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Karol Conká: “Me fizeram acreditar que eu estaria morta este ano”

A cantora e ex-BBB conversou com a Vejinha sobre seu processo pós-reality, o novo álbum e os shows que fará

Por Tomás Novaes
28 abr 2022, 14h46
Imagem mostra mulher com desenho ao redor do olho esquerdo, olhando para a câmera. Uma luz amarela ilumina seu rosto.
Karol Conká. (Flora Somenzari/Divulgação)
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Karol Conká atendeu a ligação após alguns minutos de atraso – “a Karol, com esse negócio de maquiagem, às vezes demora”, explicou a assessora. Com aparência intocável e a voz um pouco rouca, antes de qualquer coisa, apresentou sua cachorrinha pela câmera do computador – o lulu-da-pomerânia Chantilly

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Enérgica e sorridente, a rapper curitibana estava visivelmente animada para falar do seu novíssimo disco, Urucum (2022), concebido após o furacão que se deu em sua vida com sua passagem pelo Big Brother Brasil 2021.

Nacionalmente cancelada há pouco mais de um ano, Karoline dos Santos de Oliveira, ou Mamacita, ou Jaque – ela detalha cada uma das “personas” abaixo – falou com a Vejinha sobre seu processo pós-BBB, o novo álbum, os shows e outras coisas mais. “Pena que eu estou com essa voz horrorosa, mas minha voz é mais bonita. Qualquer coisa me bota no paredão, disse para finalizar o papo. 

Quando você saiu do BBB, a ideia de fazer um disco veio como uma resposta natural ao que aconteceu? 

Foi um processo muito rápido. Eu escrevi esse álbum em duas semanas, então foi um processo terapêutico. Eu estava passando por uma turbulência, indo pra terapia pelas primeiras vezes – eu não tinha o costume de fazer terapia. As percepções que eu tinha na terapia, eu trazia aqui pro meu estúdio, para o processo criativo desse álbum. Uma delas é que eu aprendi que é natural do ser humano termos temperamentos diferentes para situações diferentes. E, nessa época, em 2021,  as pessoas brincavam muito nas redes nomeando esses meus temperamentos – era Jaque Patombá, Mamacita, Karol Conká, Karoline. Então eu peguei isso como uma referência, trabalhei cada pontinho, descobri nesse processo terapêutico que eu havia abandonado a Karoline, que é o meu temperamento mais centrado, mais calmo. Então eu trouxe esse meu lado da Karoline para cantar no álbum, e trouxe a Jaque Patombá, a Mamacita e a Karol Conká. Parece papo de maluco, mas foi muito legal esse processo assim pra mim porque eu fui me libertando. Eu fui dissolvendo o meu remorso, minha culpa, meu autojulgamento, e fiz as pazes com a vulnerabilidade.

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Você comentou sobre as suas personas – quem são elas?

A Karoline é o início de tudo, né? É a essência do que as pessoas me conhecem. Então é a persona que deu voz às outras. É a mais calma, centrada, é o incenso, os meus cristais. A Karol Conká já é um outro lado meu que é festivo, alegria, autoestima, cores, intensidade. A Mamacita é a organizadora, centralizadora, ela gosta de organizar e fazer com que as coisas estejam no lugar. E a Jaque Patombá é a minha animosidade em descontrole, um desequilíbrio emocional que hoje eu trato, e hoje entendo que é natural ser humano.  Todos nós temos isso e é importante para todo mundo reconhecer suas personas, assim como eu fiz, porque foi um exercício maravilhoso. Eu entendi que eu não preciso exterminar a Jaque Patombá, eu não tenho que odiar esse meu outro lado que explodiu

“Eu entendi que eu não preciso exterminar a Jaque Patombá, eu não tenho que odiar esse meu outro lado que explodiu”

Com o álbum novo, Urucum, o que você procurou manifestar sobre o cancelamento?

