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A volta de Antonio Fagundes ao Tuca e os novos planos do ator

Às vésperas de completar cinquenta anos de carreira, ele reestreia o espetáculo <em>Tribos,</em> endossado por 220 000 espectadores

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 16h37 - Publicado em 12 set 2015, 00h00
Antonio Fagundes
Antonio Fagundes (Mario Rodrigues/)
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Com a reestreia do espetáculo Tribos em São Paulo, o ator Antonio Fagundes não disfarça um sorriso de vitória ao voltar consagrado ao palco do Tuca, onde, há dois anos, tudo começou. O artista encerra por aqui uma turnê que contabiliza 220 000 espectadores em 31 cidades brasileiras e sete portuguesas, sem nenhum patrocínio nem recurso de lei de incentivos. Para pôr a montagem de pé, ele desembolsou 100 000 reais e, com a receita da bilheteria, salda os compromissos com uma equipe de 24 pessoas e cinco outros atores, entre eles o caçula de seus quatro filhos, Bruno Fagundes. “Consegui provar para mim mesmo que ainda é possível bancar as minhas produções”, orgulha-se.

O desafio de encher plateias em longas excursões pode parecer fácil de ser superado para um nome tão tarimbado, a quatro meses de celebrar meio século de vida profissional. O eterno galã, de 66 anos, construiu uma trajetória que alia prestígio a popularidade. De quebra, seu carisma ainda seduz o público feminino. Fagundes, porém, teve suas inseguranças. Vários questionamentos tomaram conta da cabeça do astro recentemente. “Eu luto há cinquenta anos por isso e, muitas vezes, vejo o controle das coisas fugir da minha mão” afirma. “O meu nome, claro, facilita a divulgação, mas a cobrança é redobrada se o espetáculo não funciona de imediato.”

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Suas duas montagens anteriores, o monólogo Restos (2009) e o drama Vermelho (2012), tiveram, em média, 50% das poltronas ocupadas durante a temporada paulistana. O resultado — 300 espectadores por sessão — está longe de um fracasso, mas não condiz com o que Fagundes ambiciona, e as peças foram retiradas de cartaz antes do previsto. “O meu raciocínio mudou depois dessas duas experiências”, confessa. “Foi para fazer um teatro de qualidade diante de grandes plateias que eu moldei minha carreira. Há mais de quarenta anos, decidi também investir fortemente na televisão porque tenho a consciência de que assim levo muito mais gente para as bilheterias.”

Tribos
Tribos ()

O sucesso de Tribos pode estar associado a uma renovação de linguagem. Em uma encenação moderna e sem protagonismos, Fagundes se mostra capaz de dialogar com diferentes gerações. Escrito pela dramaturga inglesa Nina Raine, o texto aborda a surdez metafórica nas relações pessoais através de um deficiente auditivo (papel de Bruno) e seu pai (Fagundes). “Meu filho me fez descobrir novos caminhos profissionais e, principalmente, mostrou que ainda existem jovens interessados em seguir essa trilha comigo”, diz Fagundes, referindo-se também aos atores Guilherme Magon, Arieta Corrêa e Maíra Dvorek, seus colegas de elenco. O garoto de 26 anos, fruto do casamento com a atriz Mara Carvalho, minimiza a responsabilidade. “Fiquei arrebatado pela peça depois de vê-la em Nova York e enxerguei ali uma nova oportunidade de trabalhar com meu pai”, conta. Bruno já tinha interpretado o papel de auxiliar do personagem de Fagundes, o artista plástico russo Mark Rothko, em Vermelho.

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Vermelho - 2271
Vermelho – 2271 ()

Esse frescor também pode ser percebido em experiências recentes de Fagundes no cinema, como no filme de terror Quando Eu Era Vivo (2014), e numa surpreendente e hilária participação no humorístico global Tá no Ar, em que cantou o hit Não Se Reprima, na pele de um integrante do grupo Menudo na terceira idade. “Nunca fui tão cumprimentado como no dia seguinte a essa exibição”, diverte-se ele, sorrindo. Até o início do ano que vem, Fagundes deve ser visto novamente na TV com a minissérie Dois Irmãos, sob o comando de Luiz Fernando Carvalho. O cultuado diretor, aliás, tem sido assediado pelo intérprete para que juntos enfrentem uma empreitada nos palcos. “Eu sou assim, vou rondando as pessoas e um dia as convenço a trabalhar comigo”, conta o ator. Antes disso, porém, ele ocupa suas folgas à procura de uma boa e engraçada comédia, gênero que não revisita há mais de uma década no teatro. “Fiz de tudo um pouco, inclusive algumas pornochanchadas nos anos 70. O problema é que hoje meu presente me condena, não é?”, completa Fagundes, sacando a ironia da manga. 

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+ Entrevista com o ator Kiko Mascarenhas sobre a peça O Camareiro e Tarcísio Meira.

Popularidade e prestígio

Alguns dos momentos capitais da sua carreira

  • Em 1966, Antonio da Silva Fagundes Filho, um carioca radicado em São Paulo, estreia nos palcos. Logo, ele ingressa no Teatro de Arena
  • Com Sonia Braga e Armando Bógus, participa do musical Hair (1969)
  • Em 1976, estreia na Globo na novela Saramandaia e divide a cena com Tereza Rachel na peça Gata em Telhado de Zinco Quente
  • Com a novela Dancin’Days (1978), vira o galã da televisão
  • Em 1982, funda a Companhia Estável de Repertório e monta espetáculos como Morte Acidental de um Anarquista, Xandu Quaresma e Cyrano de Bergerac
  • Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996), de Benedito Ruy Barbosa, são duas novelas de sucesso das quais participou. Do autor, ele fez ainda Terra Nostra (1999) e Meu Pedacinho de Chão (2014)
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