Há registros de escambo na história humana desde a Idade da Pedra, quando nossos ancestrais adquiriam bens sem transação monetária. A prática, que se tornou menos relevante nas sociedades modernas depois da invenção do dinheiro, voltou a ganhar visibilidade com a internet.
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Nos últimos anos, sites de troca de produtos e serviços proliferaram na capital. Esses endereços abrem espaço para que interessados ofereçam objetos e realizem negócios por conta própria. “A rede aproximou as pessoas e reduziu os atravessadores no mercado”, diz a economista Neusa Souza, professora da ESPM. “E aumentou a preocupação em ser sustentável e dividir os pertences”, completa.
O sucesso do setor é comprovado pelo aumento no número de adeptos da modalidade na metrópole. Criado em 2013, o aplicativo Tradr tem 25 000 usuários na cidade e cresce 40% ao mês, com cerca de 30 000 produtos cadastrados. Como a maior parte desses empreendimentos ainda não cobra porcentagem pelas transações efetuadas, especialistas aconselham os entusiastas a tomar cuidado.
“Na maior parte dos casos, trata‑se de uma relação civil entre pessoas físicas, e as empresas podem se eximir de responsabilidade judicial por eventuais prejuízos”, alerta o advogado Vinicius Zwarg, especializado em relações de consumo e ex‑diretor do Procon. Confira ao longo desta reportagem uma seleção de sites, feiras e bazares periódicos especializados na velha arte do toma lá, dá cá.
VARIADOS
DESCOLA AÍ
Criado em 2013, o portal foi um dos pioneiros do segmento no país. Fez sucesso ao oferecer a possibilidade de as pessoas darem novo destino a objetos abandonados em casa. Reúne mais de 30 000 usuários. Entre os milhares de tipos de artigo, os mais procurados são os livros e os jogos. Há também a opção de disponibilizar itens para venda. Os planos da empresa são a remodelação visual do site e a criação de um aplicativo, ambos no segundo semestre. www.descolaai.com.br
ESCAMBO
Como o nome já explicita, esse grupo fechado do Facebook, que reúne mais de 30 000 pessoas, é voltado à negociação de permutas. O processo para oferecer um produto, novo ou usado, é fácil e rápido: basta tirar uma fotografia e descrever suas características em um post simples. Os interessados podem formular as propostas nos comentários e continuar as negociações pelo bate-papo da rede social. Há grande variedade de itens. É possível encontrar desde móveis até roupinhas de cachorro. www.facebook.com/groups/feiradotroca
FEIRA DE TROCAS
Coordenada há oito anos pelo Cineclube Socioambiental Crisantempo, na Vila Madalena, ela ocorre no primeiro domingo de cada mês. Para participar, basta chegar com seus pertences, geralmente roupas e objetos como máquinas fotográficas. No local, o participante oferece seus itens em uma bancada e fica livre para negociar com outros participantes. O ingresso custa 5 reais, e os organizadores incentivam os interessados a também levar quitutes. Rua Fidalga, 521, Vila Madalena. Próximo evento: domingo (5), a partir das 14h.
