“Fiquei em choque”, relembra a atriz Ariane Aparecida, de 19 anos, sobre a sua reação quando soube que seria uma das protagonistas do clipe da cantora americana Selena Gomez em parceria com o porta-riquenho Rauw Alejandro. A produção, rodada em setembro de 2020 no Ceará, é embalada pela música Baila Conmigo. A direção é do curitibano Fernando Nogari. “Ele me mandou uma mensagem no Instagram. Perguntou se eu estava em São Paulo porque queria gravar um lance”, explica Ariane. Mesmo sem muitos detalhes, ela topou.
A jovem, nascida e criada na comunidade do Jardim Elisa, no distrito de Brasilândia, não conhecia Nogari até então. Mas ele sabia quem ela era: em 2018 assistiu uma peça da companhia da qual a jovem faz parte, a ColetivA Ocupação. Apesar da pouca idade, ela já chamava atenção. “Desde pequena, queria ser atriz. Briguei na igreja porque queria interpretar Jesus e não deixaram. Depois abriu a Fábrica de Cultura da Brasilândia e fiz vários cursos”, conta.
“Quero mostrar que posso conseguir o que disseram que não alcançaria”
Na rotina puxada da época do ensino médio, ela chegou a fazer oito cursos livres simultaneamente. O pouco tempo disponível não a impediu de fazer parte de um movimento de estudantes que buscavam impedir a demissão de profissionais nas Fábricas de Cultura em 2015. Tamanho ardor também não se converteu em apego. “Logo depois, saí de lá. Com colegas e um professor, montei uma companhia. Eu tinha só 14 anos. Deu certo por um tempo, mas depois cada um seguiu seu rumo”, detalha ela.
“A Lili também foi d’Os Satyros”, complementa a mãe, Cátia Aparecida Ventura, de 53 anos, revelando o apelido da caçula de uma trinca de meninas. Ela é a maior apoiadora da atriz: “Eles só aceitavam jovens com 15 anos ou mais, mas a Ariane queria entrar e ligava lá todo dia”. A insistência somente teve fim com o aniversário. Ela fez o esperado teste e passou. “Também foi aprovada em duas universidades”, orgulha-se a matriarca, que conta que Ariane optou por artes cênicas na Unesp.
Na temporada que frequentou o grupo da Praça Roosevelt, ela ia e voltava sozinha para casa, como de praxe. “Entreguei a Deus. Quando ela saía, eu dizia: ‘A única coisa que a mamãe pode fazer é confiar em você’. Desde pequena, a Lili era hiperativa”, acrescenta Cátia, que já foi catadora de recicláveis e hoje é cuidadora de idosos.
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O pai da atriz, Anir Fachinetto, de 56 anos, também não acompanhava a filha, tanto no percurso quanto no sonho. “Tudo que faço não parece suficiente pare ele. Já tentei convencê-lo, mas agora tento entender. Ele é de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, com uma mentalidade muito específica”, diz Ariane. Em entrevista por telefone, em uma espécie de tentativa de deixar o passado para trás, seu Anir a elogia.
“Ela é uma pessoa esforçada, que vai em busca de seus objetivos.” Certa dureza aparece, entretanto, junto ao desconhecimento do caminho trilhado pela filha: “Fico um pouco com medo, mas tem de deixar seguir a vocação. Não vou encher a bola, porque tem de ter o pé no chão.”
Os olhos de Ariane estão no infinito. “Tenho uma vontade imensa de conhecer o mundo. Quero mostrar que posso conseguir tudo o que disseram que eu não iria alcançar”, diz ela. Atualmente, Ariane não mora mais com a família, foi viver com amigos na Lapa. Seus admiradores, contudo, vão além de São Paulo. “Ela é leve e focada”, afirma o carioca Roberto da Silva Iglesias, de 24 anos, que formou com a atriz o par romântico no clipe de Selena. A sintonia na tela, traduzida em movimentos marcados, de força evidente e muita sensualidade, virou amizade fora do set. O ator, mais conhecido como Kibba, conclui com uma bela definição da nova amiga: “Ela é uma estrela, inspira pessoas, te guia naturalmente”.
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Publicado em VEJA São Paulo de 17 de março de 2021, edição nº 2729