O ano dos festivais: confira os maiores eventos de música de 2023 em São Paulo
Cidade receberá pelo menos dez grandes festivais, desde os tradicionais, como o Lollapalooza, até a novidade The Town, o “Rock in Rio paulistano”
Com o baque causado pela pandemia no mercado de festivais e shows ao vivo, era difícil dizer quando esse segmento voltaria a estar em alta.
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Depois de um ano de retomada em que pipocaram novos modelos de festividades, 2023 chega para sacramentar a virada com grandes apostas inéditas e outras já conhecidas, que prometem agitar a economia de São Paulo: só um dos eventos calcula movimentar mais de 1,7 bilhão de reais na cidade.
“Os festivais hoje se tornaram um gatilho de alavancagem de hospedagem muito grande — é um segmento que veio para ficar em São Paulo”, diz Carlos Bernardo, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de SP (ABIH-SP).
Nas próximas páginas, você poderá conferir detalhes e informações exclusivas sobre mais de dez festivais que irão marcar desde o apogeu da música eletrônica na cidade, com o retorno dos dois festivais mais conhecidos do mundo, até o fortalecimento do heavy metal no Brasil — isso sem falar na estreia do “Rock in Rio paulistano”, o The Town. Programe sua agenda (e seu bolso).
The Town
A maior estreia do ano em São Paulo tem nome, local e data marcada: The Town, Autódromo de Interlagos, dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro. Só não tem o line-up e o preço dos ingressos, ainda. Mas já podemos dizer que o evento, uma criação de Roberto Medina, criador do Rock in Rio, promete bastante.
“Eu sou o maluco que inventou essa encrenca toda” — é assim que o empresário carioca de 75 anos se apresenta, antes de explicar como o projeto saiu do papel. “Muitos governantes de São Paulo levantaram a possibilidade de levar o Rock in Rio para aí, mas eu nunca admiti essa ideia. No penúltimo Rock in Rio, o Bruno Covas (1980-2021) voltou nesse assunto. Ele pediu para eu pelo menos visitar a cidade. Então fui, mas não encontrei nenhum lugar adequado, além do autódromo. Só que precisavam acontecer grandes mudanças de infraestrutura”, conta Medina, elencando reformas como banheiros com ligação ao esgoto, iluminação adequada e tubulação subterrânea.
“Condicionei minha ida a São Paulo a essas melhorias. E, depois que o Covas me instigou, isso não saiu mais da minha cabeça”, explica. As reformas já estão confirmadas, e o projeto, que acontecerá a cada dois anos, alternando com o Rock in Rio, vai virar realidade.
Ao todo, a Cidade da Música — o nome de todo o complexo do evento — terá cinco palcos, roda-gigante, montanha-russa, megadrop, tirolesa, 235 horas de música e previsão para receber 500 000 pessoas. O investimento é de mais de 300 milhões de reais, com expectativa de movimentar mais de 1,7 bilhão de reais e gerar mais de 27 000 empregos. Tudo com o tema urbano, inspirado na história da capital paulista.
“Eu confesso que fiz alguns projetos diferentes, pensando em outros caminhos, mas um dia vi o que era óbvio: será uma homenagem a São Paulo. O que fiz foi dar luz à diversidade paulistana, como na São Paulo Square, que é o meu xodó, com arquitetura dos anos 50 e apresentação de big bands do jazz, com crooners famosos. O palco The One (acima), com projeto de street art. As zonas industriais, no palco Factory, e assim vai”, detalha Roberto.
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Outras apostas serão os momentos especiais do festival. A abertura será um tributo à edição de 1985 do Rock in Rio, com Ney Matogrosso entoando novamente a canção América do Sul, acompanhado por 100 000 pulseiras iluminadas — como aquelas dos shows da banda Coldplay — na plateia, disponibilizadas ao público na abertura dos portões.
Outra experiência será o The Town — O Musical, assinado por Zé Ricardo e Charles Möeller e exibido em um palco especial (abaixo), contando a história de superação de um músico do interior paulista que chega à capital.