TOMALÁDÁCÁ
Criado em 2005, o classificado digital de troca não é lá muito atraente. Seu problema é a falta de curadoria de conteúdo, o que leva a uma profusão de fotos fora de foco e descrições sem sentido. Para sanar a questão, em junho os responsáveis vão migrar o conteúdo para uma nova plataforma chamada 1001 Trocas, em que também será possível realizar compras, vendas e leilões. Mesmo com os problemas atuais, o site reúne hoje 50 000 pessoas e 80 000 ofertas, a maioria relacionada a telefonia. www.tomaladaca.com.br
TRADR
Conhecido como Tinder do desapego, o aplicativo promove o encontro de pessoas que querem realizar trocas. É similar à plataforma de namoro. O usuário curte ou rejeita itens e, em caso de aprovação, abre-se um chat. “Fizemos 5 000 transações em maio”, diz a CEO da empresa, Jéssica Behrens. Um dos escambos recentes ocorreu entre a publicitária Gabriela Bartholomeu e o estudante Caio Yamashita: ele ficou com um uquelele e ela, com uma barraca. Gratuito, para iOS e Android. www.gettradr.com
TROCA&TROCA
Entre as plataformas de permutas variadas, é o site que oferece a melhor experiência virtual. Possui uma navegação sem muita burocracia e um visual limpo, entre outras qualidades. Funciona de forma bem fácil. Basta cadastrar o produto, escolher por qual outro artigo já disponível deseja trocá-lo e partir para combinar a transação. Por ser uma versão beta, o sistema mostra instabilidade em alguns momentos, o que não impede seus mais de 5 000 usuários de realizar seus escambos. www.trocaetroca.com.br
LAZER
BRINCOU TROCOU
O site e aplicativo especializado em brinquedos funciona à base de uma moeda digital. Quando um usuário disponibiliza um artigo, recebe certa quantidade de dinheiro virtual. Essa “carteira” pode ser usada para adquirir os objetos dos demais participantes. Oferece muitas opções de jogos, instrumentos, quebra-cabeças, entre outras velharias. Gratuito, para os sistemas iOS e Android. www.brincoutrocou.com.br
QUINTAL DE TROCAS
Lançado em fevereiro de 2014 pela atriz Carolina Guedes, ele propõe a permuta de brinquedos clássicos como carrinhos. Opera atualmente em catorze pontos na cidade, como o Mamusca e a Casa do Brincar, ambos em Pinheiros. Em abril, Carolina Diniz levou para lá sua filha Catarina. A garota trocou bonecas com Bárbara, que visitou o local em companhia da mãe, Andreia Picoli. A empresa também promove eventos como feiras e festas com oficinas e música ao vivo. www.quintaldetrocas.com.br
TROCAJOGO
É o site para se desfazer dos games. No cadastro, a pessoa lista os seus e os que deseja obter, separados por consoles como Wii, XBOX 360 e Playstation 3. “Os jogos têm uma vida útil e, depois, ficam abandonados”, diz Flávio Banyai, responsável pelo negócio, que promoveu 3 750 permutas no último mês. www.trocajogo.com.br
CULTURA
FEIRA DE DISCOS
O evento itinerante de vinis, dos mais variados gêneros, surgiu em 2011, organizado pela Locomotiva, loja do centro especializada em rock. No começo eram apenas vinte banquinhas para troca e venda; atualmente, são 100. Realizada bimestralmente, já foi montada em locais como o Museu da Imagem e do Som (MIS). Próximo evento: Centro Cultural São Paulo — Rua Vergueiro, 1000, Paraíso. Sábado (28), a partir das 11h
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LIVRALIVRO
Criado em 2009, o site incentiva o intercâmbio de livros. Depois de se cadastrar, a pessoa pode fazer o escambo de um título do seu acervo por outro de um usuário. É possível também pegar uma obra do catálogo sem entregar nada em troca. Nesse caso, o dono do volume “adquirido” ganha um crédito para ser usado posteriormente no serviço. As três primeiras negociações são gratuitas. Em seguida, a plataforma solicita a adesão em um plano, a partir de 1,99 real ao mês. www.livralivro.com.br
SKOOB
O site de livros tem cerca de 280 000 usuários ativos no país e realiza 5 000 trocas mensais. No catálogo de mais de 1 200 000 obras, as mais procuradas são as da saga Harry Potter. O interessado deve fazer o cadastro dos seus títulos e solicitar os dos demais. A própria plataforma monitora a chegada do produto. www.skoob.com.br
HOSPEDAGEM
NIGHTSWAPPING
O interessado em se hospedar de graça em outra cidade deve primeiro receber turistas em sua casa. Dessa forma, acumula créditos que podem ser trocados por estada no destino escolhido. Há 30 000 acomodações em 160 países, em cidades como Nova York, Paris e Londres. Há um custo de manutenção do serviço, de 9,90 euros (39,50 reais) por viagem realizada. Em São Paulo, cerca de 1 700 pessoas integram a rede. www.nightswapping.com
TROCACASA (HOMEEXCHANGE)
A plataforma surgiu em 1992 nos Estados Unidos e ganhou versão em português em 2005. Ela exige que a troca seja mútua: o anfitrião precisa aceitar passar alguns dias na casa do viajante para que a transação seja concretizada. Reúne 65 000 pessoas em 150 países. É preciso pagar uma taxa anual de 70 euros (280 reais). No Estado de São Paulo são 89 casas disponíveis. www.trocacasa.com
MODA E BELEZA
ESPICHAMOS
Lançado no ano passado, o site iniciou a sua trajetória focado em roupas de bebê e crianças, mas agora já oferece outros artigos do universo infantil, a exemplo de cadeiras para carro. Como em um e-commerce, a pessoa cria uma loja e disponibiliza seus itens. Em seguida, escolhe um artigo de outra pessoa e propõe a transação. São 800 perfis ativos. www.espichamos.com
TROCAÍ
Realizada a cada dois meses, sempre em um local diferente, a feira nasceu em novembro por iniciativa da publicitária Damaris Adamucci e da assessora de festas Giovana Cuginotti. No primeiro evento, na Vila Mariana, foram oferecidos 700 produtos e feitas 350 trocas. A última edição, em abril, na Vila Madalena, já teve 1 200 itens, incluindo um vestido de noiva. Cada pessoa leva seus produtos, sete no máximo, que são avaliados, e recebe um número de fichas referente à quantidade de peças. Depois, é só escolher entre os artigos disponíveis. Próximo evento: Armazém da Cidade — Rua Medeiros de Albuquerque, 270, Vila Madalena. Dia 17 de junho, às 17h. www.trocaí.org.
