Todo mês, os clientes de Cintia Klein, 39, recebem em casa uma inusitada caixa-surpresa. Vibradores, algemas e óleos essenciais fazem parte da curadoria da V-LOV, criada após uma viagem à Alemanha. “Eu me demiti da empresa e fiz uma pesquisa pelas lojas e baladas eróticas de Berlim e Zurique”, relembra. De volta à capital paulista, ela criou o próprio negócio no modelo de assinaturas, mais conhecido pelos tradicionais clubes do livro. Flores, vinhos, sex toys, cosméticos, alimentos e até móveis compõem a lista de clubes hoje e conquistam cada vez mais novos assinantes — e novos empreendedores — no período de quarentena. “Agora tenho cerca de 180 assinaturas, mas cheguei a alcançar mais no início da pandemia. Eu achava que o público seria 100% feminino e vi que os homens são os mais interessados em assinar para melhorar a qualidade das relações sexuais.”
Na centenária loja de móveis de Fabio Riccó, 42, o novo ramo também nasceu durante a pandemia e foi batizado de Spaceflix, um serviço de aluguel de mesas, cadeiras e outras peças para casa. “Começamos a ter muitos pedidos do tipo para móveis corporativos e chegamos a alugar 2 800 estações de trabalho para o formato em home office”, conta Riccó. Outra vertente do negócio, os berços e produtos para quartos infantis também ganharam adeptos. “O que faço com o móvel se quiser ir embora da cidade ou me mudar para o interior? Não preciso levar, só alugo e devolvo. A ideia segue a mesma linha sustentável do Uber em vez de carro, aquele perfil de quem opta por ter liberdade e experiências.”
O portfólio da marca inclui peças suficientes para mobiliar a casa toda, com exceção de itens como colchão. Cadeiras custam a partir de 42 reais por mês, berços a partir de 90 e sofás a partir de 220. “Se estou mobiliando a casa e gasto 35 000 reais, posso pagar só 450 por mês e uso esse valor para consumir outras coisas. Nos Estados Unidos e na Índia, já existem empresas que fazem isso, seja pelo apelo sustentável, seja pela praticidade na hora de se mudar.”
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Segundo a Betalabs, especializada nesse formato de vendas, o primeiro trimestre de 2021 teve aumento de 32% no número de assinantes desse segmento em relação ao ano interior. “O setor que mais cresceu foi o de livros, além dos clubes de bebidas, incluindo as não alcoólicas”, explica Luan Gabellini, sócio-fundador da empresa. “É um presente que a pessoa quer se dar, talvez por não estar viajando e consumindo.” Para lançar um clube, ele recomenda investir em um nicho pouco explorado. “O mercado fitness e os alimentos básicos têm potencial, assim como os mercados que nunca foram digitalizados, como o agrícola.”
Nos clubes do livro, a concorrência ainda é grande. Além da veterana TAG Livros, a editora Intrínseca tem desde 2018 o Intrínsecos, que entrega todo mês um título inédito e exclusivo. “Tivemos 124% de aumento em assinaturas no último ano, um sinal de que as pessoas em casa passaram a gostar da ideia de receber uma dessas surpresas. Muita gente que não lia passou a ler”, observa a diretora de marketing Heloiza Daou. Outra mudança é o perfil. “No início eram os mais jovens, de 18 a 26 anos, agora temos pessoas de todas as idades.”
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Até o universo analógico parece ter espaço: são comuns os clubes de discos de vinil e aqueles dedicados à revelação de fotos. “Não é algo novo, mas a pandemia só acelerou esses projetos… E minha loja precisa estar no maior shopping do mundo: a internet”, reflete Karol Coutinho, 27, que criou a LingeBox com a amiga Karina Fiorotti, 27. Desde outubro, elas fazem a curadoria de peças de lingerie escolhidas de acordo com o perfil e o tamanho de cada cliente — que preenche um longo e detalhado questionário. A assinatura mensal custa 150 reais. “Uma das características do clube é a exclusividade, pois conseguimos fazer grandes compras com marcas pequenas”, pontua Karol. “A qualidade e a delicadeza das peças são importantes. Elas têm preferência pelo pretinho básico, mas se surpreendem ao receber uma cor diferente que nunca teriam comprado por conta própria”, acrescenta a “lingeriehunter” Karina.
E o público feminino também é forte nos clubes de cosméticos. “Em 2017, tínhamos 15 000 assinantes e agora alcançamos mais de 70 000”, comemora Paula Sampaio, 36, vice-presidente da B4A, marca que comanda o clube Glambox. A customização é um dos fatores que colaboraram para o sucesso. “Criamos uma inteligência artificial para entender os gostos da cliente, assim nenhuma delas vai receber uma caixa igual em casa.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 26 de maio de 2021, edição nº 2739