“Em 2015, em um evento de inclusão do projeto Cromossomo 21, no Rio de Janeiro, conheci o Vinicius por intermédio de um amigo em comum. Tinha gente de todo canto. Eu vim de Miami e ele, do Rio Grande do Sul.
Vinicius diz que foi amor à primeira vista, que meus olhos o conquistaram. Na época, eu namorava outro menino, americano, também com síndrome de Down.
Vini me deu de presente o livro Nunca Deixe de Sonhar. Achei o título lindo. Ele mesmo escreveu com o apoio da prima, Carina Streda, sobre inclusão escolar e social de pessoas com a síndrome. Viramos amigos e continuamos nos encontrando em outros eventos.
Meu relacionamento anterior acabou não dando certo. Foi muito difícil terminar.
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Eu continuava conversando com o Vinicius. Era cega e não o via como namorado, mas caiu a ficha muito tempo depois. Comecei a pensar apenas nele. Eu disse: ‘Vinicius, por que você não tenta mais uma vez?’. Ele me pediu em namoro por videochamada, eu aceitei.
Com cinco meses de relacionamento, fizemos uma troca de vivências: eu passei quinze dias na casa dele, no Sul, em Bom Princípio. Visitei um mercado onde os funcionários só falam alemão e aprendi a tomar chimarrão. Depois, ele veio para Miami comigo. O intercâmbio foi importante para que nós viajássemos sozinhos e criássemos mais autonomia. Ainda seguimos para Lorena, no interior de São Paulo, onde ficamos na casa de parentes.
Eu decidi me mudar para Campinas por causa do meu trabalho como influenciadora digital. Meu pais continuaram nos Estados Unidos.
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Além de ser escritor e palestrante, Vinicius está aprendendo comigo a criar conteúdo sobre nossa vida com a síndrome no Instagram (@tathipiancastelli). Trabalhar juntos é o que mais gostamos de fazer.
No último Dia dos Namorados, fomos escolhidos para fazer uma campanha da Arezzo. Foi nossa primeira contratação como um casal. Representatividade importa porque temos de provar que também existimos.
Eu estudei em uma escola especial, que só tinha pessoas com a síndrome na sala de aula. Perguntava onde estavam as pessoas cegas, mudas. O mundo não é uma coisa só. Eu não me sentia bem, não era incluída na sociedade.
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Não quero ser rotulada de ‘coitadinha’. Nós queremos mostrar na internet que podemos namorar, casar e que somos capazes de morar sozinhos. No passado já me xingaram, me chamaram de mongoloide, doente, disseram que eu jamais iria conseguir me virar. Temos certas dificuldades, sim, mas conseguimos. Algumas pessoas têm o cuidado dos pais para sempre, mas nós buscamos protagonismo.
Há um mês o Vini veio morar comigo e planejamos nos mudar para São Paulo com o apoio de um projeto do Instituto JNG, que ajuda adultos com deficiência intelectual a ter independência por meio da moradia. É a continuação da nossa experiência de vivência.
Hoje estamos noivos e planejamos nosso casamento. Vinicius disse que sou sua alma gêmea e fez a proposta no Natal. Foi uma surpresa, fiquei emocionada e chorei. Meu sonho sempre foi ser noiva de alguém.
Ele é tão romântico, sempre me diz que me ama. Claro que nós brigamos também, como qualquer casal, mas nos damos muito bem. Queremos uma festa grande com toda a família depois da pandemia, em 2022.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de junho de 2021, edição nº 2744