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Anna Muylaert é o nome por trás de ‘Que Horas Ela Volta?’, cotado para concorrer ao Oscar

Filme está em cartaz em 16 salas na capital. Atuação impressionante de Regina Casé rendeu prêmio no Festival de Sundance

Por Nataly Costa
Atualizado em 1 jun 2017, 16h39 - Publicado em 29 ago 2015, 00h00
Anna Muylaert
Anna Muylaert (Fernando Moraes/)
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Aplaudido por seis minutos no prestigiado Festival de Berlim, na Alemanha, e contemplado com um prêmio especial do júri para a dupla de atrizes principais em Sundance, nos Estados Unidos, um dos principais eventos do mundo da indústria cinematográfica independente, o filme Que Horas Ela Volta? havia atingido uma musculatura considerável antes de estrear no Brasil, na última quinta (27). Em cartaz em mais de 280 salas em 22 países, a história já levou ao cinema 150 000 pessoas na França (onde está com 125 cópias) e outras 70 000 na Itália (setenta cópias). A crítica de jornais como o francês Le Figaro e o espanhol El Pais publicou elogios enfáticos à obra, enquanto o site americano IndieWire e a revista inglesa Screen apostam no título como um dos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Se isso acontecer, será o primeiro representante brasileiro no prêmio desde Cidade de Deus, em 2004 (as indicações brasileiras de 2015 serão feitas no dia 10 de setembro).

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A obra, em cartaz em 91 salas no Brasil (dezesseis na capital, mesmo número de Homem Irracional, a nova fita de Woody Allen), mostra o reencontro entre uma empregada doméstica que mora no trabalho, vivida por Regina Casé, e sua filha, Jéssica, papel da brasiliense Camila Márdila. Quem está por trás do projeto é a paulistana Anna Muylaert, de 51 anos, que assim se afirma como um dos grandes nomes da direção de cinema no país. Mais velha das três filhas de Celina e Roberto Muylaert, diretor da TV Cultura entre 1986 e 1995, Anna se consolidou na função de roteirista na emissora, não por indicação do pai — ela fazia parte da equipe do apresentador Serginho Groisman. Depois, acabou participando da criação de programas como Castelo Rá- Tim-Bum e O Mundo da Lua.

Que Horas Ela Volta?
Que Horas Ela Volta? ()
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No cinema, o reconhecimento veio com Durval Discos, vencedor de sete prêmios (incluindo melhor filme e direção) no Festival de Gramado em 2002. Foi uma das roteiristas de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) e dirigiu ainda É Proibido Fumar (2009) e Chamada a Cobrar (2012). Nenhum deles, no entanto, teve o tempo de maturação de Que Horas Ela Volta?, cujo roteiro vinha sendo elaborado desde 1995. “Reescrevi o texto inúmeras vezes e, só em 2013, cheguei à versão definitiva da história”, diz.

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No estilo de direção de Anna, convivem a pré-produção intensa e o espaço para o improviso. Antes das gravações, prepara um “demofilme” — espécie de ensaio geral rodado em um único dia. Elaborado esse piloto, descarta takes, escolhe enquadramentos e vai para o set com um plano de ação mais enxuto. Quando as cenas são para valer, pode fazer mudanças radicais. Estimula os atores a criar suas falas a partir do roteiro. Para construir a estranha ligação entre as personagens vividas por Camila Márdila e Regina Casé (as duas passaram dez anos sem se ver, segundo o roteiro da ficção), a diretora fez questão de que as atrizes não se conhecessem — o primeiro ensaio tinha um pano preto entre as duas.

Regina Casé Que Horas Ela Volta
Regina Casé Que Horas Ela Volta ()
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Outra constante em sua obra são as citações e os cenários paulistanos — em Que Horas, quase todo ambientado em um casarão no Morumbi, aparecem também a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o Edifício Copan e o bairro do Campo Limpo. Nascida no Alto de Pinheiros, Anna é solteira e vive em uma ampla casa térrea na Lapa, com piscina, cachorro e os dois filhos: José, de 20 anos, do casamento de uma década como músico André Abujamra, e Joaquim, de 15 anos, fruto do relacionamento com um artista plástico (“um namorado de adolescência com quem me reencontrei”). A ex-babá dos dois garotos, Edna Silva, é inspiradora da história que chegou aos cinemas. Filha de uma empregada que veio tentar a vida em São Paulo, ela também passou uma década afastada da mãe. “Chorei o tempo inteiro”, disse Edna (que continua na profissão), após assistir ao filme pela segunda vez.

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Para os produtores, foi surpreendente ver um enredo tão brasileiro conquistar o público lá fora. Inicialmente, temia-se que nuances da personagem de Regina — com gestual e vocabulário tipicamente nordestinos — não fossem entendidas. “Mas embate de classes, terceirização de funções e até do cuidado com os filhos também existem lá fora”, diz o produtor Caio Gullane. Anna, que já tem outro longa filmado (Mãe Só Há Uma, sobre um adolescente transgênero, que lançará em 2016), diz não alimentar expectativas sobre o tapete vermelho de Hollywood. “Não sou nem louca”, brinca. “Mas, se acontecer a indicação, vamos trabalhar para tentar a vitória.”

Sucesso internacional

A repercussão do longa na Europa e nos Estados Unidos

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› Em cartaz em 125 salas na França, setenta na Itália e 29 nos Estados Unidos

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