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Conheça os bastidores da última turnê de Gilberto Gil, ‘Tempo Rei’

Dos telões às caixas de som, veja quem são as pessoas que fazem acontecer o espetáculo que chega a São Paulo nesta sexta-feira (11)

Por Tomás Novaes
Atualizado em 11 abr 2025, 15h15 - Publicado em 11 abr 2025, 10h13
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Gilberto Gil, 82: despedida dos palcos (PridiaBR/30e/Divulgação)
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A última chance de ver Gilberto Gil em um palco para grande público. Como criar um show à altura deste acontecimento?

Com realização da produtora 30e em parceria com a Gege Produções, Tempo Rei, a turnê final do artista baiano, aos 82 anos, aterrissa em São Paulo nesta sexta-feira (11) e sábado (12) e segue nos dias 25 e 26, no Allianz Parque — restam poucos ingressos, apenas para o dia 25.

A seguir, a Vejinha traz todos os detalhes sobre esse momento histórico, com os profissionais que fazem o espetáculo acontecer.

Gilberto Gil Tempo Rei
Momentos do show: espiral de LED paira sobre o palco e dialoga com os telões (Pedro Garavaglia/Veja SP)

De cara, uma estrutura no palco chama atenção: uma enorme espiral de LED paira sobre os músicos. A ideia partiu da talentosa Daniela Thomas, que assina a cenografia.

“Não sou esotérica, pelo contrário, mas, na minha interpretação visual, o Gil é o encontro de dois vórtex: um que vai para o centro da Terra e outro que segue até o fim do cosmos. Ele está ali, recebendo essas influências e produzindo um manancial de belezas, em poesia e música”, define ela, que entrou no projeto a convite do diretor artístico Rafael Dragaud.

Gilberto Gil Tempo Rei
Registro da música ‘Expresso 2222’: espetáculo visual (Pedro Garavaglia/Veja SP)
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“O vórtex (ou redemoinho) é a alma do nosso show, uma tradução muito feliz de um tempo não linear, que mistura cosmogonias de toda natureza: católica, indígena, africana — o Gil dialoga com todas”, explica Rafael, que começou a pensar a turnê há um ano, após um chamado da empresária e esposa do músico, Flora Gil.

“Tivemos tempo para trabalhar, e isso é muito raro. Da imensidão de possibilidades, tive um insight que me levou a uma única ideia: pensei, estruturalmente, na narrativa da escola de samba. O que não poderia faltar em um enredo sobre Gil?”, completa o diretor, sobre o processo criativo.

Toda essa concepção pensada por Daniela e Rafael ganha forma nos telões e LEDs pelo trabalho do estúdio de criação Radiográfico, com uma equipe liderada pela dupla de designers cariocas Olivia Ferreira e Pedro Garavaglia.

Gilberto Gil Tempo Rei
Olivia e Pedro, do estúdio Radiográfico: criadores do conteúdo visual exibido no show (Roberto Setton/Veja SP)

O duo está acostumado a grandes desafios — a partir de 2005, após se destacarem com trabalhos na cena teatral do Rio de Janeiro e criarem cenários para programas da TV Globo, como Esquenta!, foram escalados para fazer o design visual da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016.

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“A Olivia e o Pedro têm uma sinergia de como eu vejo as coisas, são as pessoas mais deliciosas de trabalhar e os maiores parceiros de design que eu já tive”, comenta Daniela Thomas, uma das diretoras artísticas da abertura olímpica, que repete a parceria com o estúdio em Tempo Rei.

A criação visual com o Radiográfico começou antes dos ensaios da banda, ainda em outubro. “O diálogo visual busca potencializar a música do Gil, e não competir. É um trabalho muito artesanal, com uma operação dramatúrgica, no sentido de que cada canção é uma criação: são duas horas e meia de conteúdo sem imagens genéricas nem loopings”, detalha Olivia.

Entre as imagens, alguns conteúdos inéditos: em Vamos Fugir, fotos da viagem de Gil e Flora para a Jamaica em 1984, e, em Drão, vídeos de Gil e Sandra Gadelha, sua ex-esposa (cujo fim de casamento inspirou a música), com a família.