Sobre a concorrência com o Lollapalooza, Medina não se abala. “Olha, não sou competidor do Lollapalooza e de nenhum festival do mundo. Em 99% dos festivais, o foco é o contrato com o artista e a venda de bilhetes. A origem do Rock in Rio, o evento, os impactos econômicos, a questão social, é tudo muito diferente em relação ao mundo. O Rock in Rio tem cinco vezes mais volume de patrocínio que o Coachella. A gente não compete”, afirma o empresário.
Ele também comenta sobre a dinâmica de acesso e trânsito dentro de Interlagos. “As dificuldades não são só do Lolla, na Fórmula 1 também acontecem filas, problemas. Peguei o trem para chegar lá e medi o tempo. Medi também os metros entre os palcos — as distâncias serão todas pequenas. Escolhi uma semana com feriado, em que teoricamente está com trânsito leve. Aqui no Rio, os ônibus entram dentro do evento — em São Paulo não vai ser diferente. Eu acho que a cidade vai ganhar um espaço bem profissional para esses eventos”, completa Medina.
“O The Town será o segundo maior evento não do Brasil, mas do mundo”, prenuncia.
Lollapalooza, Turá, GRLS! e Popload
A T4F — Time for Fun, uma das empresas mais tradicionais do mercado de entretenimento brasileiro, completará quarenta anos em 2023 realizando um punhado de festivais em São Paulo. O maior deles é o Lollapalooza Brasil, que chega à sua décima edição nos dias 24, 25 e 26 de março, levando ao Autódromo de Interlagos mais um line-up de peso: Drake, Billie Eilish, Blink-182, Rosalía, entre outros artistas nacionais e internacionais.
Quem lidera a frente de festivais da empresa é a paulistana Francesca Alterio — filha de Fernando Alterio, fundador e presidente da T4F. “Nós criamos a área de festivais em 2020, após adquirirmos o Popload Festival e termos realizado o GRLS!. Acredito que esta será uma edição histórica do Lolla, em poucas ocasiões eu vi um line-up tão forte globalmente quanto este”, conta Francesca, que hoje também é responsável pelo mais novo filho da empresa: o festival Turá, que estreou em julho de 2022, no Ibirapuera, com intuito de misturar gerações e gêneros da música brasileira — do rap ao samba.
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“Foi um ano de incertezas, um momento de reaquecer os motores. A primeira edição do Turá foi muito especial. Acredito que 2023 é um ano muito promissor, a demanda está aí. Nós vamos expandir o Turá, levá-lo para uma nova praça”, revela a empresária. “Nós vamos expandir o Popload Festival também, para duas novas praças. Ele vai crescer de tamanho e em número de dias.”
Mas ela confessa que o seu queridinho mesmo é o festival GRLS!, que acontece em 4 e 5 de março, no Centro Esportivo Tietê, e reúne somente atrações femininas com ingressos a 960 reais. “Ele carrega um posicionamento muito importante na indústria da música. Nós temos um carinho pelo projeto que levamos também para a empresa. Cerca de 60% da equipe T4F é formada por mulheres”, diz Francesca.
O ano também será decisivo para o grupo com a chegada do concorrente direto do Lollapalooza, o The Town, que acontece seis meses depois no mesmo local — e já está implementando reformas em Interlagos. Ela diz que não há contato direto entre as equipes. “Para o Lolla não terá nenhuma novidade que mude o seu funcionamento, por uma questão de timing mesmo. A gente sempre tentou colocar banheiro de água corrente, mas é um problema de infraestrutura. Fico feliz que essas conversas estão rolando e que pretendem melhorar o espaço, o público vai agradecer.”
Sobre a saturação do mercado de festivais, Francesca afirma que “é um movimento positivo” e que “existe público para tudo”, mas também que isso pode gerar complicações para a indústria. “Não necessariamente temos artistas suficientes para atender a oferta de festivais, o que, consequentemente, sobe o preço de contratação deles”, afirma.
