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OLÁ,

Plataformas de contos eróticos em áudio conquistam público feminino

Empresas apostam em narrações cheias de detalhes, efeitos sonoros e até masturbação guiada (que é um sucesso)

Por Humberto Abdo
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h44 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
Três homens e uma mulher posam sentados, com roupas escuras, olhando para a câmera. Estão sérios
Fábio, Guilherme, Laís e Samuel (a partir da esq.): sextech de histórias eróticas (Vinicius Pimenta/Divulgação)
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Em um grupo virtual exclusivo para mulheres, os relatos e desabafos das mais de 170 000 integrantes inspiraram o negócio de Mariah Prado: um streaming de contos eróticos… Em áudio. “A dificuldade delas em ter prazer e chegar ao orgasmo era algo muito presente, seja pela falta de autoconhecimento, seja pela influência da pornografia”, pondera.

Desde dezembro do ano passado, ela tenta ajudá-las com a Share Your Sex, plataforma por assinatura com histórias narradas, masturbações guiadas e conteúdo voltado para o bem-estar sexual feminino, com direito a sonoplastia repleta de detalhes — de gemidos a lareira crepitando. “Temos vários modelos de roteiro gravados por atrizes e locutores, incluindo uma atriz que gosta de trabalhar no freestyle: a gente escolhe o tema, dá uma estrutura e ela cria tudo por conta dela.”

A novidade custa de 9,70 (para o plano semanal) a 117 reais (na versão anual) e conta com mais de 800 assinantes, que têm entre 18 e 34 anos. “Sempre tentamos apostar na diversidade, incluindo personagens heterossexuais, bissexuais, gordas, com deficiência…”, pontua Mariah. “Na hora de descrever posições, a gente escolhe as que são viáveis para a maioria e evitamos qualquer conteúdo que não seja saudável. Nunca teremos algo envolvendo traição, dizendo coisas como ‘que delícia transar com meu cunhado’.”

Mulher em um fundo de jardim está com um sobretudo cinza. Sorri para a câmera
Mariah, da Share Your Sex, lançou streaming de contos após acompanhar os dilemas sexuais das mulheres (Divulgação/Divulgação)

A regra é a mesma para a Tela Preta, outra dessas plataformas. Escritor de contos eróticos há dez anos, Fábio Chap começou a narrá-los pela rede social Snapchat com uma fita isolante grudada na câmera do celular. “O pessoal passou a cobrar ‘posta mais a tela preta’, e o público acabou nos dando esse nome”, relembra. Com mais três sócios, o formato segue o mesmo estilo do app de músicas Spotify e tem assinaturas que vão de 14,99 a 149,90 reais.

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“São mais de 200 áudios para gays, héteros, homens e mulheres de diferentes sotaques… Tudo sem descrição física, então qualquer pessoa que ouvir vai conseguir se identificar”, explica Samuel Aguiar, responsável pela programação. “Nosso trabalho também é abraçar os fetiches, mas temos alguns limites e não publicamos nada que possa gerar gatilhos ou sensações ruins”, diz Laís Conter, uma das sócias.

A escolha de lançar a plataforma durante a pandemia acabou ajudando o grupo. “Aceleramos os planos ao perceber a oportunidade. Com as pessoas em casa, bate a carência”, brinca Samuel. Com mais de 5 000 assinantes, 80% deles mulheres, a masturbação guiada é um dos sucessos. “Eu vejo essa categoria como uma porta de entrada para os contos eróticos”, opina o sócio Guilherme Nakata, que cuida das edições de áudio. “Nunca pensei em investir nesse ramo e minha cabeça ‘explodiu’, comecei a me interessar mais nos brinquedinhos e acho que a Tela Preta é um dicionário da putaria, porque você aprende a se expressar e se excitar”, analisa Guilherme, que acredita ter acumulado uma preciosa biblioteca de sons.

“Gravo barulhos com a boca, com o capô do carro e até peço às pessoas que me mandem gemidos”, diverte-se. “Produzo quase tudo porque acho mais legal do que pegar direto da internet. Tem contos mais poéticos que só exigem uma trilha de fundo e a voz na sua cabeça, enquanto outros têm ambientação, com a personagem chegando em casa em um dia de chuva, o som dela se secando no banheiro…” Para diversificar o repertório de vozes, eles planejam a segunda edição de um concurso batizado de Puta Voz.

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“Somos uma alternativa ao pornô visual e estimulamos um sentido pouco usado para o prazer.”

Samuel Aguiar, sócio da Tela Preta

“O motivo principal é conseguir vozes do Norte e do Nordeste, pois hoje só temos do Sul e do Sudeste”, conta Fábio. As duas marcas têm vários planos para os próximos meses. “Pensamos em fazer cursos, porque os que existem hoje são caros… Um curso de pompoarismo custa 800 reais, quem tem acesso a isso?”, diz Mariah, que já oferece um programa de isenção total a mulheres de baixa renda. “Elas podem entrar em contato e ganhar acesso gratuito ao conteúdo da Share Your Sex.”

Na Tela Preta, os áudios personalizados são uma novidade mais salgada. Por 597 reais, o cliente pode escolher os detalhes do enredo e até o narrador. No futuro, o único formato que eles prometem nunca explorar é o visual. “Não nos vemos no padrão dos filmes pornôs, que são uma indústria problemática, mas forte”, afirma Samuel. Outros produtos serão lançados ainda neste ano, incluindo áudios para dormir e um livro. “Queremos contos escritos de qualidade, porque os que existem hoje nos sites são cheios de erros de português…”, critica Laís. “Se eu tivesse de ler esses, acho que brocharia.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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