Aline Bei: novo livro e reedição de sua primeira obra chegam às livrarias em junho
"Tem uma grande alegria nesta nova edição: um posfácio de uma pessoa muito especial para mim e que será uma surpresa para todos”, adianta

Para Aline Bei, o trabalho do escritor é quase como o de um pintor, mas, no lugar das tintas, ela usa a palavra para construir cores e texturas. Com seu “pincel” em punho, a paulistana de 37 anos se tornou uma voz potente e consolidada na literatura nacional após despontar, em 2017, com o romance de estreia, O Peso do Pássaro Morto, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura.

Publicado inicialmente pela editora Nós, o livro ganhará uma nova edição, em junho, agora pela Companhia das Letras. A releitura da sua primeira obra foi um trabalho de distanciamento para a autora, que optou por respeitar o que escrevera aos 21 anos, fazendo poucas modificações. “Foram mudanças bem sutis, porque eu sinto que o livro tem vida própria, é um objeto fora de mim. Mas tem uma grande alegria nesta nova edição: um posfácio de uma pessoa muito especial para mim e que será uma surpresa para todos”, compartilha, fazendo mistério.
A imersão criativa dos últimos três anos, tempo em que ficou sem publicar, rendeu o inédito Uma Delicada Coleção de Ausências (Companhia das Letras, 288 págs.), que chega às livrarias em junho. No novo manuscrito, Aline retoma temas presentes nos dois romances anteriores, criando o que chama de “trilogia involuntária”. “Quando eu começo a me aprofundar em um assunto, é como um novelo que eu puxo e vislumbro mais perspectivas. O que está mais conectado neles é a minha obsessão pela infância, que procuro trazer de uma forma não idealizada. Muitas vezes, há dores que ficam sem nome porque não temos ainda a linguagem para defini-las. As crianças precisam ser ouvidas, e sinto que meu texto é uma escuta para essa infância complexa”, acredita.

No novo livro, que narra a história de uma bisavó, uma avó e a neta, e as angústias ligadas à idade e diferenças entre elas, a escritora traz novamente a simbologia da casa como espaço de afeto e de confronto de individualidades, muito presente em Pequena Coreografia do Adeus (Companhia das Letras, 2021). Finalista do Prêmio Jabuti, a obra explora a jornada de amadurecimento da jovem Julia, enquanto lida com os traumas do abandono pelos pais e violências sofridas na infância. “Eu senti uma coisa muito forte quando escrevi uma frase da Julia, foi como se um portal se abrisse. Eu percebi que queria escrever sobre uma avó e uma neta vivendo na mesma casa, conectadas pela rotina e a intimidade, mas separadas por uma distância intransponível que é o tempo”, conta a paulistana, mencionando mais um fio puxado do seu novelo literário e a inspiração para a nova obra.
Prestes a botá-la na rua e reencontrar os leitores — ela participa da Feira do Livro, de 14 a 22 de junho, no Pacaembu —, Aline já vislumbra o desfiar de uma nova história. “Eu venho do teatro, com uma forte relação com o espaço cênico. Tenho a impressão de que, a cada história que conto, um pequeno fragmento dela, como um adereço, fica no palco. É um mapa para o próximo livro.”
Publicado em VEJA São Paulo de 9 de maio de 2025, edição nº 2943.