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Silvia Machete: “Há uma obsessão por juventude e sucessos imediatos”

A artista carioca fala à Vejinha sobre o seu novo disco, 'Invisible Woman' (2024), o segundo capítulo de uma trilogia com influências do jazz e do soul

Por Tomás Novaes
Atualizado em 13 jun 2024, 23h06 - Publicado em 13 jun 2024, 21h00
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  • Silvia Machete, 48, mergulha de vez no balanço do soul no seu mais novo disco, Invisible Woman (2024), cujo show de lançamento em São Paulo acontece nesta sexta (14).

    A cantora, compositora e performer carioca está em nova fase musical desde o álbum Rhonda (2020), que iniciou o que será uma trilogia de trabalhos em inglês, em parceria com o baixista Alberto Continentino e o produtor Lalo Brusco.

    O lançamento é o oitavo trabalho da carreira musical de Silvia, que começou sua trajetória artística como street performer na Europa e nos Estados Unidos. Seu primeiro disco, Bomb of love – Música safada para corações românticos, foi lançado em 2006, após voltar a morar no Rio de Janeiro.

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    A capa do disco ‘Invisible Woman’ (2024): excelência soul (Divulgação/Divulgação)

    Em 2019, a multiartista deixou a brisa carioca e se instalou em São Paulo. A mudança e a inspiração da nova cidade fez brotar o novo projeto, em uma outra língua, com uma outra sonoridade, mais ligada ao jazz e ao soul.

    No segundo capítulo dessa nova fase, o ótimo disco traz faixas mais dançantes, bem intercaladas com momentos mais lentos. Destaque para Bad ConnectionRoom ServiceSeptember.

    Ainda há uma gravação de Two Kites, de Tom Jobim (1927-1994), com participação da filha do compositor, Maria Luiza Jobim.

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    Os repertórios dos dois discos estarão misturados na noite de lançamento, que acontece no porão da Casa de Francisca, nesta sexta (14), a partir das 20h, em clima de festa. Confira a seguir a entrevista com a artista.

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    Foto de Gabriela Schmidt: direção criativa do disco é assinada por Marcelo Jarosz (Gabriela Schmidt/Divulgação)

    Como nasceu a ideia dessa trilogia de discos?

    Comecei a fazer sem a consciência de que isso realmente seria uma trilogia. Veio de um desejo de cantar outra sonoridade, mais próxima do que eu costumo ouvir, que é jazz, soul, músicas feitas em outra era… os anos 50, 60, 70, 80. Eu queria fazer um disco de jazz, mas não queria um álbum, vamos dizer assim, careta. Queria uma linguagem atual. Eu já tocava com o Alberto (Continentino) há muito tempo, e a gente sempre dividiu uma admiração por músicas dessas épocas que citei. Quando me mudei para São Paulo, veio essa novidade, de estar de volta em um lugar tão cosmopolita, tanto quanto Nova York, onde morei por muito tempo. E comecei a compor em inglês, afetada pela cidade, na sua forma de ser, o seu concreto, sua diversidade. Fiquei muito inspirada aqui. E, quando comecei, não parei mais. O negócio foi indo e o Alberto entendeu perfeitamente a minha proposta. Junto com ele veio o Lalo Brusco, o produtor do disco. Esses dois álbuns, Rhonda (2020) e Invisible Woman (2024), foram criados por nós três. Fora, claro, os talentosos músicos que gravaram.

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    “Me sinto invisível. Estou nessa há muitos anos, e não faço nenhum festival”

    Por que você decidiu se mudar para São Paulo?

    Sou carioca, e estava no Rio há bastante tempo, depois de voltar dos Estados Unidos e da Europa. Estava com uma vida bem acomodada, em um lugar lindo, com uma natureza esplêndida. Mas eu queria mais, queria participar de uma cidade com uma atividade cultural mais forte. Então finalmente tomei essa decisão e vim, e foi exatamente nesse momento que comecei a escrever as músicas para o Rhonda, em 2019.

    E qual a sua relação com São Paulo, hoje?