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TROCADERIA
O projeto começou em 2014, quando as amigas Nathália Capistrano, Isabela Mantovani e Gabriela Bianco decidiram trocar roupas entre si. A primeira edição, nos Jardins, registrou cinquenta participantes e só cinco transações. Onze encontros depois, o evento chegou a ter 5 500 transações. O participante leva seus itens, que passam por uma avaliação, são etiquetados e disponibilizados em um ambiente comum para que as pessoas negociem. Próximo evento: Casa Galpão — Rua Coronel Artur de Godói, 192, Vila Mariana. Dia 18 de junho, às 13h. facebook.com/trocaderia
TROCOPERFUME
Há dois anos, os estudantes Rodolfo de Oliveira e William Vargas criaram um site para o escambo dos perfumes que recebiam de presente. De lá para cá, já ocorreram mais de 400 trocas. Hoje, o espaço virtual tem cerca de 300 itens. Na busca, é possível restringir os produtos por marca. Se as duas partes aceitarem negociar seus artigos, devem marcar um encontro para concretizar a permuta. www.trocoperfume.com
EXPERIÊNCIAS
BLIIVE
Em vez de produtos, as pessoas compartilhamseu tempo e talento ao listar atividades comoaulas de ioga ou jardinagem. Na semana passada,por exemplo, o produtor de vídeo Rodrigo Camposministrou uma sessão de uma hora sobre princípiosda gravação audiovisual à professora Andreia Dias,na Vila Nova Conceição. Se tiver sucesso em venderum serviço, o usuário ganha o “time money”,moeda virtual que pode ser trocada por outro curso.Desde 2013, o serviço registrou 40 000 permutas.www.bliive.com
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TIMEREPUBLIK
Usar uma habilidade como moeda de trocatambém é o mote deste site e aplicativo,um banco de tempo onde pessoas podempermutar serviços sem ter de pôr a mãono bolso. Se um dentista precisa de ummecânico, por exemplo, pode encontraresse profissional na plataforma e ofereceralgo para ele, como uma consulta. Em suaversão para smartphones e tablets, estádisponível para iOS de forma gratuita.www.timerepublik.com
NEGÓCIO SAUDÁVEL
Quatro dicas para ficar esperto e não cair em pegadinhas e golpes durante as transações
1. Desconfie de barbadas
Abra o olho com ofertas muito generosas ou propostas irrecusáveis. Procure conhecer a pessoa com quem vai fazer negócio verificando seu perfil nas redes sociais.
2. Converse bastante
Antes de iniciar o processo de troca, esclareça todas as dúvidas e os detalhes com o interessado por meio dos espaços de chat disponíveis nos sites.
3. Troque pessoalmente
O mais recomendado é marcar em locais como shoppings, estações de metrô ou pontos turísticos, e ir sempre acompanhado. Jamais dê o endereço de casa ou do trabalho.
4. Teste o produto
Antes de finalizar o acordo, não se esqueça de experimentar, examinar e analisar bem o artigo. Isso evita deparar com defeitos logo ao chegar em casa.