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Esse álbum é um convite para as pessoas pararem para refletir sobre quem elas são, o que  sentem e sobre o quanto a gente se enxerga no outro e às vezes não quer admitir isso. No final das contas, todos nós temos emoções, todos nós aprendemos de alguma forma diferente do outro a como lidar com eles, e eu quis trazer isso pro álbum, essa intensidade, essas quatro intensidades de temperamento de personas que eu tenho. 

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Seu primeiro lançamento após o reality foi o single Dilúvio, que pareceu ser um embrião mais triste do que viria a ser Urucum. Onde essa faixa, que não está no disco, entra no seu processo pós-BBB?

Essa música eu havia escrito antes de entrar no reality e também é uma música que soa premonitória. Estava assim guardadinha porque é muito triste, eu escrevi chorando, sofrendo por causa da pandemia. Então eu fiz a música mais pra botar pra fora um sentimento, eu não tinha a intenção de lançá-la, porque não queria passar aquela tristeza pras pessoas. Nessa  época, estava rolando um ódio muito grande no país todo contra mim, então eu achei que seria melhor e mais respeitoso com o público não chegar fingindo que estava tudo bem, alegria, porque eu estava muito triste de perceber tudo que eu tinha causado. Então essa música era como se ela estivesse “limpando” – eu gosto de ser transparente real com o que eu estou sentindo, e naquele momento eu sentia muita dor, tristeza e uma vontade forte de me apegar a minha fé. Surpreendentemente ela acabou viralizando na época, as pessoas se identificaram também com a fase da pandemia, com o que aconteceu comigo, com o que aconteceu com elas, e muitas passaram a refletir sobre o ódio que elas tinham lançado sobre mim, assim como eu refleti sobre o ódio que eu carreguei dentro de mim dentro do reality. Essa música está num espaço muito delicado, especial, por isso ela não entrou no Urucum: ela é a parte do mergulho na dor, e o álbum já é a representação da cura. 

Esse trabalho tem mais semelhanças com seu disco de estreia, Batuk Freak (2013), do que com o antecessor, Ambulante (2018). Como você enxerga esse paralelo?

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É algo muito natural, desde o início da minha carreira, eu sempre gostei de elementos brasileiros, afro. A minha avó é baiana, então quando eu fiz o Batuque Freak, eu comentei isso com o produtor, do quanto eu gostava também de Timbalada, Olodum, Nação Zumbi – essas foram as diferenças que eu apresentei pro Nave, na época. Para produzir Urucum com o (produtor) RDD, como ele já é baiano, foi natural que esses elementos estivessem presentes ali. É algo que eu buscava há muitos anos na minha vida, essa coisa mais genuína de alguém da Bahia produzir algo dessa mesma vibe do Batuque Freak, que eu amo. Foi além do que eu esperava. Por ser uma mulher preta, e o RDD preto também, é natural que a nossa música tenha esses elementos que estão aí na na música popular brasileira.

Você comentou recentemente no seu Instagram como o RDD te ajudou pessoalmente no processo de criação do álbum. Qual a importância dessa relação com ele?

A relação pessoal é o mais importante pra mim, pra fazer a produção de uma música, de um trabalho, e o RDD é fantástico, porque eu estava muito triste e ele vinha aqui me resgatar, sabe? Talvez em outra situação, outra pessoa não teria a paciência de me ver triste, quase definhando todo dia, e não teria essa sensibilidade como ele teve, de falar coisas como “Eu estou aqui com você, as suas músicas podem te libertar, você não precisa afundar sua cabeça no erro, você é muito mais do que isso”. Ouvir do produtor, que tem a conexão musical comigo, foi muito especial, eu até me arrepio de falar. Foi ali que eu falei “O que eu to fazendo comigo? Eu to me apedrejando muito mais que os meus haters”.

Os seus últimos shows, antes da pandemia, aconteceram em um mundo completamente diferente – para você, em todos os sentidos. Como vem sendo a recepção do público nesses novos shows? 