    Eu moro na Vila Anglo Brasileira, numa casinha bem paulista, em uma rua tranquila. O que mais gosto de São Paulo é que aqui tem todas as comidas do mundo. E acho que as pessoas são cordiais, educadas. Os serviços, o taxista — eu não dirijo, então ando de táxi para cima e para baixo , coisas da vida adulta que são muito mais práticas aqui do que no Rio. E tem a cultura do Sesc, o que é incrível, com milhões de exposições, é muita coisa. Para mim, São Paulo é uma cidade grande com problemas de cidade grande, mas também com benefícios de cidade grande, principalmente na cultura. O problema das cidades que não param de crescer, é, claro, esse surto de prédios. Fico triste vendo a quantidade de casas que estão sendo demolidas, é bem assustador.

    Percebi esse segundo disco mais colorido e dançante. Como você vê a diferença entre os dois álbuns?

    O Invisible Woman é mais feliz. Acho ele um passo mais pop do que o outro. Fiquei muito preocupada de fazer um disco não tão bom quanto o Rhonda, que eu amo. Mas acho que é um excelente disco, também. O primeiro era mais sombrio, e acho que agora essa mulher invisível está mais feliz, teve muito coração partido, mas ela volta com força total. No Rhonda, essa personagem, essa cigana, está ali entre o México e a Califórnia, e é uma mulher invisível. Ninguém sabe exatamente de onde ela vem, naquela fronteira. E este disco é uma homenagem às mulheres que não são vistas, que são ignoradas. Quis trazer isso à tona da minha forma, como música. E me coloco nisso, porque às vezes me sinto invisível. Estou nessa há muitos anos e não faço nenhum festival. Sou uma entertainer, faço shows que as pessoas não se esquecem jamais, e fico me perguntando onde estão essas pessoas que fazem as curadorias. O que falta? É uma crítica também a esse mercado competitivo, em que há uma obsessão por juventude e sucessos imediatos. Mas, enfim, vamos fazendo. Sou obcecada pela minha carreira, jamais faria outra coisa.

    Como funciona o seu processo de composição com o Alberto Continentino?

    Não sou musicista, toco violão para me acompanhar, quando estou compondo sozinha. Chamei o Alberto porque ele sabe o que eu quero cantar. E o que eu quero cantar não é fácil. Tive que estudar, porque não é uma coisa que estamos acostumados, da nossa música, do tropicalismo, da bossa nova. É mais complicado, o que não tem nada a ver com ser melhor. É mais difícil, mesmo. Quando passo para ele o que eu quero, preciso fazer quase um desenho, tenho que colorir isso, então às vezes mando uma referência, ou cantarolo. Mas sinto que existe uma mágica ali, entre nós. Uma facilidade em se entender.

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    Quais foram as suas influências para chegar nessa sonoridade do disco?

    Sou muito fã da Peggy Lee. Toda essa parte teatral das cantoras dessa época é uma inspiração grande para mim, que trabalho com teatro e ficção, também. Para mim, tem o disco e tem o palco, que sempre foi o meu assunto principal. E, com Rhonda e Invisible Woman, minha meta foi fazer grandes discos de música. Também amo a Joni Mitchell, tenho uma pegada folk, com meu violão. Funkadelic é uma referência também, e, claro, Diana Ross e Barbra Streisand.

    Quem foram os músicos que participaram do disco?

    Vitor Cabral, bateria, Alberto Continentino, baixo, João Oliveira, guitarra, Rodrigo Tavares, teclados, Jorge Continentino, sax, André Freitas, piano, e teve participação do João Erbetta, na guitarra, na música Salomé. São poucas pessoas, é que a galera toca muito mesmo.

    E o que podemos esperar da noite de lançamento nessa sexta (14), na Casa de Francisca?

    Vamos atacar pontualmente às 22h, terá discotecagem antes e depois do show. Nós preparamos um repertório dos dois discos e mais algumas surpresinhas, vamos ter participações especiais. E o clima é de festa no porão, com o palco no centro do teatro. O público fica em pé, é para dançar, acho que vai ser muito especial. Vai ser bem informal dessa vez, e estou animada, porque fica quente ali.

    Para fechar, você já tem ideias para o terceiro disco?

    Tenho algumas ideias de título… queria fazer um álbum chamado Bad Jazz Rhonda. Vai ser só essa revelação (risos).

    16 anos. Casa de Francisca. Rua Quintino Bocaiuva, 22, Sé, ☎ 3052-0547. ♿ Sex. (14), 20h. R$ 80,00. casadefrancisca.art.br.

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