Todo apreciador de carros reconhece a léguas de distância um Lamborghini ou um Aston Martin. De tão marcante, esse tipo de identidade possui o poder de levar uma marca a ultrapassar seu campo de atuação. É o que a indústria automobilística tem feito. Nos últimos quatro anos, grandes grifes automotivas passaram a apostar em escritórios de design e em parcerias com fabricantes de móveis.
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O resultado: hoje se pode escolher entre mesas, luminárias, poltronas e até galheteiros assinados por algumas das mais importantes montadoras. “A ligação é uma maneira de reforçar sua arte na criação de estilo”, diz Franck Millot, diretor da feira Maison&Objet, em Paris. Ao lado do Salão do Móvel, em Milão, o evento francês é um dos terrenos preferidos pelos fabricantes de carrões para lançar suas criações “caseiras”.
Neste ano, por exemplo, o estúdio Peugeot Design Lab apresentou na Maison&Objet o sofá Onyx. Com 3 metros de comprimento, o móvel utiliza como matéria-prima uma mescla de carbono e de lava vulcânica de Volvic, no sudoeste da França. “Temos especialistas em incontáveis materiais e tecnologias”, diz Cathal Loughnane, chefe do laboratório da montadora.
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Ao desenvolver esse tipo de produto, a indústria automobilística não só expande seu domínio, como também impulsiona a inovação no mercado mobiliário e em outros setores. A DS, divisão de luxo da Citroën, acaba de lançar uma coleção de bolsas, roupas e móveis feitos na mesma fábrica e pelos profissionais que desenham os veículos. “Tentamos reproduzir as mesmas linhas, seja nas malas, seja em um divã”, explica Sabine Le Masson Pannetrat, responsável pelo design da Citroën.
O sucesso dessa troca criativa, no entanto, não é unânime. Com trabalhos em museus como o MoMA, de Nova York, o designer holandês Richard Hutten, fã do universo dos motores, considera o sofá da DS “extremamente feio” (ele mistura cadeira clássica e linhas que lembram uma barbatana de tubarão).
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Em abril, durante o Salão do Móvel, Hutten defendeu que escritórios de design sigam o modelo do setor de carros para fortalecer suas etiquetas. “As montadoras desenvolveram uma identidade poderosa, melhor do que a de qualquer outra área”, afirma. “No entanto, desenhar uma peça que dá a sensação de velocidade, como o sofá DS, mas que estará sempre parado, não é uma maneira interessante de transpor esse universo. É preciso criar uma nova estética, mantendo os valores da marca”, completa.
A despeito de algumas críticas, o mercado está pisando fundo no novo segmento. A inglesa Bentley atua em sociedade com a Club House Italia. “Metade do trabalho é baseada em minhas ideias e experiências. Os outros 50% vêm da história da Bentley”, diz o arquiteto italiano Carlo Colombo, autor da coleção.
Um ano antes do lançamento, ele participa de diversas reuniões com o presidente da montadora e os designers da fábrica. A matéria-prima, couro e madeira, é trabalhada de maneira artesanal, para que os detalhes se assemelhem aos dos veículos. “A ideia é agradar aos compradores de seus carros”, completa Colombo.
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Desde 2011, a Formitalia responde pelas peças de casa e escritório da Interiors by Aston Martin. O grupo na Toscana também fabrica os móveis assinados por Tonino Lamborghini. “Para a Aston Martin, utilizamos carbono, alumínio, kevlar e couro, mesclados a materiais finos como lã e cashmere”, diz David Overi, presidente da Formitalia.
“A Lamborghini tem outras características, como as cores, muito vivas.” A grife de design foi idealizada em 1981 por Tonino, filho do patriarca Ferruccio Lamborghini. “Sempre pensei em fazer algo por minha conta, sem o dinheiro do meu pai”, afirma Tonino.