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É maravilhosa. É calorosa. E eu fico sempre muito emocionada, sempre me sentindo cada vez mais humana. Eu lido com uma questão de ansiedade há muitos anos na minha vida, é muito ruim esse excesso de futuro que fica na cabeça. Tenho transtorno obsessivo compulsivo – e eu tenho tratado isso, e assim eu consigo entender melhor várias situações. Hoje eu consigo subir no palco e até segurar o choro pra não ficar tão emocionada de me sentir grata por poder estar lá de novo, porque os ataques que eu sofri no ano passado me fizeram acreditar que eu ia estar morta esse ano. Então toda vez que eu chego no palco eu falo “Que bom, estou viva”. Eu estou aqui pra mostrar pra todo mundo também que qualquer tombo que a gente sofra na vida é para trazer aprendizado, não é para a gente se vitimizar ou simplesmente abandonar tudo. A gente tem que pegar força do buraco mesmo. Pessoas me pedem desculpa diariamente, ou no inbox ou ao vivo, porque elas se sentem arrependidas de terem feito comentários muito maldosos que iam além do meu comportamento dentro do reality, onde eu sofria uma pressão. E eu super entendo essas pessoas, porque assim como eu fiz coisas que me arrependo, essas pessoas também. 

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Em questão de shows, você se sente boicotada por festivais, casas etc.?

Eu acho que deve rolar um certo receio, um medo dos contratantes em me chamar. Ou alguns ficaram com uma péssima impressão, de falar “não quero”, de pegar uma “preguiça” – e eu acho que isso é um processo natural, eu não tenho muito o que reclamar, eu só agradeço os contratantes que estão chamando meu trabalho, que acreditam na minha arte. Eu estou há muitos anos aí, eu sou uma artista de festival, eu sempre me considerei assim porque eu amo estar no palco, lidar com multidões, e eu acho que a cultura brasileira perde muito com essa coisa de ficar alimentando ódio, hate, todo mundo perde com isso. Mas eu entendo todo esse processo e estou a disposição sempre para subir em todos os palcos. Não tenho do que reclamar, só agradecer o que chega até mim.

Já faz mais de um ano desde que você saiu do reality. Não tem um lado seu que já quer virar a página e lançar trabalhos que não tenham a ver com o cancelamento?

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Eu não me sinto pressionada a falar do reality ou a não falar, eu sigo muito tranquila. Pelo caos que foi gerado, eu acho que é até minha obrigação falar com as pessoas, mas de uma forma tranquila – eu acho que as pessoas estão no direito delas de ficar sabendo, já que eu entrei na casa de milhares de brasileiros “causando”. As pessoas ainda querem uma resposta. Mas eu já estou virando essa página, no sentido de falar de outras coisas. Eu não me deixo sentir pressionada quanto a isso, o processo de cura ele realmente existe e não é uma coisa rápida.

Urucum é a sua volta por cima? Você se sente aliviada?

Eu me sinto renovada, é uma renovação. As minhas amigas brincam me chamando de “fênix”. Mas essa situação não me torna mais especial que ninguém – porque eu passei pela maior história de cancelamento no país e sobrevivi. É uma questão que todo mundo tem, todo ser humano tem essa capacidade. O que falta é a gente ter essa disposição de entender os fragmentos, sentir a dor. A mesma coragem que eu tive pra embarcar numa aventura sem saber o que ia ser eu tenho que ter coragem para também embarcar na aventura do autoconhecimento e da cura sem saber o que vai ser. Esse álbum, esse momento que eu estou vivendo me traz essa sensação realmente de renascimento, renovação e eu trago isso não somente pra arte, mas pro meu dia a dia. Esses dias eu botei minha própria música pra ouvir – o que é muito difícil. Eu botei “Calma” e fiquei me ouvindo. Tava me começando a dar um stress, uma vontade de chorar – era a Jaque vindo. Falei “Jaque, vai ouvir a Karoline”. Então esses exercícios têm sido muito divertidos pra mim pra minha equipe, e isso traz muito equilíbrio. É muito legal esse momento de transparência, lucidez, despida de ego. Então hoje eu sigo mais nessa linha de pensamento, que é o que me traz benefício próprio e também pras pessoas que estão ao meu redor.

 +Assine a Vejinha a partir de 12,90.

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