Sobre os preços dos ingressos — no momento em que escrevemos esta matéria, o valor da inteira para os três dias do Lollapalooza está na casa dos 3 600 reais —, Francesca defende. “É muito caro colocar um evento de pé. Só no Lollapalooza são 12 000 pessoas trabalhando todos os dias. Pode parecer caro, mas quanto custa um ingresso do Harry Styles? Ou do Coldplay? E um festival, como o Lolla, em que você está vendo 75 bandas? Isso tem um custo muito grande”, afirma.
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Ultra Brasil
A edição brasileira de um dos festivais eletrônicos mais famosos do mundo, que reúne mais de 150 000 pessoas anualmente em Miami, nos EUA, está de volta em 2023. Após cinco edições nacionais entre 2008 e 2017, o Ultra Brasil acontece no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, em 21 e 22 de abril, com ingressos a 1 300 reais.
Por trás desse movimento está a empresa brasileira 30E (Thirty Entertainment), que já assinou eventos como a turnê de reencontro dos Titãs e o Mita Festival — outro festival pós-pandêmico que acontece novamente em 3 e 4 de junho e promete um line-up “extremamente forte”, adianta Gustavo Luveira, CMO da marca.
“Nosso time tem mais ou menos trinta pessoas, todas vindas do mercado de entretenimento e com o mesmo propósito de fazer algo diferente — atuando com festivais, grandes turnês e projetos especiais”, explica.
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Caio Jacob, sócio da 30E, conta os bastidores do retorno do festival eletrônico. “Por acaso, quando fomos desenhar o planejamento do ano passado, ventilamos sobre isso. Depois, também por acaso, eles chegaram até a gente, explicaram que tinham muito carinho pelo Brasil e que gostariam de fazer dar certo.”
Para os empresários, não poderia acontecer em outro lugar senão no Novo Anhangabaú. “É um lugar que foi renovado e que relembra o charme do centro de Miami, que também foi reformado em torno do Ultra”, comenta Caio.
Vintage is a Festival
O último ano culminou uma longa trajetória de sucesso internacional do DJ sul-mato-grossense Vintage Culture — nome artístico de Lukas Ruiz, 29 —, alcançando o line-up dos maiores festivais eletrônicos do mundo e o topo das paradas da house music.
Em 2023, ele lança o seu próprio evento itinerante, um festival de um homem só: atração única, doze horas de música, três palcos e estrutura grandiosa.
“Meu foco principal é trazer de volta minhas experiências fora do meu país e combiná-las em uma celebração. Era essencial para mim começar esta nova empreitada no Brasil”, diz o DJ, que levará a experiência para cinco capitais, São Paulo sendo a última, no dia 9 de dezembro, em local ainda não revelado.
“Quando comecei minha carreira, anos atrás, havia resistência aos artistas brasileiros na cena eletrônica. Mas, agora, as portas estão abertas para nós. Tenho orgulho de ter influenciado essa mudança”, diz Lukas.
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Monsters of Rock
Em suas seis edições em São Paulo entre 1994 e 2015, o Monsters of Rock — festival que nasceu em 1980, na Inglaterra — foi responsável por criar memórias inesquecíveis para roqueiros brasileiros. Por isso, seu retorno está sendo muito celebrado, ainda mais com um line-up nostálgico, com Kiss, Scorpions e Deep Purple liderando a escalação.
“O festival deveria ter acontecido em abril de 2021, mas, por conta da pandemia, tivemos que abortar totalmente o projeto. Em 2022, trouxemos o show adiado do Kiss, e, em uma conversa com o manager da banda, ele comentou que estavam planejando os últimos cinquenta shows do grupo. Propusemos imediatamente o retorno deles em 2023 para o festival, pois foram os primeiros a se apresentar em 1994 (abaixo)”, conta José Muniz, porta-voz da Mercury Concerts, responsável pelo evento marcado para 22 de abril, no Allianz Parque, com ingresso a 816 reais.
