos equipamentos na tenda
1 000 roupas e acessórios compõem o figurino
110 pessoas formam a equipe, sendo 46 artistas e 64 técnicos
Amaluna — Cirque du Soleil. Parque Villa-Lobos, Avenida Queiroz Filho, s/nº, portão do Detran — Bolsão de estacionamento 5. Terça e quarta, 21h; quinta, sexta e sábado, 17h30 e 21h; domingo, 16h e 19h30. R$ 250,00 a R$ 450,00. www.tudus.com.br.