Após perder quase tudo o que tinha em casa durante um incêndio, a modelo Patricia Beck, 39, mudou drasticamente seu estilo de vida. “Foi como uma limpeza, serviu para rever tudo”, relembra. Com o acidente, trocou os baús lotados de roupas de grife por um guarda-roupa enxuto e aderiu ao movimento da economia circular — menos compras e mais peças de segunda mão. E a tendência tem chamado a atenção de várias marcas.
Apelidado de “Tinder da troca” e lançado em março deste ano, o aplicativo Finpli espera aproveitar o crescimento das vendas de usados, ainda mais populares com a crise econômica da pandemia e com o interesse de clientes em manter um consumo sustentável. “As pessoas estão ficando mais criteriosas e preocupadas com o meio ambiente”, observa Luiz Gerber, um dos fundadores. Na nova plataforma, os usuários podem anunciar itens de todas as categorias, além de oferecer serviços como moeda de troca. “Já vimos até a troca envolvendo um bolo de aniversário por serviço de salão de beleza. Eu mesmo tenho trocado jogos de videogame, livros e uma barraca por um alto-falante.”
Trocar coisas não é novidade, mas o futuro do “escambo” será cada vez mais digital. No site Scamb, também lançado neste ano, a ideia é comprar coisas pagando com coisas. Cada peça anunciada tem seu valor definido em pontos. Após vender os primeiros produtos, o usuário acumula esses pontos, que servem como moeda para os itens das lojinhas de outras pessoas da rede. São os clientes novos que movimentam esse lucro e processo de troca entre vendedores: no caso deles, é preciso comprar os pontos (em reais) para adquirir uma peça no site.
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“Viramos as loucas do ‘segunda mão’. Em vez de peças novas, você garimpa algo diferente e ainda economiza.”
Isabel Garcia, sócia do Scamb
“Antes nós já éramos as loucas da ‘segunda mão’, algo que faz muito sentido para as roupas infantis, por exemplo. Pelo menos 80% do que meus filhos têm no guarda-roupa hoje é usado”, diz Isabel Garcia, uma das sócias. “No fim das contas, as pessoas que vendem na internet usam o dinheiro para comprar coisas novas, então não estão estimulando a real circularidade. Escolhemos mirar nesse mercado, que hoje está em alta, mas vem se desenvolvendo há muito tempo com sites como o Enjoei.” Em breve, o Scamb também vai hospedar lojas de grandes marcas, que terão a opção de anunciar peças-piloto e outras criações que não chegaram a ser vendidas.
“O e-commerce tradicional não faz mais sentido. A maneira como as pessoas consomem nas redes hoje envolve curtidas, compartilhamentos e muita interação.”
Daniel Rizzuto, do app Clozee
Na rede social Clozee, outra iniciativa criada no início do ano, o Instagram e o Pinterest serviram de inspiração para o visual do aplicativo, cujo diferencial é a taxa das vendas: apenas 5 reais por produto e 5% do valor vendido vão para os fundadores. Em formato de feed, produtos novos e usados surgem de acordo com os gostos de cada usuário e já ultrapassaram 1 000 perfis cadastrados depois que algumas blogueiras de moda descobriram a novidade. “A migração das lojas para o on-line é uma tendência óbvia, mas o e-commerce atual não faz sentido”, opina Daniel Rizzuto, um dos criadores. “Esse modelo tradicional não reflete o prazer que as pessoas têm ao curtir, compartilhar e interagir nas redes sociais, onde elas veem as tendências, seguem as influenciadoras e acompanham o que está em alta.”
Para a modelo Patricia, fazer compras (ou trocas) com mais consciência e sem exageros é um caminho sem volta. “Hoje minha família toda divide um único guarda-roupa de quatro portas, incluindo as crianças. A cada peça nova, uma precisa sair.” Mesmo tão regrada, ela pretende começar um novo detox fashion para divulgar o movimento. “Vou passar três meses sem comprar peças novas e convidar as pessoas a rever tudo o que têm. Normalmente elas só usam 30% do que está no armário e o restante fica parado, usado no máximo uma vez por ano”, estima. “Precisamos rever nossos modos de consumo.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de junho de 2021, edição nº 2744
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