Sobre o festival voltar a acontecer anualmente, Muniz não garante. “Apesar de ser uma ideia tentadora, a obrigatoriedade da realização pode comprometer o resultado final e não é isso que queremos para os fãs. Penso no nosso festival como a sequência de um filme que fica anos aguardando o roteiro perfeito e aqueles protagonistas que fazem a diferença”, sintetiza
Summer Breeze
O Summer Breeze é um evento anual tradicional de heavy metal em Dinkelsbühl, na Alemanha. Em 2023, ocorre pela primeira vez no exterior, em São Paulo. “Cláudio Vicentim, sócio dessa edição brasileira e dono da revista Roadie Crew (portal de notícias sobre o universo do rock pesado), costuma viajar para festivais na Europa. Nos últimos quinze anos, desenvolveu uma amizade pessoal com o CEO do Summer Breeze e gerou um sonho de trazer o festival para o Brasil”, conta Bruno Gomes, diretor-executivo do evento.
O sonho, portanto, será realizado nos dias 29 e 30 de abril, no Memorial da América Latina, com bandas como Stone Temple Pilots e Sepultura entre os destaques de um elenco pensado para o público nacional.
O valor da inteira na pista será de 2 040 reais para os dois dias. “Uma das vantagens de trabalhar com o Summer Breeze é que não é uma franquia, é uma expansão. Foi redesenhado para o gosto do brasileiro. Na Alemanha, é muito mais focado no heavy metal. Aqui, trazemos diversas vertentes do rock — desde o clássico dos anos 60 até o mais moderno”, explica Bruno.
Shows avulsos em outros lugares da cidade, duas after parties na Audio e atrações especiais nos dias de festival, como centro de tatuagem, feira geek, espaço kids e pontos de culinária alemã, prometem uma experiência caprichada.
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Mundo Nômade
Festival que acontece anualmente em São Paulo desde 2018, o Nômade começa 2023 com novidades que fazem jus ao seu nome. Deixando de ser apenas um evento único — o Nômade Festival, que acontece neste ano pela primeira vez em dois dias, em 20 e 21 de maio, no Memorial da América Latina, com atrações como Alcione e Seu Jorge —, passa a ser uma plataforma: o Mundo Nômade, que abriga outros dois festivais itinerantes.
“Desde o começo já tivemos essa ideia do festival ser nômade, de ser um evento que pode viajar. Hoje temos a grande celebração que acontece uma vez ao ano, mas também os seus subprodutos”, diz Juliano Libman, um dos sócios da marca.
Os novos projetos são o Nômade Encontros, evento gratuito que acontece em locais abertos pelo Brasil, e o Nômade Apresenta, modelo que traz um headliner internacional ou um show inédito, e que acontece pela primeira vez em 22 de janeiro, também no Memorial, com nomes como Erykah Badu, Larissa Luz e Gilsons.
Esta é a segunda versão do line-up, que foi criticado pela falta de artistas negros. “A gente não tem problema nenhum em ouvir o público do Nômade, muito pelo contrário. Por isso, inclusive, tomamos a atitude de reformular. No nosso pensamento, estávamos trazendo artistas que já fizeram parte do nosso festival”, explica Luiz Restiffe, sócio-fundador.
Tomorrowland Brasil
O festival de música eletrônica mais famoso do mundo aconteceu duas vezes no Brasil, ambas em Itu, em 2015 e 2016.
“Nós precisamos encerrar nosso festival brasileiro em 2017 por conta da nossa parceira, a SFX Entertainment, que entrou em falência. Tivemos que esperar até os contratos terminarem para começarmos de novo. Nós sempre quisemos voltar, inclusive tivemos muitas reuniões em 2019, mas, por causa da pandemia, demorou mais do que esperávamos”, explica Debby Wilmsen, porta-voz da marca, que já adianta que o plano é fazer do Tomorrowland Brasil um evento anual.
Ele retorna de 12 a 14 de outubro na mesma sede: o Parque Maeda, a 100 quilômetros da capital paulista.
Para ficar de olho
Festivais confirmados, mas ainda sem informações:
Cena 2k23 ● Festival focado em nomes do rap e trap nacional e internacional
Primavera Sound ● Estreou em 2022, no Distrito Anhembi, trazendo artistas como Arctic Monkeys e Björk
Coala ● Dedicado à música nacional, teve sua maior edição em 2022
Publicado em VEJA São Paulo de 11 de janeiro de 2023, edição nº 2823
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