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OLÁ,

A elegância dispara na frente

Com previsão para desembarcar no Brasil até julho, o novo GT Speed atinge 100 quilômetros por hora em 4,2 segundos sem comprometer a classe e a solidez do Bentley Continental

Por Adriana Marmo, de Crewe e de Munique
Atualizado em 5 dez 2016, 16h06 - Publicado em 20 abr 2013, 01h00

Os números são extraordinários: 625 cavalos de potência, 330 quilômetrospor hora de velocidade máxima, 4,2 segundos de arranque (tempo que leva para atingir 100 quilômetros por hora) e motor W12 biturbo, feito da união de dois V6. Assim é a nova versão do GT Speed do Bentley Continental, a máquina mais ágil já produzida pela fábrica de Crewe, a três horas de Londres, na Inglaterra. Certo, existem carros mais rápidos. Mas este esportivo vem vestido com o requinte pelo qual a senhora montadora britânica de 94 anos é conhecida, na medida para atrair homens que adotam costumes da londrina Saville Row, uma das ruas de moda masculina mais elegantes do planeta, e que dirigem sintonizados no espírito 24 horas de Le Mans, a mais antiga corrida automobilística. Numa distância de 450 quilômetros rodados em dois dias na autoestrada federal alemã — onde o limite de velocidade é ditado apenas pelo fôlego do motor —, entre Munique e Berchtesgaden, na fronteira com a Áustria, VEJA LUXO testou o lançamento que deve aportar no Brasil no primeiro semestre de 2013 por um valor maior que 1,25 milhão de reais, o preço mais modesto de um Continental por aqui.

Dirigir como quem pilota um avião é sempre algo excitante. Conduzir um carro em disparada confortavelmente acomodado no couro macio é melhor ainda. Sobretudo quando se tem a possibilidade de fazer ajustes precisos entre o banco e o corpo e contar com uma gentileza extra: um massageador no interior do assento. Basta um toque em um botão e pequenos rolos começam um suave movimento de sobe e desce da região da lombar até o centro das costas. Bem instalado, é hora de acelerar. Uma pisada um pouco mais forte no pedal de alumínio e em instantes o velocímetro desliza a até 200 quilômetros por hora. Além do ponteiro, o que indica a rapidez são as faixas brancas da estrada, que quase somem, a paisagem transformada num borrão e o som um pouco mais nervoso do escapamento.

Aqui entra a sofisticação da marca fundada em 1919, parte do grupo Volkswagen desde 1998. O ronco não se equipara ao berro dos esportivos — é um som mais abafado, para o deleite de ouvidos sensíveis. Sem esses parâmetros, perde-se a noção da corrida, já que na cabine tudo se passa com suavidade. Um último sinal lembra que o limite oficial dos motoristas comedidos está para ser quebrado: o aerofólio sob o vidro traseiro sobe automaticamente sempre que se batem os 120 quilômetros por hora. O dispositivo mantém o GT Speed sólido e “colado” no asfalto. A impressão de controle é total. O fato de saber que os freios são discos feitos de carbono-cerâmica, tão grandes que ficam visíveis nas rodas, aumenta a sensação de segurança. Com o pé no acelerador, curvas e ultrapassagens ganham outra graça. Na estrada estreita que contorna os Alpes, é possível colocar em prática as lições da autoescola — reduzir a marcha antes do momento-chave e entrar nas curvas pisando fundo. Mesmo nas mais fechadas, a traseira não sai de lado. O segredo é a tração integral permanente, que muda a proporção da força entre as rodas traseiras e dianteiras conforme a necessidade. As respostas rápidas do motor também mudam as referências para ultrapassar um retardatário. A proximidade entre as oito marchas do câmbio automático — antes, eram seis — reduz a perda de velocidade entre as trocas. Assim, o carro que vem na contramão e parece estar perto demais não representa perigo para as respostas do GT Speed.

Ser conduzido no banco do carona vale igualmente a viagem, ainda mais se o motorista experiente levar os ponteiros para além dos 250 quilômetros por hora. Como copiloto, é hora de apreciar a beleza interior do novo modelo. É obra dos funcionários que fazem desde os bancos até os painéis na fábrica de Crewe, um complexo de 234 712 metros quadrados. Os 4 000 empregados, que nos intervalos curtem o sol do outono europeu nas mesas instaladas ao ar livre entre os galpões, passam grande parte do tempo atendendo a encomendas. Há várias possibilidades de combinação de cores e costuras dos bancos, assim como de material de acabamento — fibra de carbono, madeira, alumínio. Embora a Bentley tenha uma produção grande em relação a outras marcas de luxo — são 42 unidades do Continental e oito do Mulsanne que deixam a linha de montagem todos os dias (a Lamborghini, por exemplo, leva mais de um dia para produzir um único Aventador) —, a inglesa ainda mantém muitas etapas feitas a mão. Uma divisão, com 170 funcionários, dedica-se exclusivamente à madeira, uma das marcas registradas da montadora. As lâminas extraídas de nogueiras, carvalhos e oliveiras são armazenadas em uma sala com controle de umidade e temperatura, de onde exala um perfume inesquecível. “Plantamos uma árvore para cada lâmina extraída”, diz Dave Maddock, responsável pela carpintaria.

Uma guarnição de painel toma cerca de 25 horas de trabalho. Equivale ao tempo necessário para uma funcionária costurar a mão o couro de boi que recobre o volante. Nesse caso, cor e ponto (cruzado ou reto) também obedecem à escolha do cliente. O couro vem da Espanha, onde os animais são criados longe de cercas de arame e de mosquitos, para evitar marcas ou cicatrizes na pele. Na sala de corte, um encarregado observa atentamente cada milímetro das peças e marca com uma caneta as imperfeições encontradas. A pele é submetida, então, a um scanner, que detecta as imperfeições invisíveis a olho nu. Só depois é cortada e costurada. Por fim, vem a mudança na beleza exterior. O gerente de design Peter Cullum-Kenyon responde pelas cores da carroceria. “Ao todo, disponibilizamos 100 matizes”, conta Cullum-Kenyon, que cuida exclusivamente da pintura. “Mas nada impede que o cliente sugira um tom de sua preferência para fabricarmos sob medida.” A cartela do GT Speed inclui o chamado “maçã verde” que colore estas páginas, pilotado por VEJA LUXO — um choque para um supercarro vestido sempre com sobriedade. A 330 quilômetros por hora, essa maçã é a prova de que uma das mais elegantes marcas quatro-rodas também pode ser envenenada.

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