“Usamos o conceito de canções visuais, nessa ideia do show como um grande longa-metragem feito de diversos curtas a cada música”, comenta Pedro.

O espetáculo une etapas supertecnológicas com toques manuais: diferente da maioria dos megashows de hoje, a turnê não funciona com timecode — isto é, a marcação de tempo que sincroniza os músicos com os conteúdos audiovisuais —, o que deixa alguns detalhes para a operação durante cada apresentação.

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Todas as fases de Gil aparecem no repertório de quase trinta músicas, com homenagens ao reggae e à tropicália e referência à ditadura militar, em Cálice.

As telas brilham aos olhos, mas outro aspecto do espetáculo é ainda mais importante: o áudio. É aí que entra Daniel Carvalho, o engenheiro de som da turnê, responsável não só pela operação, mas também pelo desenho dos sistemas sonoros em todas as arenas e pela gravação dos shows.

O engenheiro de som Daniel Carvalho: na operação e no desenho de sistemas
O engenheiro de som Daniel Carvalho: na operação e no desenho de sistemas (Pedro Garavaglia/Veja SP)

Vencedor de oito estatuetas do Grammy Latino, Daniel começou sua trajetória como assistente do produtor Tom Capone (1966-2004) no AR Studios, no Rio. Depois, gravou e mixou discos importantes como a trilogia (2006), Zii & Zie (2009) e Abraçaço (2012), de Caetano Veloso, além de fazer o som de grandes turnês, como Portas, de Marisa Monte.

O chamado para integrar o time de Tempo Rei veio de Bem Gil (diretor musical do show, ao lado de José Gil, seu irmão), semanas antes da estreia em Salvador, no dia 15 de março.

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“O Gustavo Mendes faz a mixagem, e a minha responsabilidade é fazer com que ela seja escutada por todos no estádio e que o Gil não esteja desconfortável. É uma engenharia muito delicada — se você errar um pouco o ângulo de uma caixa, 3 000 pessoas podem ficar sem escutar direito”, explica Daniel, que, em 2019, foi estudar desenho de sistemas com o especialista Bob McCarthy, em Nova York.

“É o estudo de quantas caixas são necessárias para distribuir o som. Uma área que está tendo mais visibilidade no Brasil agora, com artistas nacionais fazendo produções que antes só eram vistas em bandas internacionais”, afirma.

O trabalho de som ocupa uma posição delicada: quanto melhor o resultado, menos notado é. “A minha função é permitir ao artista criar sem barreiras técnicas. Vejo às vezes as pessoas acharem que o som não é tão importante, e, na verdade, é o contrário: o único fator que faz o público pedir seu dinheiro de volta é se o som estiver ruim. É o pré-requisito para tudo acontecer”, diz Daniel.

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A multidão na Arena Fonte Nova, em Salvador: show para grandes públicos (PridiaBR/30e/Divulgação)

São centenas de profissionais que, por trás do pano, trabalham para que um espetáculo musical e visual como Tempo Rei emocione o público.

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E todo o equipamento e o pessoal envolvidos nesta turnê mostram que, quando se fala de infraestrutura para eventos de música ao vivo, o Brasil está na primeira prateleira mundial. “Estamos muito avançados nas questões técnicas desse nível de produção. Fora as placas de LED, que não são feitas no Brasil, todo o resto foi produzido aqui, por pessoas e empresas locais”, conta Daniela.

E toda essa complexidade logística e tecnológica serve a um propósito simples (e imenso): celebrar a vida e obra de Gilberto Gil, sem clima de adeus.

Como resume o diretor artístico Rafael Dragaud: “Queria que esse show não tivesse cara de despedida, porque isso não combina com a visão cíclica de tempo do Gil. O fim também é um nascimento — ‘Morre, nasce, trigo / Vive, morre, pão’ (versos de Drão). Para mim, a última turnê tinha que ser o show com mais cara de alvorada”. ■

Allianz Parque. Avenida Francisco Matarazzo, 1705, Água Branca. Sex. (11 e 25) e sáb. (12 e 26), 20h. R$ 230,00 a R$ 530,00. 16 anos. eventim.com.br.

Publicado em VEJA São Paulo de 31 de janeiro de 2025, edição nº 2929

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